Nos últimos meses, a evolução da taxa Euribor voltou a centrar atenções, sobretudo devido ao seu impacto no custo do crédito habitação e, consequentemente, no orçamento das famílias. Isto porque a Euribor é um dos dois componentes que definem a taxa de juro da maior parte dos empréstimos da casa em Portugal, e iniciou, este ano, uma trajetória de aumentos.
A perspetiva é que esta subida gradual continue nos próximos tempos, pelo que importa compreender de que forma influencia a prestação mensal do crédito e o que significam os seus prazos.
Afinal, o que é a Euribor?
A Euribor é uma taxa de referência baseada na média dos juros praticados por um conjunto de bancos da Zona Euro nos empréstimos que fazem entre si, no que chamamos de mercado interbancário, em determinado prazo.
É essa mesma taxa que define, em conjunto com o spread, a taxa de juro nos créditos habitação com taxa de juro variável, pelo que a sua evolução tem uma influência direta na prestação mensal que pagamos ao banco pelo empréstimo da casa.
Em resumo, a taxa de juro – mais concretamente a TAN (Taxa Anual Nominal) - resulta da soma da Euribor com o spread, que não é mais do que a margem cobrada pelos bancos, e que varia em função do perfil do cliente, características do financiamento e das garantias do empréstimo.
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O significado dos prazos da Euribor
Existem, atualmente, taxas Euribor para cinco maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses), calculadas com base na média dos empréstimos interbancários com os mesmos prazos. Estas taxas são calculadas e publicadas uma vez por dia, às 11h (CET), 10h de Lisboa.
Nos contratos de crédito habitação, os prazos mais usuais são os de 3, 6 e 12 meses, sendo que a escolha, entre eles, influencia o valor mensal da prestação. Isto porque o prazo define, no fundo, o ritmo de atualização da taxa de juro do empréstimo.
Ter um crédito habitação indexado à Euribor a 3 meses significa que o seu banco só pode rever o valor dessa taxa de 3 em 3 meses. Com a Euribor a 6 meses, a revisão será semestral e, com a Euribor a 12 meses, a atualização acontecerá apenas uma vez por ano. Em todos os casos, o valor da Euribor utilizado para a prestação que irá vigorar nos 3, 6 ou 12 meses seguintes é calculado com base na média aritmética simples do mês anterior.
Por exemplo, todos os contratos que se iniciem em setembro, ou que tenham a sua revisão regular em setembro, utilizam o valor médio das cotações de agosto.
Na prática, o prazo da Euribor define – juntamente com o spread - o valor da TAN (já que a cada prazo corresponde uma cotação diferente), assim como o ritmo de atualização da prestação mensal.
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Posso escolher o prazo da Euribor?
A escolha da taxa Euribor indexada ao crédito habitação é feita pelo cliente, assim como a opção por taxa variável, taxa mista ou taxa fixa.
É fundamental avaliar as várias possibilidades e escolher a que melhor se adequa ao seu caso, tendo em conta as perspetivas para a evolução deste indexante. Em terreno negativo desde 2015, as taxas Euribor têm subido desde fevereiro, antecipando o expectável aperto das condições monetárias por parte do Banco Central Europeu (BCE), nomeadamente através do aumento dos juros de referência para a região.
Nesta altura, as taxas Euribor a 3, 6 e 12 meses já estão em terreno positivo e a expectativa é que continuem a aumentar. No entanto, é importante sublinhar que a subida dos juros por parte do BCE deverá ser feita de forma gradual, não sendo de esperar subidas bruscas no preço do dinheiro.
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3, 6 ou 12 meses: o que é melhor para mim?
Se vai contratar um crédito habitação, ou renegociar as condições do seu crédito, deve ponderar a escolha da Euribor tendo em consideração que os prazos mais curtos (3 e 6 meses) têm valores mais baixos, mas também respondem mais rapidamente às oscilações (seja descida ou subida). No contexto atual, em que a tendência é de aumento, o valor da prestação mensal deverá crescer, nesse cenário, a cada 3 ou 6 meses.
A Euribor a 12 meses garante, pelo contrário, maior estabilidade dos custos, sendo, por outro lado, mais elevada. Ou seja, neste prazo, paga-se uma espécie de prémio pela estabilidade do preço.
Imaginemos um cenário em que contrata um crédito ou a sua taxa é revista em determinado mês, numa altura em que a Euribor está num pico máximo. Se tiver optado pelo prazo a 3 meses, beneficiará mais rapidamente das descidas, enquanto se tiver optado pelo prazo de 12 meses, terá de esperar um ano para sentir o efeito do alívio. O mesmo se aplica no cenário inverso, em que contrata um crédito numa altura em que as taxas Euribor estão em mínimos. Num prazo mais curto, sentirá mais rapidamente os aumentos, mas de forma mais progressiva, enquanto num prazo mais longo, beneficiará por mais tempo dos juros baixos. Contudo, quando sentir o aumento será menos progressivo.
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Diferentes prazos: qual o impacto na prestação mensal?
Olhemos para um exemplo concreto de um crédito habitação de 200 mil euros, com um spread de 1,2% e um prazo de 25 anos (300 prestações mensais), para analisar o que aconteceu nas várias maturidades, durante o último ano.
Considerando a Euribor a 3 meses, a prestação mensal estava em 723,10 euros em agosto do ano passado, desceu para 722,92 euros em novembro, e novamente para os 719,73 euros em fevereiro deste ano. Em maio, aumentou para 727,18 euros e, em agosto, para 749,16 euros.
O mesmo empréstimo, mas indexado à Euribor a 6 meses, custava 725,57 euros por mês em agosto de 2021, 722,97 euros em fevereiro deste ano, tendo aumentado para 784,48 neste mês de agosto.
No prazo mais longo, a 12 meses, a prestação mensal passou de 728,31 euros em agosto de 2021 para 847,75 euros em agosto de 2022. Ou seja, em um ano, o encargo mensal aumentou em 119,44 euros.
Euribor a 3 meses | Euribor a 6 meses | Euribor a 12 meses | |
Agosto de 2021 | 723,10€ | 725,57€ | 728,31€ |
Setembro de 2021 | 723,10€ | 725,57€ | 728,31€ |
Outubro de 2021 | 723,10€ | 725,57€ | 728,31€ |
Novembro de 2021 | 722,92€ | 725,57€ | 728,31€ |
Dezembro de 2021 | 722,92€ | 725,57€ | 728,31€ |
Janeiro de 2022 | 722,92€ | 725,57€ | 728,31€ |
Fevereiro de 2022 | 719,73€ | 722,97€ | 728,31€ |
Março de 2022 | 719,73€ | 722,97€ | 728,31€ |
Abril de 2022 | 719,73€ | 722,97€ | 728,31€ |
Maio de 2022 | 727,18€ | 722,97€ | 728,31€ |
Junho de 2022 | 727,18€ | 722,97€ | 728,31€ |
Julho de 2022 | 727,18€ | 722,97€ | 728,31€ |
Agosto de 2022 | 749,16€ | 784,48€ | 847,75€ |
Na tabela acima conclui-se que quem tem um crédito indexado à Euribor a 12 meses sentiu apenas um aumento, mas foi o mais expressivo, tendo sido logo de quase 120 euros. Já um contrato nas condições acima descritas indexado a uma Euribor a seis meses sentiu duas oscilações no espaço de um ano (uma descida e uma subida) estando cerca de 58 euros mais caro do que no ano passado. E isto porquê? Porque, tal como explicámos anteriormente, a Euribor a 12 meses antecipa mais depressa as subidas e as descidas, e, estando num ciclo de aumentos de juros esta é a taxa que mais sobe.
Mas não se esqueça que em ciclos de descidas de juros acontece o mesmo. A Euribor a 12 meses antecipa mais depressa o ciclo. Ainda que, por regra, esta taxa seja mais elevada do que os restantes prazos.
Para que possa avaliar o seu caso, recorra ao simulador da variação da Euribor no crédito habitação, onde pode ensaiar possíveis aumentos da Euribor e que impacto terão no seu crédito, em cada um dos prazos.
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Euribor: o que preferem os portugueses?
Dados do Banco de Portugal mostram que, em dezembro, 40,5% dos contratos de crédito com taxa variável estavam indexados à Euribor a 6 meses – a maior fatia – enquanto a Euribor a 12 meses correspondia a 28,1%, e a Euribor a 3 meses a 30%.
No entanto, olhando apenas para os novos contratos celebrados no ano passado, a Euribor a 12 meses foi dominante, tendo representado 66,3% dos novos créditos para a compra de casa. Pouco mais de 3 em cada 10 (32,5%) foram fechados com a Euribor a 6 meses e apenas 0,2% com a Euribor a 3 meses.
Já o spread médio dos novos contratos de crédito à habitação indexados à Euribor a 3, 6 e 12 meses foi de 1,14 pontos percentuais, o que compara com 1,19 pontos percentuais em 2020.
Não há "a melhor taxa" para todos os casos. Depende do que procura, se mais estabilidade ou menos. Antes de avançar com um crédito habitação, faça contas, simule a sua situação e tenha em consideração que uma Euribor a 3 meses reflete constantemente a evolução dos juros - seja para subidas ou descidas - e que quanto mais longo é o prazo menos progressivas e mais espaçadas serão as alterações.
O mesmo se aplica à decisão sobre que tipo de taxa contratar: fixa ou variável. Com a Euribor a subir, muitas famílias ponderam optar por uma taxa mista, outras analisam a taxa fixa. E ninguém conseguirá prever qual a melhor solução. O melhor é avaliar o seu caso em particular e perceber o que se adapta melhor ao seu caso.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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