Claro que sim. Volto a este assunto porque o Banco de Portugal acaba de anunciar que quase 1% dos portugueses (0,81%) amortizaram em maio, total ou parcialmente, o seu crédito à habitação. É um valor que tem vindo a subir e que revela bem que milhares de clientes bancários perceberam que esse é o caminho inteligente para gerir as suas finanças pessoais.
Ter um crédito, seja ele qual for, é a forma mais eficaz de se “desaumentar” todos os meses e ao longo de muitos anos. Pelo contrário, ter um crédito - e o mais longo possível - é a forma mais eficaz de os bancos ganharem dinheiro consigo. É tão simples perceber isto que até faz confusão como é que tantos portugueses insistem em comprar coisas a crédito (claro que o caso do crédito à habitação é diferente).
Naturalmente, só deve amortizar o seu crédito à habitação se já tiver um fundo de emergência bem composto, nenhum outro crédito (auto, pessoal, etc.) e não fique "descalço" em relação aos seus outros objetivos.
Este ano é o exemplo perfeito de um bom momento para amortizar. Aproveite o facto de estar suspensa em 2023 a "multa" de 0,5% por amortização antecipada e a Euribor estar historicamente alta e ainda com perspetiva de subir.
Estou a amortizar todos os meses o máximo que consigo e que fui acumulando ao longo dos últimos sete anos de Euribor negativa. Nunca paguei tão pouco de crédito à habitação como nestes anos mais recentes e - obviamente - percebi que isso não ia durar para sempre. Investi esse dinheiro o melhor que pude e sabia e agora, à medida que vou resgatando esses investimentos, vou amortizando.
Numa crónica anterior já lhe expliquei o “truque” para avaliar - quando tem algumas poupanças - se deve amortizar ou investir.
No meu caso, estou a pagar na prestação deste mês 3,672% líquidos. A maior parte de vocês deve estar a pagar 4 ou 5% de juros do crédito à habitação. Confirme o seu caso.
Ou seja, teria de ter um investimento que me rendesse 5,1% brutos (a que teria de retirar os 28% de taxa liberatória para o Estado) para IGUALAR o que estou a ganhar por amortizar o meu CH. E já nem falo na poupança no seguro de vida, que também baixa de acordo com o valor em dívida.
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Os portugueses estão a perceber a vantagem de amortizar
Não sou o único a perceber isto. Como lhe expliquei no início, os reembolsos antecipados de empréstimos para habitação própria e permanente aumentaram em maio para 0,81% do total deste tipo de crédito, face aos 0,67% de abril, divulgou o Banco de Portugal. Este valor está a subir desde setembro do ano passado.
Estou a amortizar valores relativamente baixos todos os meses. Não é nenhuma fortuna. Mas vejo reflexos disso nas minhas prestações.
Os bancos não querem que amortize
Agora vou alertá-lo para uma novidade que está a surgir em alguns bancos e que deve ter em atenção. Já fui contactado duas vezes pela CGD a aliciar-me para um depósito a prazo a 3% de juros, DESDE que não amortize o meu crédito à habitação enquanto lá tiver o depósito. Se amortizar, perco os juros do depósito a prazo. Estão a ver o filme?
Obviamente a proposta deles não tem nada de ilegal ou imoral. Só aceita quem quer. Mas o que eu lhes disse é que planeio amortizar o máximo que puder este ano. Vou poupar muito mais do que com um juro de 3% brutos.
Propuseram-me também uma taxa fixa a 2 anos de 3,75%, DESDE que não amortize o meu crédito à habitação. E depois regresso ao spread que tenho agora de 0,3%. No seu caso pode interessar-lhe, mas eu - como estive atento ao que estava a acontecer - estou disposto a pagar agora uma prestação muito mais alta e depois aproveitar a (eventual) descida da Euribor daqui a 6 ou 7 meses em vez de ficar a pagar uma taxa "altíssima" durante 2 anos completos quando a Euribor talvez desça para 2,5% por exemplo. Nada me garante que isso vai acontecer, mas vou arriscar.
Porque é que posso arriscar não passar a taxa mista? Porque tenho as minhas contas em ordem, não tenho desperdícios no meu orçamento familiar, consegui já renegociar 3 vezes o meu seguro de vida (sempre para melhor e mais barato) e tive a sorte de ter um spread muito baixo e de o conseguir manter, não caindo nas "armadilhas" dos bancos para eu desistir dela.
Em resumo, se tem dinheiro disponível e que não lhe faça falta, amortize, amortize, amortize o seu crédito à habitação. Parcial ou totalmente. Pense pela sua cabeça, faça contas e decida. Lembre-se sempre que amortizar é a última coisa que os bancos querem que você faça. Porque será?
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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