Durante anos, a taxa de juro variável dominou o crédito habitação. De acordo com os dados disponíveis no Banco de Portugal, entre dezembro de 2018 e setembro de 2023, esta taxa foi sempre a mais escolhida nas novas operações de crédito. No entanto, em outubro desse ano, o cenário mudou e a taxa mista começou a dominar a preferência.
Curiosamente, esse foi o mês em que a Euribor atingiu a média mensal mais alta dos últimos anos, tanto a seis meses (4,115%) como a 12 meses (4,160%).
De lá para cá, os juros começaram baixar e, no final de 2024, estavam em níveis semelhantes aos do final de 2022. Será que é altura de voltar à taxa variável? Quais as melhores soluções para o crédito habitação em 2025?
BCE pode continuar a cortar nos juros em 2025
Em julho de 2022, o Banco Central Europeu (BCE) começou a subir as taxas de juro de referência. A taxa de depósitos, por exemplo, foi dos -0,50% até ao pico de 4%, em setembro de 2023. Só em junho de 2024 é que voltou a haver um corte, ao qual se seguiram mais três até ao final do ano.
No último comunicado sobre decisões de política monetária, o BCE anunciou que ia cortar em mais 25 pontos base as taxas diretoras. Os especialistas acreditam que o caminho descendente pode continuar em 2025, embora o banco central não se comprometa com valores.
"As decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro basear-se-ão na sua avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária. O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica", dizia o Banco Central Europeu no mesmo comunicado.
Leia ainda: O que podemos esperar das taxas de juro em 2025?
Euribor a voltar aos níveis do final de 2022... e pode descer mais
No final de 2024, a Euribor já tinha voltado a rondar valores semelhantes aos que apresentava no final de 2022. Se olharmos para o indexante a seis meses, a média mensal em dezembro de 2022 era de 2,567%. Já em dezembro de 2024 fixou-se nos 2,63%.
Esta descida da Euribor reflete-se até na evolução da taxa variável nas novas operações de crédito habitação. Embora não tenha voltado aos valores que apresentava até setembro de 2023, começou a subir de novo (ainda que ligeiramente) em setembro de 2024.
À data em que escrevemos este artigo, os futuros da Euribor apontam para que a taxa continue a descer em 2025. Em junho, poderá rondar os 2,24% e, no final do ano, os 2,16%. Claro que nada disto é certo, uma vez que a realidade pode mudar a qualquer momento devido a eventos económicos, políticos ou às decisões que o BCE tomar sobre a política monetária.
Ainda assim, é legítimo questionar que soluções existem para o crédito habitação em 2025. Voltar à taxa variável ou preferir a taxa mista com taxas fixas de curto prazo?
Leia ainda: Prestações do crédito habitação voltam aos níveis de 2022
Soluções para o crédito habitação em 2025
Para perceber o que pode ser mais vantajoso em cada caso, o melhor é olhar para os números e para o que os bancos estão a oferecer. As taxas fixas de curto prazo (usadas nos créditos a taxa mista) praticadas por seis bancos portugueses situam-se, atualmente, entre os 2,5% e os 3%.
Por outro lado, quem quer avançar já para uma taxa variável deve olhar para as duas componentes que a formam: a Euribor e o spread.
Em relação à Euribor a seis meses, tem andado na casa dos 2,6% em janeiro de 2025 (até à data em que escrevemos o artigo). Já o indexante a 12 meses tem rondando os 2,5%. No entanto, tanto uma como a outra podem sofrer oscilações (não fossem elas taxas variáveis).
Embora não haja previsões para a Euribor a 12 meses, a taxa a seis meses pode terminar 2025 nos 2,16%, como vimos acima.
Em relação ao spread, as ofertas atuais de 11 instituições de crédito situam-se entre os 0,5% e os 1,49%. No entanto, o spread de 0,5% só é válido durante os primeiros três anos do contrato. Depois disso, passa para 0,7%, o spread praticado pela maioria dos bancos, atualmente. Por fim há quem proponha um spread de 0,6% se o prazo de pagamento não superar os 30 anos.
Assim, vamos a alguma simulações. Para isso, vamos usar como referência um empréstimo de 200 mil euros a pagar em 30 anos. Em todas elas vamos usar a melhor oferta disponível no mercado. Ou seja, o crédito com taxa mista será calculado com um juro de 2,5%. Já nos exemplos de taxa variável vamos usar o spread de 0,5%.
Taxa mista com taxa fixa de dois anos
Neste caso, a prestação mensal de um empréstimo com as característica descritas acima é de 790,24 euros.
Euribor a seis meses
A Euribor a seis meses ronda, neste momento, 2,6%. Somando o spread de 0,5%, ficamos com uma Taxa Anual Nominal (TAN) de 3,1%. Neste caso, a prestação será de 854,03 euros.
E no final do ano, qual será a prestação se as projeções para a Euribor se cumprirem? Neste momento, os futuros apontam para uma taxa de 2,16% em dezembro de 2025. Se as ofertas de spread se mantiverem, é possível conseguir uma TAN de 2,66%, baixando a prestação para 806,98 euros.
Ainda assim, acima da prestação que se consegue com taxa mista.
Euribor a 12 meses
Por fim, vamos calcular a prestação de taxa variável com Euribor a 12 meses, que tem andado nos 2,5%. Aqui ficamos com uma TAN de 3% e uma prestação de 843,21 euros.
Pode calcular a sua prestação com a ajuda da Calculadora de Prestação de Crédito Habitação.
A melhor opção agora pode não o ser aqui a um ano
Independentemente das condições que conseguir negociar neste momento, lembre-se de que o cenário pode mudar e que, no futuro, pode haver melhor opções. Usando os exemplos acima, a prestação com taxa mista continua a ser mais baixa do que com taxa variável.
No entanto, a Euribor pode descer mais do que aquilo que se prevê ao dia de hoje e tornar-se uma opção mais vantajosa. Se assim for, pode sempre negociar o seu crédito e procurar a melhor solução no momento.
A melhor opção agora pode não o ser daqui a um ano. Se precisar de ajuda para encontrar o melhor crédito habitação para si, fale com um dos especialistas do Doutor Finanças.
Leia ainda: Que condições posso renegociar no crédito habitação?
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário