A subida recente dos indexantes que servem de referência ao cálculo das prestações de um crédito habitação em Portugal (as taxas Euribor) tem servido de manchetes e notícias diárias nos mais diversos órgãos de comunicação social.
Aproveito para recordar o leitor de um artigo que aqui escrevi, no Doutor Finanças, intitulado Crédito habitação: prepare-se para a subida dos juros. Este artigo é de julho de 2021, quando a Euribor a 3 meses estava em -0,55%!
O cenário atual é bem diferente. No entanto, não foi por falta de alertas. Mas agora, importa fazer algumas contas. Por exemplo, perceber qual o impacto da subida dos indexantes num pedido de crédito habitação.
Quanto é que a Euribor subiu?
A taxa Euribor, que serve de referência aos contratos de crédito habitação em Portugal, no prazo de 12 meses, subiu mais de 3 pontos percentuais em menos de dois anos. De um valor negativo de -0,55%, no início de 2020, para 2,63% em outubro do presente ano, o ritmo de subida acentuou-se, sobretudo, já no corrente ano de 2022.
Inevitavelmente, esta subida assinalável nos indexantes provoca maior dificuldade e constrangimentos a uma família portuguesa que recorra a um crédito habitação para aquisição de uma casa.
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Qual o peso na prestação?
As dificuldades para uma família portuguesa não se cingem, naturalmente, à aquisição de casa por via de um crédito que hoje é mais caro. Para aqueles que já têm crédito habitação, o aumento dos indexantes provoca, obviamente, um aumento da prestação mensal, gerando maiores dificuldades ao nível da gestão do orçamento familiar.
Veja-se o seguinte exemplo: um crédito habitação a 30 anos, de 120.000 euros, indexado à Euribor a 12 meses, com um spread de 1,25%. A diferença no valor da prestação, de janeiro de 2021 para outubro de 2022, é assinalável: 192,82 euros! Este diferencial corresponde a um aumento de 52% no valor da prestação mensal:
jan/21 | out/22 | Diferencial | |
Empréstimo | 120.000€ | 120.000€ | |
Taxa de juro | 0,74% | 3,88% | |
Euribor 12m | -0,51% | 2,63% | |
Spread | 1,25% | 1,25% | |
Prazo | 360 | 360 | |
Prestação | 371,80€ | 564,63€ | 192,82€ |
A diferença é de tal forma significativa que só o montante de juros agora pago é superior à prestação que se pagava em janeiro de 2021.
Coloca-se então a questão: qual o valor máximo que uma família pode agora pedir de crédito para conseguir manter a mesma prestação que tinha em janeiro de 2021?
Contas feitas, o montante máximo seria de 79.019 euros. Estamos a falar de uma diferença de 34% no montante de crédito. Isso exigirá um valor superior a entregar de entrada – algo que muitas famílias não têm – ou um valor inferior a pagar pela casa (ou uma conjugação de ambos).
Bons negócios (imobiliários)!
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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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