2022 está a ser marcado pela subida da Euribor e da inflação. Perante o aumento inevitável das prestações de crédito habitação e do custo de vida, muitos portugueses têm dúvidas sobre o que devem fazer ao seu dinheiro. Assim, vale a pena manter o dinheiro num depósito a prazo ou é preferível amortizar o crédito habitação?
A resposta depende dos seus objetivos. Mas se pretende aumentar o seu poder de compra perante uma inflação que ronda os 9% (de acordo com a taxa de variação homóloga do índice harmonizado de preços do consumidor), a redução da sua prestação de crédito pode ser a melhor solução para as suas finanças pessoais.
Caso esteja dividido entre estas duas opções, de seguida, explicamos os prós e contras com que se pode deparar .
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A subida da Euribor e o aumento da inflação em Portugal
Antes de 2021 chegar ao fim, já se contava com uma subida dos juros devido ao aumento significativo da inflação. No entanto, com a invasão da Rússia à Ucrânia no final de fevereiro, cresceu a expetativa de que mais dia, menos dia, o BCE, Banco Central Europeu, subisse os juros. E mesmo antes do BCE efetivar esta subida, este contexto levou a uma subida progressiva das taxas Euribor em todos os prazos.
Mas em julho deste ano, a confirmação da subida dos juros acabou por chegar e até por surpreender. Pela primeira vez em mais de 10 anos, o Banco Central Europeu subiu as taxas de juro diretoras, terminando o ciclo dos juros negativos na Zona Euro. Este aumento das taxas de juro em 0,5% por parte do BCE acabou por surpreender, pois apontava-se um aumento ligeiramente superior a 0,25%.
Por trás desta subida dos juros está uma tentativa de controlar a inflação na Zona Euro. Se olharmos para Portugal, de acordo com os dados publicados pela OCDE e pelo INE partilhados pelo Banco de Portugal, em julho de 2021 a taxa de inflação estava 1,5%. Contudo, 11 meses mais tarde, Portugal regista, em junho de 2022, uma taxa de inflação de 8,7%.
Como consequência destas subidas, o custo de vida em Portugal está cada vez mais elevado. E perante este cenário, os portugueses começam a perder o seu poder de compra. Afinal, o preço da energia subiu, os combustíveis e a alimentação também, e com as prestações de crédito habitação a ficarem mais caras é preciso tomar medidas para evitar o risco de endividamento.
Tenho uma poupança. Vale a pena mantê-la num depósito a prazo?
Por mais baixa que seja a rentabilidade de um depósito a prazo, entre ter o seu dinheiro parado numa conta à ordem e um depósito a prazo, a melhor solução é aplicar o seu dinheiro num instrumento de poupança ou investimento seguro. Afinal, quando o dinheiro está parado, ele não só desvaloriza, como pode diminuir. É preciso ter em conta que a maioria das entidades bancárias cobra comissões mensais e anuais.
Mas, isto não significa que manter o dinheiro de uma poupança num depósito a prazo seja a melhor solução. Tendo em conta o valor da inflação, por melhor que seja o depósito a prazo, as suas poupanças vão perder valor. Afinal, se a inflação está em 8,7% e a taxa média de um depósito a prazo ronda os 0%, o dinheiro das suas poupanças irá apenas desvalorizar.
Embora esteja previsto um aumento da taxa aplicada aos depósitos a prazo este ano, num cenário ideal, em 2023 esta poderá chegar a 1%. E para o seu dinheiro não desvalorizar, precisava que nessa altura a inflação estivesse num valor minimamente idêntico.
Assim, nestas situações, até pode deixar o seu fundo de emergência num depósito a prazo. No entanto, se tem outro montante em poupanças além do seu fundo de emergência, é aconselhável pensar em outras soluções para rentabilizar o seu dinheiro ou aumentar o seu poder de compra. Tudo depende dos seus objetivos.
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Devo amortizar o meu crédito habitação com a subida da Euribor?
Amortizar o crédito habitação pode ser vantajoso se pretender aumentar o seu poder de compra. E porque é que a amortização do seu crédito influência o seu poder de compra? Porque permiti-lhe uma redução de encargos mensais. Logo, sobra-lhe mais dinheiro no seu orçamento familiar, que consequentemente gera um aumento no poder de compra da sua família.
Para ter uma ideia, se tiver uma poupança de 10.000 euros e decidir usar esse valor para amortizar o seu crédito habitação, o impacto nas suas contas mensais pode ser considerável.
Vamos supor que o seu crédito habitação tem 100.000 euros de capital em divida. Se tiver uma TAN de 1,5 e faltarem 300 prestações de crédito (25 anos), a sua prestação mensal de crédito encontra-se atualmente em 399,94 euros.
Se pegar no dinheiro das suas poupanças e amortizar o seu crédito com 10.000 euros, ficará com uma prestação mensal de 359,94 euros. Se tiver um crédito indexado à Euribor, vai continuar sujeito às suas flutuações, no entanto, o encargo mensal com o seu crédito será menor do que se não tivesse amortizado esse valor.
Noutro cenário, imagine que tem uma poupança de 20.000 euros e um crédito habitação com um capital em dívida de 150.000 euros. Caso faltem 360 prestações e tenha uma TAN de 2%, teria uma prestação mensal de 554,43€. Mas com a amortização de 20.000 euros, a sua prestação mensal desceria 13,33%, ficando assim em 480,51 euros.
Nota: Atenção que, por norma, os bancos cobram uma comissão pelo reembolso antecipado ou seja, pela amortização parcial ou total de um crédito. No entanto, no crédito habitação, esta comissão não pode ser superior a 0,5% do capital reembolsado nos contratos com taxa de juro variável. Já nos contratos associados a uma taxa fixa, o limite da comissão é de 2% do capital reembolsado. Olhe para o seu contrato de crédito habitação e verifique qual a comissão acordada em caso de reembolso antecipado.
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Com a subida dos juros é possível poupar ao transferir o meu crédito habitação?
Na maioria dos casos, há a possibilidade de poupar no seu crédito habitação quando o transfere para outra instituição financeira. E isto mesmo com a subida da Euribor. Mas claro que este não é um dado garantido. Se já estiver a beneficiar de um spread muito baixo ou quando os seus seguros de vida e multirriscos têm um valor inferior a maioria das ofertas no mercado, pode ser difícil encontrar uma proposta melhor.
No entanto, regra geral, a transferência do crédito habitação permite-lhe obter melhores condições de financiamento. Afinal, hoje em dias há bancos a praticar spreads de 0,85%. Mas mesmo que não consiga o menor spread do mercado, a maioria dos bancos estão a praticar spreads que rondam 1%.
Além disso, ao transferir o seu crédito habitação para outra entidade poderá alterar as condições contratuais do seu financiamento. Por exemplo, se quiser optar por um novo contrato com um prazo de maturidade menor ou maior, saiba que é possível.
E o mesmo se aplica à alteração do regime de juros. Ou seja, se pretender alterar de uma taxa variável para uma fixa ou taxa mista ou vice-versa. Tenha em conta é que a sua prestação mensal poderá subir perante esta alteração, dado que a taxa fixa tende a ser mais elevada do que uma taxa variável. Pelo menos no início do contrato.
Outra das vantagens de transferir o seu crédito habitação é ter a oportunidade de contratar o seguro de vida do crédito habitação ou o seguro multirriscos numa nova entidade. Muitos portugueses acabam por contratar estes dois seguros junto da entidade que concede o crédito habitação. Em troca, a entidade baixa o spread associado ao financiamento. Mas esta bonificação nem sempre compensa. Por vezes, contratar estes seguros junto de outra entidade permite uma poupança de dezenas ou até centenas de euros.
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Atenção a potenciais encargos com a transferência do seu crédito
Antes de transferir o seu crédito para outra entidade, tenha atenção, pois podem existir encargos associados. Embora muitos bancos suportem os custos com a transferência e de uma nova escritura, há entidades que não estão dispostas a cobrir estas despesas. Nestas situações precisa de fazer contas e ver se a transferência compensa a longo prazo.
Mas se analisar inúmeras propostas de crédito e comprar custos, comissões e taxas não é para si, saiba que um intermediário de crédito pode ser uma ajuda preciosa neste processo.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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2 comentários em “Subida da Euribor: Dinheiro no banco ou amortizar o crédito habitação?”