Ao fim de 2 anos de um ciclo de subida e manutenção de taxas de juro num nível elevado, o BCE decidiu que era a altura para começar a normalizar a política monetária na Zona Euro. Sendo esta uma medida esperada por todos, importa perceber as justificações que estão por trás desta decisão.
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Taxa de inflação controlada
A subida de taxa de juro foi o antídoto encontrado para fazer face à escalada da inflação na Zona Euro. O descontrolo da inflação tem consequências muito negativas para os cidadãos. Como sabemos, a inflação é a subida generalizada dos preços dos bens e serviços. Quando esta se descontrola, o custo de vida aumenta.
Por este motivo, quando a subida generalizada dos preços dos bens e serviços fica fora de controlo das autoridades monetárias, referimo-nos à inflação como um imposto adicional para a população.
O contexto Covid e a forma como se combateu os constantes confinamentos, fez com que este fenómeno tivesse sido potenciado. À política expansionista por parte das autoridades, juntou-se maior poder de compra das populações (devido aos confinamentos) e, em consequência, uma maior procura de bens e serviços no pós-Covid.
Por outro lado, com o mundo a parar em muitos países, as empresas reduziram a produção de bens. Desta forma, não só a população tinha mais poder de compra, como a procura foi muito superior à oferta. Como consequência, a inflação disparou.
Estes últimos dois anos foram marcados pela tentativa por parte das autoridades monetárias em fazerem regressar a inflação aos níveis habituais. Depois de analisar a evolução e os dados que tem ao seu dispor, o BCE tomou a decisão de reduzir a taxa de juro, invertendo a política monetária. A inflação está a caminhar para os níveis pretendidos (2%), mas ainda é necessário ter algumas cautelas e cuidados. Assim, o BCE irá gerir a possibilidade de novas reduções na taxa de juro, sabendo que este é um passo que alivia e muito os cidadãos.
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2 anos com maiores dificuldades
Se a inflação elevada é um imposto adicional para os cidadãos, as taxas de juro elevadas acabam por ter, igualmente, um efeito negativo na vida das populações. Se analisarmos o contexto português de uma forma especifica, percebemos que as taxas de juro elevadas têm um enorme impacto. Porquê?
Culturalmente somos um povo que compra um imóvel para residir, em detrimento de arrendar casa e poder ir mudando de habitação de uma forma mais frequente. Complementarmente, grande parte das compras de casas em Portugal é concretizada com recurso a crédito a habitação. Adicionalmente, a larga maioria da população que tem crédito habitação opta pelo regime de taxa variável.
Estes três pontos são uma parte importante do motivo pelo qual grande parte da nossa população teve de se adaptar às novas circunstâncias e viver com mais dificuldades. Não só tivemos o efeito da inflação nos preços dos bens e serviços como o custo da nossa dívida disparou. Portugal não é a exceção na União Europeia, onde existem outros países com características similares.
O BCE com todos os dados à sua disposição, também deverá ter a mesma perceção. Em termos concretos, esta descida da taxa de juro por parte do BCE não irá ter um enorme impacto no nosso dia a dia, mas poderá ser o início de um alívio gradual que nos permitirá (enquanto país) voltar a ter algum desafogo e margem em termos financeiros.
Relaxar, mas não esquecer
Este alívio que iremos começar a sentir e que ainda deverá ser superior no futuro, dá-nos mais tranquilidade para o nosso dia a dia. Contudo, é fundamental não esquecer o difícil período que atravessámos e que nos criou muitas dificuldades financeiras. Desta forma, é imperioso que consigamos manter os pés no chão e que não voltemos ao consumo desmesurado.
Com a tendência de normalização das taxas de juro, deveremos ter a preocupação de criar um fundo de emergência para fazer face a situações como esta que sucedeu nestes últimos dois anos.
Se é verdade que ainda não tínhamos experienciado um período de inflação muito elevada no século XX, a realidade é que esta experiência deve-nos alertar para imponderáveis que podem surgir no caminho. As dificuldades que temos vindo a sentir devem ficar bem presentes na nossa memória, de forma a termos a capacidade de as ultrapassar de outra forma se voltarem a suceder. Isto denomina-se de experiência ou vivências que nos permitem ultrapassar obstáculos, mas com uma aprendizagem por trás.
Todos sabemos a importância que a parte financeira tem nas nossas vidas. Como em tudo, é fundamental encontrar um equilíbrio que nos permita estar confortáveis em cada momento, adverso ou positivo. A receita é viver dentro das nossas possibilidades e com os pés bem assentes no chão.
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
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