Incutir bons hábitos de consumo nas crianças é fundamental. Afinal, se ajudar o seu filho a ter bons hábitos de consumo desde tenra idade, provavelmente, ele chegará à adolescência a gerir melhor o seu dinheiro e tomará decisões financeiras de forma mais consciente.
No Portal do Consumidor, há uma referência sobre a importância do papel dos pais em determinadas faixas etárias, e como este papel influencia a aprendizagem sobre hábitos de consumo e a tomada de decisões das crianças e jovens.
"Se até aos 7 anos os comportamentos parentais e a consulta do grupo de amigos têm um peso predominante, a partir dos 9-10 anos a criança ganha um conhecimento elementar dos processos do mercado", pode ler-se no Portal do Consumidor. Contudo, o portal indica que na adolescência, a influência dos pais nas decisões de consumo dos filhos, diminui.
Mas como é que os pais podem passar bons hábitos de consumo aos filhos? Encontre a resposta a esta pergunta nas próximas 11 dicas.
1 - Antes de ensinar bons hábitos de consumo fale sobre dinheiro
Muitos pais evitam falar de dinheiro com as crianças por parecer um tema precoce para a idade. Mas, segundo vários especialistas na área financeira, os pais devem começar a falar de dinheiro com os seus filhos entre os 2 e os 3 anos de idade. Claro que pode parecer cedo à primeira vista. No entanto, a partir dos 3 anos de idade, as crianças começam a desenvolver o seu próprio processo de seleção de consumo.
O que é que isto significa? Que as crianças entre os 2 e os 3 anos, começam a demonstrar o seu poder de escolha para satisfazer os seus desejos. E como é que os pais podem perceber esta alteração comportamental? Através dos pedidos de produtos, brinquedos, e até bens alimentares, como doces, sumos, etc.
E esta é uma ótima fase para introduzir pequenos conceitos de literacia financeira infantil. Por exemplo, de uma forma muito simples, mostre o valor do dinheiro, explicando que este é limitado. Não se esqueça de explicar como é que se ganha dinheiro e porque é que não deve ser desperdiçado. Apresente as moedas e as notas, e fale com naturalidade sobre o processo de compra.
Lembre-se que este é um processo de aprendizagem. Logo, a informação deve ser transmitida por fases e com exemplos práticos. Conforme a idade vai avançando, deve introduzir novos conceitos e exemplos, e incentivar a criança a colocá-los em prática.
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2 - Explique a diferença entre bens necessários e secundários
Entre os 3 e os 4 anos, é normal a criança participar, cada vez mais, no processo de seleção de consumo. Afinal, ela já tem as suas próprias preferências. No entanto, nesta fase, os pedidos começam a aumentar. E por isso, os pais têm a oportunidade perfeita para passar bons hábitos de consumo.
Um dos pilares dos bons hábitos de consumo é saber diferenciar bens necessários de secundários. No fundo, existem bens essenciais que são realmente necessários adquirir. Estas compras estão ligadas à própria subsistência. Já os bens secundários, até podem ser necessários, mas não essenciais à subsistência.
Além disso, a compra de bens secundários pode estar associada a desejos, caprichos ou luxos. E quanto mais rápido o seu filho souber distinguir uma compra essencial de um capricho, mais rapidamente irá criar bons hábitos de consumo.
3 - Compras não prioritárias requerem olhar para um orçamento
Embora o conceito de orçamento nem sempre seja fácil de entender, assim que ele domine os conceitos básicos, mostre-lhe como é feita a gestão de um orçamento familiar. Claro que não precisa de mostrar uma folha de cálculo com os seus rendimentos e despesas. O ideal é simplificar este conceito com pequenos valores.
Vamos imaginar um orçamento de 20 euros. Se o total dos rendimentos forem estes 20 euros, mostre-lhe que este valor deve ser aplicado em compras essenciais, como a sua alimentação, produtos de higiene ou para a escola. Caso sobre algum dinheiro, então ele poderá gastar este montante em algo que deseja, como por exemplo, um brinquedo ou doces.
Contudo, é preciso ter atenção a este ensinamento. Lembre-se que um orçamento é composto por várias despesas e deve reservar um montante para criar uma poupança. Mas, numa primeira fase, talvez seja mais simples, explicar com este tipo de exemplos, introduzindo o conceito de poupar posteriormente.
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4 - Não se esqueça que o seu filho não sabe o que é caro e barato
Enquanto adultos, a diferença entre uma compra cara e barata é óbvia. Mas para as crianças, até que lhes expliquem o conceito de preço, nem sempre é fácil fazer esta distinção. Logo, é importante dar exemplos, e mostrar que nem todas as compras são possíveis de realizar de imediato.
Pode usar exemplos com brinquedos de valor simbólico e brinquedos mais caros, como uma consola de videojogos. Também pode usar exemplos práticos com coisas que tem em sua casa.
O objetivo desta distinção é que o seu filho perceba que as compras mais caras não podem ser feitas sem refletir. É preciso criar uma estratégia de poupança. E esta é uma ótima forma de introduzir esta temática.
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5 - Ensine o seu filho a poupar para alcançar os objetivos
O conceito de poupança não é difícil de ensinar a uma criança. No entanto, nem sempre é fácil a sua aceitação. Por exemplo, é normal que o seu filho se sinta frustrado quando não pode ter aquilo que quer.
Mas para que ele desenvolva bons hábitos de consumo, precisa de entender que alcançar os objetivos requer determinação. E por isso, o ideal é que demonstre que a poupança é a solução para ele conseguir adquirir o que deseja.
Pode começar por oferecer um mealheiro ao seu filho. Depois explique-lhe que para ele conseguir comprar o que quer, precisa de colocar frequentemente dinheiro no mealheiro. Assim, sempre que ele tiver dinheiro na sua posse, deve ser incentivado a colocar algum de parte. Contudo, deixe que seja ele a fazer esta gestão. Só assim irá incutir boas práticas de poupança.
6 - Para criar bons hábitos de consumo, incentive-o a comparar preços
Não é novidade que o mesmo produto pode ser encontrado a preços diferentes em várias lojas. E esta é uma realidade que o seu filho deve conhecer para criar bons hábitos de consumo. Afinal, procurar e comparar preços permite fazer compras conscientes pelo melhor preço.
E este tipo de atividade não precisa de ser uma tarefa chata. Caso o seu filho queira comprar algo, sente-se com ele, e façam um jogo para descobrir onde é que esse produto está à venda pelo menor preço. Assim, ele aprende de uma forma divertida que esse item está à venda com preços diferentes e deve encontrar onde comprar mais barato. Faça esta atividade com algumas compras para que ele desenvolva este hábito.
7 - Leve o seu filho a aplicar os conhecimentos que adquiriu
Depois da teoria, é hora do seu filho colocar em prática o que aprendeu. Este é um passo muito importante na hora de aprender bons hábitos de consumo. E isto porquê? Porque ao responsabilizá-lo por todo o processo, o seu filho aperfeiçoa a capacidade de tomar decisões.
Mas como é que o seu filho pode implementar muitos destes conhecimentos? Através de algumas atividades do quotidiano, como por exemplo ir consigo ao supermercado. Pode atribuir-lhe as seguintes tarefas:
- Incentive o seu filho a ver na dispensa o que falta. Depois, em conjunto, façam uma lista do que devem comprar no supermercado.
- Se tiver alguns catálogos de supermercados em casa, vejam em conjunto o que está em promoção e se vale a pena comprar produtos noutro supermercado.
- Na hora das compras, encarregue o seu filho de ir buscar alguns dos produtos da lista. Deixe que ele escolha os produtos e verifique se ele está a comparar os preços ou a seguir outros ensinamentos que transmitiu.
8 - Quer criar bons hábitos de consumo no seu filho? Permita o erro
Se durante a experiência o seu filho errar, permita-lhe esse erro. O objetivo não é o seu filho entender todos os conceitos à primeira, nem nunca falhar ao longo do processo de aprendizagem. Na verdade, o erro permite abordar as consequências de tomar más decisões. E muitas vezes, lidar com as consequências dos erros acelera a aprendizagem e cria novas perspetivas.
Caso o seu filho escolha um produto mais caro que saia do orçamento, explique que se o dinheiro estivesse contado, não iam conseguir pagar a conta. Como consequência, esse produto teria de ficar no supermercado. Mas pode mostrar-lhe um cenário mais grave.
Por exemplo, imagine que iam ao supermercado comprar apenas bens essenciais para o mês, como carne, fruta e legumes. Se o seu filho não seguir a lista e decidir comprar um brinquedo, no final do mês pode não ter o que comer. Perante este cenário, deve questioná-lo se a sua decisão foi a correta.
Assim, é fundamental que mostre diferentes cenários, através de exemplos concretos, sempre que ele erra. Desta forma ele terá uma boa capacidade de análise e poderá tomar melhores decisões no futuro.
9 - Implemente bons hábitos de consumo dentro da sua casa
Para que o seu filho crie bons hábitos de consumo deve ensiná-lo a evitar desperdícios. Afinal, ser um consumidor consciente não é só poupar dinheiro quando vai às compras. Aliás, dentro de casa, existem comportamentos que têm um forte impacto nas finanças pessoais.
Por exemplo, se tivermos atenção aos consumos diários da eletricidade, da água e do gás, mas também na forma como tratamos os alimentos, é possível poupar um montante elevado todos os meses.
Logo, se envolver o seu filho em algumas atividades de controlo de desperdícios, ele irá enraizar bons hábitos de consumo dentro de quatro paredes. Mas como é que pode tornar estas atividades divertidas? Através de jogos lúdicos.
Imagine que atribui a responsabilidade ao seu filho de não deixar as luzes ligadas nem os aparelhos em standby ou ligados à tomada. Esta responsabilidade não tem que ser incutida através de ordens.
Pode perfeitamente criar um jogo em que o seu filho assuma o papel de "fiscal", faça avisos à família e até passe "multas" a quem não cumprir. No entanto, estabeleça bem as regras, envolva toda a família na atividade, e divirtam-se com esta aprendizagem.
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10 - Aumente os conhecimentos com livros e jogos
Ao contrário do que pode pensar, também existem jogos virtuais que ensinam crianças e jovens a lidar com o dinheiro. E o mesmo se aplica aos livros. No fundo, se recorrer a diversos formatos para passar conhecimentos de literacia financeira, o seu filho não ficará aborrecido com este tipo de aprendizagem.
No caso dos jogos virtuais, pode mostrar o famoso jogo do Monopólio que atualmente já existe em versão mobile e para o computador. O monopólio ficou conhecido por ser um jogo capaz de agradar a crianças e adultos, uma vez que o objetivo é gerir e investir dinheiro através da compra e venda de propriedades. Mas há mais jogos virtuais que podem ser um bom auxílio na aprendizagem, como o Sims e o Cashflow.
Quanto aos livros que ajudam pais e filhos a aprender mais sobre literacia financeira, tem muitas opções de escolha. Por exemplo, com o Doutor Finanças e a Bata Mágica o seu filho pode aprender a poupar através do método "Spend, Save, Share". Ou seja, em português, "Gastar, Guardar, Ajudar". Este método consiste em dividir o orçamento total em três mealheiros. E cada um tem a sua finalidade. Um mealheiro representa gastar, outro guardar e o terceiro ajudar.
Além desta opção, pode oferecer ao seu filho os livros “Faz Crescer o Teu Mealheiro” da Elisabete Lourenço, “Pai: Ensinas-me a Poupar?” dos autores Paulo Jorge Silveira Ferreira e Silvia Alambert ou o clássico “O Homem mais Rico da Babilónia”, de George S. Clason.
11 - Reflita na possibilidade de o seu filho gerir uma semanada ou mesada
Por último, após o seu filho dominar alguns conceitos básicos, pense na possibilidade de atribuir-lhe uma semana ou mesada. Se o seu filho ainda é pequeno, os especialistas aconselham a gerir uma semanada. Além de ser mais fácil gerir dinheiro a curto prazo, os valores também são menores. E por isso, poderá ser mais simples introduzir este conceito.
Já se o seu filho tem mais de 12 anos, a mesada é uma boa opção para ele aprender a gerir o seu dinheiro mensalmente. Contudo, tenha atenção que o valor deve ser fixo, podendo reforçá-lo em momentos excecionais, mas só excecionais. Claro que cada família tem a sua dinâmica e pode achar pertinente atribuir uma semanada em vez de uma mesada.
O mais importante é que a gestão seja feita pelo seu filho. Ou seja, se ele gastar a semanada ou a mesada, não deve disponibilizar mais dinheiro. No entanto, explique o motivo. Diga-lhe que o dinheiro não é uma fonte inesgotável. Por isso, ele precisa aprender a geri-lo melhor no futuro.
Lembre-se que o dinheiro de uma semanada e mesada não deve estar associado a recompensas pelo desempenho escolar ou realização de tarefas. Uma mesada ou semanada não deve ser encarado como um prémio.
Tente sempre passar bons exemplos e não se esqueça que é fundamental praticar o que ensina. Se o seu filho estiver rodeado de boas práticas, será mais fácil seguir o seu exemplo e saber como agir.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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