O nível de literacia financeira tem crescido nos últimos anos em Portugal. Por um lado, os portugueses já dominam vários termos que outrora não conheciam o seu significado. Por outro, com o aumento dos conhecimentos financeiros, existe uma maior consciência do impacto que as poupanças e os investimentos têm ao longo da vida.
Assim, segundo os dados do 3.º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa, efetuado pelo CNSF - Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, além dos portugueses terem subido três posições no indicador global de literacia financeira, passando da décima posição para a sétima entre os 26 países participantes, estão a começar a aplicar mais as suas poupanças em investimentos.
No entanto, a verdade é que muitas pessoas ainda sentem dificuldades em aplicar os seus conhecimentos financeiros, mas também a colher os frutos do seu investimento. A causa destas dificuldades pode estar ligada a diversas razões. De seguida, enumeramos as mais comuns para que consiga superar os seus principais obstáculos.
Investimentos sem retorno? 5 razões para o insucesso
1 - Medo de passar da teoria à prática
O medo de passar da teoria à prática condiciona a nossa inteligência financeira. No entanto, ele é mais comum do que se pode imaginar. Muitas pessoas detêm um nível de conhecimentos financeiros elevado, mas que acabam por não conseguir colocá-los em prática.
Se este é o seu caso, certamente, tende a arranjar desculpas para não estar a aplicar os seus conhecimentos. Logo, vai repetindo frases como "ainda não é altura para investir as minhas poupanças", "a rendibilidade da maioria dos produtos é muito baixa", etc.
Contudo, por muito que lhe custe admitir, o mais provável é que esteja a criar entraves para não sair da sua zona de conforto. E isto não se aplica só a investimentos. As poupanças também são um ótimo exemplo. Nestas situações é normal agarrar-se aos imprevistos, a despesas que teve ou até desculpabilizar compras que fez que não eram essenciais.
Resumindo, é muito mais simples ficar na zona de conforto. No entanto, se permanecer assim, sem arriscar, os seus conhecimentos financeiros nunca vão dar os devidos frutos.
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2 - Insegurança no nível de conhecimentos financeiros
A insegurança é um sentimento expectável quando queremos passar da teoria à prática. O problema é que sempre que duvida dos seus conhecimentos, pode estar a boicotar-se, inconscientemente.
Imagine que quer aplicar uma parte das suas poupanças, e já se informou várias vezes sobre os PPR, sejam estes na forma de fundo ou de seguro. Mesmo sabendo que existem diferenças claras entre estes dois produtos, quer a nível de risco e de rendibilidade, a sua insegurança pode complicar esta decisão.
Muitas pessoas acabam mesmo por desvalorizar os seus conhecimentos por insegurança, desculpando-se com a sua profissão não estar ligada a finanças ou a economia. Mas na realidade ninguém precisa de ser um especialista financeiro para tomar este tipo de decisões.
Assim sendo, precisa somente de saber quais são as características de cada produto. Como funciona, quais são as suas vantagens, que riscos existem, que tipo de comissões tem que pagar, etc. Depois, até poderá ver o histórico de cada produto que lhe desperta o interesse. No entanto, lembre-se que os resultados passados não garantem a mesma rentabilidade no futuro. Por fim, basta comparar os produtos, e tomar uma decisão de acordo com os objetivos que pretende alcançar.
3 - Medo de errar e perder o seu dinheiro
Por norma, o medo de errar na escolha de produtos financeiros é algo comum entre quem começa a investir. Na verdade, o mundo dos investimentos pode ser assustador, principalmente se estiver muito preocupado com a possibilidade de perder o dinheiro.
Uma forma de contornar este medo é recorrer a entidades credenciadas para gerir os seus investimentos. No fundo, o que está a fazer é tirar o peso da decisão das suas costas e passá-lo para alguém mais experiente e profissional.
No entanto, se esta opção não está em cima da mesa, pode criar uma estratégia de investimento que o deixe mais confortável.
Por exemplo, antes de começar a investir uma parte das suas poupanças garanta que tem um fundo de emergência. Esta é uma forma de garantir que no pior dos cenários, ou seja, se perder todo o dinheiro que investiu, não coloca as suas finanças em risco.
Depois defina qual o montante que se sente confortável em investir. Embora nenhum investidor ambicione perder dinheiro, se optar por um valor que possa dar como perdido, vai lidar melhor com qualquer cenário.
Lembre-se, todos os investimentos requerem algum nível de conhecimento. É importante que perceba como funciona o mercado, as caraterísticas do produto, diferentes modalidades, as comissões, os riscos, etc. Mesmo que depois se sinta confortável, ainda pode pedir aconselhamentos ao seu gestor de conta, por exemplo.
4 - Decisões que não se adequam ao seu perfil
Esta é uma das razões para vários investidores não obterem os rendimentos que esperavam dos seus investimentos. Quando aumentamos os nossos conhecimentos financeiros, por vezes é fácil cair na armadilha de ter um determinado perfil de investidor que não corresponde à realidade.
Imagine que está bem informado sobre ações. Acompanha a bolsa, percebe como é que as ações funcionam e está a par dos riscos de investir. No entanto, se o seu perfil de investidor não for de risco, pode facilmente precipitar-se a vender as suas ações quando o seu valor começar a cair. E, embora este seja um pensamento comum, a melhor solução pode passar por saber esperar e não se precipitar a vender. Caso contrário, é provável que tenha perdas significativas.
Por isso, mesmo que tenha bastantes conhecimentos, não se esqueça que investir de acordo com o seu perfil de investidor é uma peça chave para ter sucesso no mundo dos investimentos. Se não lida bem com a pressão dos riscos e oscilações de mercado, talvez seja melhor procurar um investimento mais seguro. Já se tem um perfil que não se importa tanto de arriscar, também pode estar a investir em produtos mais seguros e não estar satisfeito com a rendibilidade obtida. Dito isto, é aconselhável que reveja a sua estratégia de investimento e adeque melhor os produtos de acordo ao seu perfil de investidor.
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5 - Carteira de investimento sem variedade de produtos
Por fim, uma das razões que costuma estar associada ao insucesso de muitos investidores é a má constituição da carteira de investimentos.
Neste ponto, a maioria dos investidores conhecem bem a teoria. Ou seja, quanto mais diversificada for a carteira de investimentos, maior é a probabilidade de fazer crescer os rendimentos. O problema é que ter uma carteira com produtos financeiros variados é um conceito um pouco vasto. Logo, pode ser mais fácil cometer erros.
Por exemplo, quando falamos em carteira variada, podemos estar a apontar para produtos financeiros com riscos diferentes. Por outro lado, também podemos estar a falar de produtos a curto prazo, médio e a longo prazo. Também é possível englobar os produtos que se inserem em diferentes mercados ou de tipologias distintas.
Assim sendo, qual é a melhor solução para melhorar o estado atual da sua carteira? No fundo, não existe uma verdade absoluta, porque essa decisão deve ser tomada de acordo com o seu perfil de investidor.
No entanto, idealmente, a sua carteira deve ser suficientemente diversificada, ao ponto de quando uns produtos desvalorizam, outros estarem a crescer. Ou seja, deve construir uma carteira diversificada que proporcione o equilíbrio dos seus investimentos.
A importância da inteligência financeira
Embora a educação financeira seja essencial para a nossa vida, sem inteligência financeira fica complicado tirar o melhor proveito dos nossos conhecimentos financeiros.
A educação financeira é um processo de aprendizagem sobre finanças. Através da informação, seja em cursos, artigos, vídeos ou livros, é possível compreender os diversos conceitos financeiros. Por exemplo, ao aprender educação financeira percebe o que é um orçamento familiar. E assim que aprofunda os seus conhecimentos, compreende a importância de um orçamento na hora de gerir as suas finanças pessoais.
Já a inteligência financeira não é nada mais do que colocar a sua educação financeira em prática. No entanto, isto não significa que seja assim tão simples. É necessário trabalhar a nossa inteligência emocional.
Afinal, se não conseguirmos reconhecer as nossas capacidades financeiras ou quando não temos disciplina e organização, os nossos conhecimentos são pouco relevantes.
Porque deve desenvolver a sua inteligência financeira
Ao desenvolver a sua inteligência financeira, as probabilidades de aplicar bem os conhecimentos que adquiriu aumentam consideravelmente. Mas, em termos práticos, quando trabalha a sua inteligência financeira consegue:
- Reconhecer as suas capacidades financeiras;
- Tomar decisões de acordo com as suas capacidades;
- Proteger melhor o seu dinheiro;
- Aumentar os seus ganhos e poupanças;
- Traçar objetivos futuros e delinear o caminho para concretizá-los;
- Aumentar as suas ambições e as suas probabilidades de sucesso.
Atenção, isto não significa que não venha a cometer erros. Errar faz parte do processo de desenvolvimento. Mas, se ficar preso a este medo, vai estar apenas a limitar a sua evolução.
Assim, devemos perceber o que é que não correu bem para não cometer o erro no futuro. É essencial identificar os passos a dar para corrigir a situação ou revertê-la a nosso favor.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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