Um dos maiores defeitos que identifico nos portugueses em geral é a preguiça financeira. Deixamos a conhecida D. Inércia mandar na nossa vida mais do que nós próprios. Não faz sentido.
Se o nosso patrão, ou o Estado, nos cortasse o ordenado de 3 em 3 meses ou de 6 em 6 meses, mesmo que fosse só 1 euro, caía o Carmo e a Trindade. Que fúria percorreria o país de norte a sul. Conseguem imaginar a reação a uma lei que permitisse aos patrões baixar salários ao longo do ano, e dos anos? Não imaginam isso a acontecer, pois não?
Então, porque é que faz isso a si próprio? Sempre que uma empresa aumenta um serviço ou produto em 1, 2 ou 3 euros - e você não faz nada - está a reduzir o seu salário...Exatamente na medida de cada um desses aumentos.
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Vem esta reflexão a propósito de uma mensagem que recebi e que quero partilhar convosco:
"Desde a liberalização do mercado fui cliente da EDP Comercial, pagando contas mensais entre os 60/80€ de abril a setembro/outubro e 120/150 € durante os meses de inverno. Em 2022, quando o Pedro alertou para o aumento dos preços a partir de janeiro de 2023, mudei para a SU Eletricidade e a conta baixou para os patamares de 70/80€ até abril e para os 40/50€ de maio a julho. Em julho, depois de ter seguido os seus conselhos, mudei para o mercado indexado (Luzboa) e qual não foi o meu espanto ao receber uma conta de 27€ em agosto!
Fui dos consumidores “distraídos” que, por falta de tempo, foi deixando andar. Agora que me reformei, passei a andar mais em cima daqueles que, com a maior “serenidade”, nos vão ao bolso todos os meses. Graças a si Pedro!"
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Não! Não é graças a mim. É graças ao facto de este cidadão ter decidido mexer-se e parar de deixar que lhe diminuam o salário líquido ao fim de cada mês.
Aliás, de cada vez que este consumidor mudou de empresa para uma ainda mais barata do que a anterior, em vez de manter o seu salário, aumentou-o.
O problema é que só percebeu isto depois de reformado. Temos de ter tempo para nos aumentarmos todos os meses assim que começamos a trabalhar e a ter despesas regulares. É essencial.
Lembre-se disto: cada vez que um produto ou serviço aumenta ou se mantém igual - enquanto há outros equivalentes mais baixos -, está a permitir que o seu patrão lhe baixe o salário. O problema é que não adianta ir protestar para as ruas ou para a porta da sua empresa, porque esse patrão é você!
Acabe com a preguiça financeira. Reveja TODOS os seus contratos e despesas. Confirme que está sempre, todos os meses e todos os anos, a pagar o menos possível apenas por aquilo que quer e precisa. Caso contrário, estará toda a vida a "desaumentar-se" a si próprio. É mesmo isso que quer? Mexa-se! Faça exercício financeiro de forma regular. A sua conta bancária e a sua saúde financeira agradecem.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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