Nos workshops que faço em empresas e escolas, costumo dizer que quase todos nós somos uma espécie de sonâmbulos financeiros. Durante a noite, levantamo-nos, abrimos a janela, pegamos na carteira e deitamos dinheiro para a rua. Não o fazemos literalmente, mas fazemo-lo inconscientemente. Dou como exemplo as comissões de manutenção de conta bancárias. Normalmente, são cerca de 100 euros por ano que deitamos à rua, quase sempre sem necessidade.
O extrato de comissões bancárias
Milhões de portugueses pagam muitas dezenas de euros em comissões bancárias só por terem uma conta aberta no banco. Mas não sabem exatamente quanto. Quando descobrir talvez tenha uma surpresa.
Comparar é a forma mais eficaz de poupança
O dinheiro sai da sua conta e você nem dá por isso. 1 euro aqui, 1 euro ali, 5 euros por mês, mais uma anuidade disto e daquilo. Parece que não é nada, mas ao fim do ano é o equivalente a uma, duas ou três faturas de eletricidade ou metade do seguro do carro. A pergunta é? Tem a certeza de que sabe quanto pagou em comissões bancárias no ano passado? Essa pergunta é importante porque só sabendo isso pode avaliar se deve mudar de banco ou de pacote de conta.
Desde 2019 que todos os bancos são obrigados a enviar, sempre em janeiro, a todos os clientes um extrato de comissões. Já o recebeu, pode é não ter aberto a carta ou o e-mail, ou leu e não ligou muito. Este documento não falha. Tem a lista de tudo o que pagou no ano anterior, ao cêntimo. Mesmo as comissões que nem sabia que pagou.
O problema é que como são valores pequenos, a maior parte dos clientes bancários desvaloriza. A falta de tempo é outra dificuldade. Não dá para analisar os extratos de conta linha a linha, todos os meses.
No seu extrato de comissões vai encontrar estas informações:
- A comissão cobrada por cada serviço e o número de vezes que o serviço foi utilizado;
- O montante total das comissões cobradas durante o ano anterior;
- A taxa de juro aplicada aos saldos negativos e o total dos juros cobrados;
- E a taxa de juro aplicada à conta à ordem, se existir, e o montante total dos juros que recebeu.
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Onde encontrar o Extrato de Comissões
Depende do que contratou com o seu banco. Pode receber o extrato pelo correio, por e-mail, através do homebanking ou da app no seu smartphone. Todos têm de ter no título “Extrato de comissões”. É obrigatório por lei.
Por exemplo, na Caixa Geral de Depósitos está na pasta “Documentos”. O Banco CTT envia por e-mail. Verifique onde está o seu extrato e leia-o com muita atenção. Sobretudo a parte do total. Se o seu banco não lhe enviou este documento apresente queixa no Banco de Portugal.
De que valores estamos a falar?
Pelos testemunhos que fui recolhendo ao longo do tempo, os totais pagos por muitos vão do zero aos quase 200 euros por ano.
A minha dica é abrir conta num banco que cobra zero comissões e fechar todas as outras, se puder. Já são muitos os que abriram contas em bancos como o Activobank, Moey, Best, BNI Europa, BIG e outros que não cobram nada (alguns cobram pelo cartão multibanco). Mas a maioria paga e bem.
Uma pessoa que conheço pessoalmente foi ver e pagou 133,48 euros em comissões bancárias. Só para ter uma ideia, num depósito a prazo, para o banco lhe pagar o mesmo valor líquido em juros, teria de ter lá 500 mil euros.
Mas para além destas comissões ainda há outras que não aparecem neste documento, como as comissões de processamento de prestação dos créditos e outras. Ou seja, temos de pagar para pagar ao banco. Surreal. Mas tudo legal, claro. Entretanto foi proibida mas apenas para os créditos contratados após 1 de janeiro de 2020.
Se quer saber quais são os bancos que não cobram nada ou menos do que a concorrência basta ir ao site do Banco de Portugal e usar o comparador de comissões.
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As alternativas às comissões bancárias
Tem pelo menos três alternativas: Fechar a conta e abrir conta num banco que não cobra nada ou tem comissões mais baixas; Caso não possa sair do seu banco por ter lá um crédito à habitação, por exemplo, pode fazer as contas para saber se compensa aderir a um pacote que junta várias comissões e fica a pagar menos do que usando os serviços individualmente; Ou então aderir no próprio banco a uma conta de serviços mínimos bancários, desde que só tenha essa conta à ordem em Portugal.
Antigamente, na banca havia uma alcunha para um determinado tipo de clientes. Chamavam-lhes os “Pica-taxas”. Eram pessoas que iam de banco em banco para ver quem lhes dava mais umas décimas nos depósitos a prazo, na altura em que as taxas de juro eram boas. Agora é ao contrário. A luta é para pagar o menos possível em comissões. Temos de dançar conforme a música.
Ver o seu Extrato de comissões e agir em conformidade é um dos primeiros passos para tratar a sua dinheirofobia.
Só com esta dica pode poupar cerca de 100 euros por ano daqui para a frente.
Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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2 comentários em “Bancos: Quanto anda a pagar em comissões sem saber?”