Pode parecer estranho, mas apesar dos aumentos salariais e da descida das prestações do crédito à habitação, a DECO nota que há um aumento do número de pessoas que pedem ajuda porque não conseguem pagar as suas despesas, apesar de terem um trabalho e receberem um salário. O que pode fazer agora para que isto nunca aconteça consigo?
A DECO refere que cada vez mais pessoas recorrem ao crédito para pagar despesas essenciais como a renda e até a prestação do crédito à habitação. Uma das razões é que o custo de vida continua a crescer, deixando muitas famílias em situações insustentáveis. Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira (GPF) da DECO, destaca que mais de 75% das famílias que pedem ajuda estão empregadas, mas não conseguem fazer face às suas despesas.
Muitas famílias recorrem ao crédito para pagar cauções ou até mesmo a renda, ampliando ainda mais o ciclo de endividamento. Ou seja, digo eu, acabam por cavar um buraco ainda maior. Mas questão é: que alternativa têm, quando a outra opção é perder a casa e dormir na rua? Há alguma coisa que se pode fazer antes, para evitar este tipo de situações?
O impacto de um fundo de emergência
Se ainda não está numa situação financeira dramática, é fundamental prevenir-se. Um dos pilares da estabilidade financeira é a criação de um fundo de emergência. Este fundo funciona como uma almofada para lidar com situações inesperadas, como cauções de arrendamento, despesas médicas, acidentes ou redução temporária de rendimentos.
Imagine que precisa de encontrar 3.000 euros de imediato para pagar três meses de caução e uma renda inicial. Teria esse montante disponível agora? E se houvesse uma emergência adicional, como um problema de saúde ou uma avaria inesperada?
Há muitas famílias que estão no mercado de arrendamento e com contratos a termo que, quando estes terminam, se veem confrontadas com a necessidade de procurar uma nova casa, com valores de renda elevados. Está preparado para essa situação?
Crie o seu fundo de emergência começando com valores pequenos (por exemplo 1.000 euros), mas com consistência. Poupe 10% do seu rendimento mensal, se possível, e guarde este dinheiro num local de fácil acesso, mas separado das suas contas do dia a dia. Este montante será a sua primeira linha de defesa contra situações financeiras imprevisíveis. O objetivo é nunca recorrer ao crédito quando tiver um imprevisto.
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Dicas para evitar recorrer ao crédito
- Analise e reduza as suas despesas: Reavalie o seu orçamento familiar e corte despesas não essenciais. Pequenas poupanças acumuladas podem fazer uma grande diferença.
- Faça uma lista das suas necessidades: Antes de qualquer gasto, pergunte-se: é uma necessidade ou um desejo? Isso ajuda a evitar compras impulsivas.
- Pague-se a si primeiro: Assim que receber o salário, reserve uma parte para poupança antes de pagar qualquer outra coisa.
- Procure formas de aumentar os seus rendimentos: Considere atividades paralelas ou ser free lancer para complementar o seu salário principal.
- Negoceie com os seus credores: Se está com dificuldades para pagar a habitação, contacte o banco ou o senhorio e explore possibilidades de renegociação. Pondere fazer uma consolidação de créditos.
- Evite acumular dívidas: Pense duas vezes antes de recorrer ao crédito para despesas correntes. Os juros podem transformar uma solução temporária numa bola de neve financeira.
Lembre-se: O crédito deve ser sempre a última alternativa, não uma solução para problemas financeiros recorrentes. A literacia financeira é fundamental para evitar cair num ciclo de endividamento. A chave está em planear, poupar e manter o controlo sobre o seu orçamento.
Há uma vantagem em relação às anteriores crises: houve alguma aprendizagem por parte das famílias para se prepararem, dos bancos e do próprio regulador que acabou por ganhar outras ferramentas.
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O que podemos fazer
Eu sei que para quem já está nesta situação, qualquer conselho é inútil e até quase ofensivo. Nestas situações é mesmo pedir ajuda às instituições, ao Estado e amigos para tentar reverter esses créditos o mais depressa possível e começar do zero.
Mas o que gostava é que quem ainda não está nestas situações dramáticas, percebesse a importância da constituição - enquanto podem - do famoso Fundo de emergência.
Basta a situação de “não emergência” mencionada das cauções de renda para ter de encontrar 3 mil euros do pé para a mão. Teria neste instante esse dinheiro se estivesse nessa situação? Mais as despesas de novos contratos e outras que podem surgir com verdadeiras emergências?
É por isso que é tão importante ter literacia financeira e pagarmo-nos a nós próprios todos os meses assim que começamos a ter rendimentos.
Muitos de nós achamos que este tipo de situações nunca nos vão acontecer, mas olhe que às vezes é só uma questão de tempo.
O desemprego está historicamente baixo, mas os salários não estão a ser suficientes para quem ganha pouco fazer frente ao custo de vida.
Isto é uma lição também para que tente encontrar o mais depressa possível outras fontes de rendimento que complementem o seu salário (se for muito baixo).
Se estiverem à espera que seja o Estado a resolver, bem podem esperar. Infelizmente, quem está aflito e não tem alternativas, acaba por recorrer ao crédito. E quem agradece são os bancos e financeiras. E as pessoas fica ainda pior do que estava antes.
Quando pedir ajuda é essencial
Se já se encontra numa situação de endividamento grave, procure apoio junto de entidades especializadas em aconselhamento financeiro. Quanto mais cedo agir, maiores serão as hipóteses de reverter a situação e recuperar o equilíbrio financeiro.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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