Onde é que a Sonya vai arranjar tanta energia e disponibilidade para ajudar os outros a resolverem os seus problemas? Ah, pois é, estamos a falar de uma personagem fictícia do videojogo Misadventures in Money Management. Espero que conheçam alguém assim na vida real. Se não, procurem, há bons especialistas por aí. Mas procurem bem, não façam como o Adam. Coitado, acabou de comprar uma casa e de se mudar. O negócio parecia bom; o preço estava barato, porque o imóvel precisava de reparações. Até tinha um buraco no telhado. Mas a Sonya vai encontrar o amigo desalentado e meio em pânico.
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Desconfiar, pesquisar mais, comparar, decidir
Ele explica. Pôs-se à procura na net de uma solução para o telhado. E encontrou. Várias, até. Mas tinha tido uma má experiência com um sofá e agora como é que podia ter a certeza de que estava a escolher a pessoa certa para tratar do seu problema? "Contrato o mais barato? O que tem melhores referências? O que responde mais rapidamente? O que parece mais sério? Sinto que estou a fazer uma escolha ao calhas!", confessa à amiga.
Sonya, com a serenidade a que já nos habituou, diz-lhe para ter cuidado com os intermediários (que podem desaparecer mal tenham o dinheiro na mão) e para não levar demasiado a sério a recomendação feita pelo locutor da rádio local (parece que a empresa tinha oferecido um telhado novo ao DJ, a troco de ele mencionar o nome da companhia durante o programa). E, já agora, convinha que o Adam soubesse que as avaliações de clientes, bem, muitas vezes, são criadas pelas próprias empresas... Ou seja, escolher bem requer algum trabalho de casa, avisa Sonya.
Comparar avaliações em vários sites, pesquisar possíveis queixas de clientes anteriores e, então, definir uma lista de três hipóteses de quem se contacta, pedindo referências e orçamentos. Recolhida toda a informação pertinente, Adam estará preparado para tomar uma decisão fundamentada. E resolver o problema de lhe chover na sala.
Ver o custo do bolo inteiro e não das fatias
Às vezes, também basta conter um impulso para evitar sarilhos. Não é o caso do Willis, o maninho da Sonya, sempre metido em problemas com dinheiro. Ei-lo a telefonar à irmã do centro comercial: "Vê lá, Sonya, está aqui uma senhora simpática a dizer-me que sou elegível para um programa de troca de telemóveis! Posso trocar o meu por um novo, e pagar tudo já, ou comprar um modelo ainda mais recente, com um enoooorme desconto, e ficar a pagar uma suave prestação mensal. Mas ela diz que esta oferta só está disponível hoje, agora! Que devo fazer?"
Eis as possíveis respostas de Sonya:
- Afasta-te daí e vai recolher mais informação;
- Faz as contas: foca-te no custo total;
- Fala com a vendedora e tenta sacar-lhe o melhor negócio possível;
- Recebo emails que me oferecem telemóveis desses por metade do preço; escolhe uma das cenas que te reenviei.
Escolhemos a 4 não é óbvio? Se calhar, não. O telemóvel xpto do email, afinal, era uma fraude, e Willis caiu nela. E por nossa culpa! Fomos então para a 3, eheh, conseguimos um desconto ainda maior, o qual, ora bolas, acabou por não ser ativado porque o Willis se esqueceu de enviar umas papeladas e uns códigos que era necessário. Isto de ser Sonya…
O melhor foi mesmo fazer as contas; pagar o telemóvel novo no ato da compra ficava por 250 dólares; o outro, que supostamente era ainda mais novo, que custaria só 45 dólares durante 12 meses, acabaria por custar 540 dólares... Por ter escutado a mana, o Willis saiu do centro comercial com o telemóvel novo de que precisava e sem se ter endividado.
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Olhe lá, lembra-se daquela dívida que ficou por pagar?
E conhecem aquele ditado, "em casa de ferreiro, espeto de pau"? O último problema que Sonya tem de ajudar a resolver é com a própria mãe. Tudo começa com um toque misterioso do telefone fixo, à noite, quando elas estão na cozinha. A filha levanta-se para atender, mas a mãe diz-lhe que não o faça. Conta-lhe então que um cobrador de dívidas anda atrás dela por causa da última prestação de um empréstimo. Aquele que fizera há vários anos, para arranjar a caldeira. Ela jura que pagou tudo; mas estão a ameaçar processá-la… Até já lhe telefonaram para o trabalho. E como não guardou os recibos, pois já se passaram muitos anos...
Que resposta de Sonya escolheriam?
- É provável que eles tenham razão; negoceia um plano de pagamentos, se não eles vão continuar a assediar-te;
- Faz um pagamento parcial já, como demonstração de boa-fé para que eles parem de telefonar-te; negoceia os juros e paga rapidamente o que falta;
- Uma coisa de "há vários anos"? Isso parece demasiado antigo, não pagues e ignora as chamadas;
- Pede por escrito documentos que comprovem a tua dívida e espera para ver o que acontece.
Até havia um formulário na Internet para ajudar a escrever o email da alínea 4. Sentaram-se as duas ao computador, compuseram a mensagem, clicaram em enviar. Nunca mais telefonaram à mãe de Sonya a falar-lhe de dívidas inexistentes. Missão cumprida!
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Paulo M. Morais cresceu a jogar futebol de rua e a ouvir provérbios ditos pelas avós. Licenciou-se em Comunicação Social e especializou-se nas áreas do cinema, dos videojogos e da gastronomia. É autor de romances e livros de não ficção. Coleciona jogos de tabuleiro e continua a ver muitos filmes. Gosta de cozinhar, olhar o mar, ler.
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