Nos últimos anos temos assistido com maior frequência à emissão de empréstimos obrigacionistas por parte de empresas portuguesas. Os clubes de futebol são um dos maiores exemplos desta dinâmica que tem vindo a ser criada. Afinal, qual o objetivo destas emissões? E quais os riscos associados?
Europa vs EUA
Hoje em dia vivemos num contexto de economia global, o que permite que as empresas tenham acesso a outros mercados para expandirem os seus produtos. Para poderem continuar a crescer e a desenvolver os seus negócios, as companhias necessitam de ter acesso a fontes de financiamento. É aqui que reside uma das grandes diferenças entre Europa e EUA.
Na Europa, culturalmente, a forma de as empresas se financiarem é a mais tradicional, ou seja, com recurso aos bancos. Nos EUA, com um mercado de capitais muito mais desenvolvido, a forma preferencial das empresas terem acesso ao financiamento é precisamente através da emissão de obrigações nos mercados financeiros.
Em termos concretos, a grande diferença entre estas duas formas de financiamento tem a ver com o dinamismo que se imprime à economia e com as garantias que são exigidas. No caso dos bancos, estes exigem garantias referentes aos valores que vão emprestar. Já no caso dos empréstimos obrigacionistas, os investidores apenas procuram uma taxa de retorno que compense o risco associado à operação.
Outro ponto importante é que o financiamento através dos mercados financeiros permite ter acesso a investidores mais conservadores ou mais agressivos, permitindo que muitas empresas que podiam não ter os pressupostos ideais para se financiarem através do meio tradicional (banca) possam ter acesso a esses meios e continuem a desenvolver o seu negócio ou a alavancarem a sua operação.
Leia ainda: Investir em obrigações: Que produto financeiro é este?
Empréstimos obrigacionistas: Qual o objetivo?
Por que é que uma empresa emite um empréstimo obrigacionista? De uma forma factual, quando se termina o processo de uma emissão obrigacionista as empresas ficam com mais liquidez em caixa. A forma como vão utilizar essa liquidez já difere de empresa para empresa e de contexto para contexto.
Em Portugal, temos assistido à emissão de obrigações por parte das SAD dos clubes de futebol, com uma base quase anual. Um dos motivos para que esta regularidade exista é porque as SAD dos clubes têm, anualmente, empréstimos obrigacionistas a vencer. Assim, a nova emissão tem logo à partida um objetivo definido: amortizar o empréstimo anterior.
Contudo, muitas vezes o que verificamos é que devido à elevada procura por parte dos investidores de retalho nestas operações, os administradores das SAD optam por aumentar o endividamento, fazendo com que o novo empréstimo obrigacionista seja superior ao que está a vencer.
Neste caso, o propósito por trás desta decisão prende-se com o facto de aproveitarem o momento para reforçar a liquidez disponível, podendo canalizá-la para o pagamento de salários, de fornecedores, investimentos em novos ativos, ou mesmo, poder fazer um esforço para manter as suas melhores peças em função de terem liquidez para fazer face aos compromissos financeiros.
Leia ainda: Como a subida dos juros das obrigações penaliza as ações
Liquidez, investimento e roll over de dívida
De uma forma muito simples e conforme mencionado no ponto anterior, os empréstimos obrigacionistas podem cobrir três objetivos: liquidez imediata, investimento e roll over da dívida.
Na questão da liquidez, o objetivo de um novo empréstimo passa por garantir capacidade para fazer face as operações imediatas do dia a dia. Outra possibilidade é a de aproveitar as condições de mercado favoráveis e criar uma almofada de segurança que dê tranquilidade para fazer face a imprevistos que possam surgir no futuro.
Emitir empréstimos para poder alavancar a operação é outro dos motivos pelos quais as empresas dão este passo. Muitas pretendem crescer, expandir-se para outros mercados ou desenvolver novas linhas de produtos. Não tendo capitais próprios para o fazer optam por se alavancar para esse efeito.
Roll over da dívida significa que as empresas emitem novos empréstimos para pagar os anteriores. Se isto for feito de uma forma regular, esta forma de financiamento fica esgotada uma vez que servirá, apenas, para pagar dívida anterior.
Quais os riscos?
Como em todos os investimentos, um empréstimo obrigacionista tem sempre um risco associado. Neste caso, o risco será sempre a capacidade do emitente de pagar os seus compromissos. O que é que isto significa? Imaginemos que um emitente faz um empréstimo obrigacionista a 5 anos e paga uma taxa anual de 5% ao ano.
Assim, o risco desta emissão é o da empresa que emite o empréstimo ter a capacidade de pagar o cupão de 5% todos os anos, e de na maturidade (ao fim de cinco anos) devolver o montante total do empréstimo a todos os investidores.
Outro ponto relevante tem a ver com a taxa de retorno das obrigações. Quanto maior for o retorno do investimento maior o risco do emitente. Como exemplo, imaginemos que duas empresas, A e B, vão emitir um empréstimo obrigacionista na mesma data, com a mesma maturidade e pelo mesmo montante. A empresa A paga um cupão de 2% e a B um cupão de 7%. Qual destas empresas apresenta um risco maior para os investidores? A empresa B, porque para conseguir o mesmo montante que a empresa A tem de pagar um juro substancialmente superior.
Leia ainda: O que são e como funcionam as obrigações?
Posso vender a obrigação antes da maturidade?
Por norma, os empréstimos obrigacionistas são emitidos no mercado primário, com um valor nominal de 100% e com um cupão associado. Quem subscreve na fase inicial sabe qual o retorno que irá ter se esperar pela maturidade e se a empresa emitente cumprir com os seus compromissos.
Tendo em conta este facto é importante que os investidores percebam que podem vender as suas obrigações antes da maturidade. Se o fizerem irão estar sujeitos sobretudo a dois fatores: a liquidez, que pode ou não existir no título, e o preço de mercado que pode ser inferior ou superior ao preço inicial que é de 100%.
Dependendo de cada contexto e da necessidade, cada um deverá fazer as suas contas e perceber se faz ou não sentido vender a sua posição no mercado secundário.
Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário