De uma forma geral, somos um povo conservador no que toca à forma como gerimos as nossas poupanças. Podemos verificar esta realidade nos diferentes estudos de literacia financeira que nos são apresentados. Esta nossa forma de estar, enquanto sociedade, tem a ver com as nossas raízes, com os nossos antepassados e com a forma como todos estes temas nos foram sempre apresentados.
A maior parte das pessoas em Portugal tem uma enorme preocupação em poupar, mas depois tem um enorme receio em potenciar essas poupanças. Esta realidade, quando comparada com outros países, é muito evidente. Na verdade, existem alguns motivos para que isto suceda.
Por um lado, os nossos salários são muito mais reduzidos do que muitos países com quem nos comparamos. Outro ponto importante é que nos países desenvolvidos, de uma forma enraizada, a reforma está a associada a várias componentes: um regime de segurança social similar ao nosso, complementado por um “pacote” de investimento individual que pode ter vários caminhos, tais como, fundos de pensões, PPR, investimentos em fundos de investimento ou em ações e obrigações diretamente.
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A importância do dinheiro
Utilizamos com frequência a seguinte expressão: o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda! Esta frase deveria ser a base de partida para uma preocupação com um tema que tem muita influência nas nossas vidas. Podemos não dar importância ao dinheiro, mas a verdade é que o dinheiro acabará por impactar as nossas vidas.
Este é um forte motivo para pensarmos e nos dedicarmos a aumentar a nossa educação neste tópico. Felizmente, nos últimos anos, este tema começou a ser abordado de uma forma diferente. Ainda falta muito para chegarmos ao ponto que pretendemos. A literacia financeira, como toda a educação escolar, não se aprende de um dia para o outro.
É preciso semear a semente e deixá-la crescer. Individualmente, cada um deverá fazer o seu caminho, para que, enquanto sociedade, possamos dar o devido salto qualitativo que nos permitirá avaliar tudo o que está à nossa volta de uma forma diferente.
Ao contrário do que se possa pensar, a literacia financeira não está apenas associada a investimento das poupanças. Quem pensa assim está a ser muito redutor. A literacia financeira está diretamente ligada à forma como nos relacionamos com o dinheiro, com as despesas, tomadas de decisão de investimento, com a noção global do que podemos ou não alcançar e quais as consequências de cada decisão que queiramos tomar. Quanto maior o nível de literacia financeira, maior será a nossa responsabilidade e consciência nas decisões que tomamos. De uma forma simples, quanto mais conhecimentos tivermos maior e melhor será o controlo sobre a nossa vida e o rumo que lhe pretendemos dar.
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Fear and greed
Medo e ambição. Estas duas realidades estão sempre de mãos dadas em várias áreas das nossas vidas. A linha que as separa é muito ténue. Quando pensamos em investir e em procurar um retorno para o nosso investimento, o medo e ambição surgem em diferentes estados. Tudo tem a ver com a forma como analisamos o que temos pela frente.
Os sentimentos acabam sempre por estar associados às nossas decisões de investimento. Aqueles que conseguem ser mais racionais e afastar os sentimentos, são os que por norma tomam melhores decisões. Isto acontece porque não se deixam influenciar pelo ruído que existe constantemente à nossa volta.
No caso dos investimentos mobiliários ou imobiliários, existe um facto curioso. As pessoas sentem-se mais confortáveis e confiantes em investir quando os mercados (mobiliário ou imobiliário) estão em alta do que quando estão em queda. Este conforto tem sobretudo a ver com os sentimentos que se associam à tomada de decisão. É muito mais confortável investir num ativo que, no gráfico, apresenta uma valorização constante nos últimos meses/anos.
Contudo, de uma forma racional, o que devíamos questionar é se aquele ativo tem a capacidade de continuar a gerar o retorno do passado. O que está por trás daquela valorização? Existe algum ativo que valorize de uma forma linear no tempo? Pelo contrário, quando alguém vai investir e lhe é apresentado um gráfico de um ativo com uma performance negativa, o receio e a dúvida instalam-se.
A mensagem que pretendo passar é que o mais importante no momento de tomar uma decisão não é o comportamento do ativo nos últimos meses ou anos. O que deverá estar por trás de uma decisão de investimento é o conhecimento do ativo em questão. Em todos os negócios existem altos e baixos. As empresas têm de estar constantemente a adaptar-se às mudanças e a novos padrões de consumo. Todos estes pressupostos devem estar presentes nas nossas decisões de investimento.
Muito mais do que o sentimento, deverá ser a racionalidade a imperar. Aliás, existem momentos de quedas que se podem tornar enormes oportunidades de investimento, desde que devidamente enquadradas e fundamentadas. Como diz Warren Buffet, um conhecido e conceituado investidor: “Be fearful when others are greedy, and be greedy when others are fearful.”
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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