Se tem um crédito habitação, um crédito automóvel ou um depósito a prazo no seu banco, estará certamente familiarizado com o conceito de juro. Este não é mais do que o preço do dinheiro, a remuneração cobrada pelo empréstimo de determinado valor e que se expressa numa percentagem aplicada a essa quantia.
O juro é, assim, um conceito fundamental que importa compreender antes de contrair um crédito ou subscrever qualquer tipo de instrumento de poupança e investimento, já que faz parte das condições desse “acordo” entre credor (quem empresta) e mutuário (quem toma emprestado), assim como a duração, ou vencimento, do empréstimo.
Tomando como exemplo um crédito bancário – dinheiro que o cliente pede emprestado ao banco para a compra de casa, carro, ou outra finalidade – o juro é o preço cobrado pela instituição financeira pela cedência desse montante, que terá de ser pago regularmente durante a vigência do empréstimo, juntamente com o capital em dívida.
No caso de um instrumento de poupança e investimento, como um depósito a prazo, é o cliente que está, na prática, a “emprestar” o seu dinheiro ao banco, tendo direito, por isso, a receber um juro, um rendimento desse empréstimo.
Chegados aqui, importa compreender outro ponto fundamental, que pode fazer muita diferença no resultado da sua poupança: além dos juros simples, a que estamos mais habituados, existem os chamados juros compostos, que funcionam como multiplicador do investimento, garantindo-lhe uns euros extra, e que vão crescendo ao longo do tempo.
Quer dizer que o retorno da minha poupança pode ir aumentando com o tempo, mesmo sem os tradicionais reforços do capital investido? Sim, é possível. Graças ao caráter multiplicador dos juros compostos.
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O que são os juros compostos?
Albert Einstein definiu-os como a “oitava maravilha do mundo” e a “força mais poderosa do universo”. Segundo o físico alemão, “quem compreende os juros compostos, recebe-os, quem não compreende, paga-os”.
De uma forma muito simples, trata-se de juros sobre juros, em que o rendimento obtido em determinado período é somado ao capital investido, aumentando o “bolo” sobre o qual incide o juro, o que resulta num retorno superior e que cresce ao longo do tempo.
Falamos, assim, de um reinvestimento dos juros ou mais-valias realizadas em determinado investimento, de forma continuada, também denominado de capitalização dos juros.
Tomando como exemplo um depósito a prazo a 5 anos, com pagamento anual de juros, é a diferença entre receber anualmente o juro desse depósito na sua conta à ordem ou reinvestir esse juro, acumulando ao capital inicial, para que vá gerando juros cada vez maiores.
O dinheiro atua, assim, com um efeito multiplicador, no qual os juros geram novos juros, aumentando com o tempo, ao contrário dos juros simples, que atuam sempre sobre o capital inicial que investiu.
A paciência é mesmo a maior aliada dos juros compostos, já que quanto mais longa a duração do investimento, maior o crescimento do retorno. Escolhas informadas e mentalidade de longo prazo são pontos fundamentais para o sucesso dos seus investimentos.
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Juros simples vs. juros compostos
Para perceber a diferença entre juros simples e juros compostos, nada melhor do que fazer umas contas simples, que ilustram bem o poder da capitalização de juros na multiplicação dos rendimentos. Pegando no exemplo anterior, do depósito a prazo a 5 anos, com pagamentos anuais, consideremos um capital inicial de 5 mil euros e uma taxa de juro de 4%. Com uma taxa de juro simples, esse depósito rende 200 euros ao final de cada ano, resultando num retorno de 1.000 euros no final dos cinco anos.
Num regime de juros compostos, pelo contrário, no final do primeiro ano, os 200 euros são adicionados ao capital inicial, significando que, no segundo ano, a taxa de juro irá incidir sobre 5.200 euros e não sobre os 5.000 euros iniciais. Assim, nesse segundo ano, o retorno já será de 208 euros, que serão novamente somados ao “bolo” do investimento. E assim sucessivamente, ao longo de todo o período de duração do depósito.
Vejamos a diferença:
Juros simples – capital inicial x taxa de juro
No caso, 5.000 x 0,04 = 200
Este cálculo é repetido, da mesma forma, em cada um dos anos de subscrição do depósito, sem alteração da taxa nem do capital e, consequentemente, do juro obtido em cada período. Assim, basta multiplicar o retorno anual de 200 euros por 5 (número de períodos de pagamento de juros) para concluir que o rendimento será de 1.000 euros, a que se somam os 5.000 euros iniciais, num total de 6.000 euros.
No caso da capitalização dos juros, a taxa também se mantém inalterada, mas o capital sobre o qual incide essa taxa vai aumentando ao longo dos anos, já que vai sendo reforçado com o rendimento obtido em cada período.
Juros compostos: (capital inicial + juros do período anterior) x taxa de juro
No caso:
Ano | Capital | Taxa de juro | Juros |
1.º | 5.000€ | 4% | 200€ |
2.º | 5.200€ | 4% | 208€ |
3.º | 5.408€ | 4% | 216,3€ |
4.º | 5.624,3€ | 4% | 225€ |
5.º | 5.848,3€ | 4% | 234€ |
Com os juros compostos, o cliente terá no final dos cinco anos um total de 6.083,3 euros, ou seja, mais 83,3 euros face ao que obteria num regime de juros simples.
De forma simplificada, com a incorporação do juro simples no capital, vai-se obtendo um novo capital (maior do que o inicial), que vai sendo remunerado, aumentando o resultado final da poupança ou investimento.
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Como tirar partido dos juros compostos?
Instrumentos como depósitos a prazo, certificados de aforro, PPR, fundos de investimento ou ETF são opções para quem procura tirar partido do efeito multiplicador associado aos juros compostos. Mas, atenção, que nem todos permitem beneficiar desse regime de forma automática.
Voltando, mais uma vez, ao exemplo do depósito a prazo, é necessário procurar uma solução com capitalização de juros e uma taxa atrativa, para que possa ir rentabilizando, da melhor forma, o que investiu. Alguns depósitos a prazo permitem a capitalização de juros automática, mas há outros em que esta terá de ser feita por iniciativa do cliente. Nunca é de mais lembrar que, quanto mais cedo iniciar este investimento, e mais tempo estiver disposto a esperar, maior será o retorno.
A mesma lógica se aplica a outros produtos que pagam dividendos ou mais-valias, como os ETF (fundos negociados em bolsa), em que o subscritor pode optar entre fundos distributivos e fundos acumulativos. No primeiro caso, os rendimentos são pagos periodicamente ao subscritor, enquanto no segundo, os rendimentos obtidos são reinvestidos no fundo, aumentando o valor total.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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