Em dezembro de 2013, o Miguel recebeu o seu primeiro subsídio de Natal. Como ainda morava com os pais, não tinha grandes despesas, pelo que pensou em investir aquele dinheiro extra que tinha recebido. Um amigo dele gostava de investir em ações e gabava-se do dinheiro que estava a ganhar com ações do BES que havia comprado apenas alguns meses antes.
Entusiasmado com a história do amigo, Miguel decidiu abrir uma carteira de títulos através do seu homebanking e, logo no início de 2014, de uma ordem de compra de 1.000 ações do BES, a 1 euro cada uma. Oito meses depois, o BES colapsava e a carteira do Miguel passou a valer pouco mais de 100 euros. Tinha perdido 90% do seu investimento.
Esta estória, que é baseada em factos reais, ilustra bem alguns dos erros mais comuns que a maioria de nós comete quando começamos a investir. Neste artigo, vou enunciar os 5 princípios fundamentais que devem ser seguidos para reduzir substancialmente os riscos associados aos investimentos na bolsa.
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1.º Estabeleça objetivos e metas para o seu investimento
Antes de começar a investir, defina claramente os seus objetivos de investimento. Comece pelo motivo e pergunte a si próprio: Porque é que vou investir? É para poupar para a reforma? Para a entrada de uma casa? Para comprar um carro? Para não perder dinheiro com a inflação?
Depois, tente estabelecer uma meta clara, por exemplo:
- Gostava de ter 20 mil euros daqui a 5 anos;
- Gostava de duplicar o meu investimento; ou
- Gostava de chegar à reforma com 200 mil euros.
Ter objetivos e metas claramente definidos ajuda a determinar o montante a investir inicialmente, a necessidade de fazer reforços, o seu perfil de investidor, a sua tolerância ao risco e as estratégias de investimento mais adequadas.
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2.º Determine o seu perfil de investimento e a sua tolerância ao risco
Determinar o seu perfil de investimento é uma etapa fundamental que deve ser cumprida antes de começar a investir, na medida em que tem implicações significativas para o sucesso dos seus investimentos.
O perfil de investimento ajuda a alinhar os investimentos com os objetivos definidos, com o nível de tolerância ao risco e com o período do investimento.
Compreender o seu nível de tolerância ao risco é igualmente crucial no momento da escolha dos investimentos a realizar. Uma menor tolerância ao risco exige investimentos mais conservadores, logo com menor potencial de valorização, enquanto uma maior tolerância ao risco permite opções mais arriscadas, mas que poderão gerar maior rendimento.
Um perfil de investimento bem definido promove consistência, minimiza a tomada de decisões emocionais durante as oscilações do mercado e melhora o desempenho da sua carteira, garantindo que os seus investimentos estão alinhados com as suas características e com os seus objetivos (e não com os de outros).
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3.º Diversifique a sua carteira de investimentos
A diversificação é um princípio fundamental nos investimentos, na medida em que ajuda a reduzir o risco associado a investimentos individuais e pode melhorar significativamente o desempenho da sua carteira.
A diversificação impõe que divida o seu investimento em partes e as aplique em diferentes classes de ativos (como ações, obrigações e ouro, por exemplo), bem como que, dentro de cada classe de ativos, as aplique em ativos com diferentes características (várias indústrias e setores para investimentos ações, diferentes vencimentos e ratings de crédito para obrigações, por exemplo).
Esta diversificação pode ser feita diretamente, ou seja, pelo próprio, o que dá muito trabalho, ou pode ser alcançada indiretamente, através de instrumentos financeiros que reflitam já essa diversificação, como é o caso dos fundos de investimento.
4.º Informe-se (ou então peça ajuda)
O conhecimento é das ferramentas mais poderosas também nos investimentos. Se optar por não contratar serviços de aconselhamento ao investimento, procure informar-se sobre os investimentos que está a pensar fazer.
Entenda alguns conceitos básicos como por exemplo as diferentes classes de ativos, os riscos associados a cada uma delas, o que é o risco de indústria, os efeitos da inflação ou ainda os riscos de investir numa moeda que não seja o euro.
Mantenha-se regularmente informado e procure fontes que garantam um elevado nível de confiança sobre aquilo que vai ler. Esqueça as redes sociais e falsos gurus do investimento. Sítios como a Yahoo Finance, a Bloomberg ou a Seeking Alpha oferecem muita informação sobre mercados, empresas e diferentes instrumentos financeiros onde poderá investir.
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5.º Invista a longo prazo
Investir não é uma corrida de 100 metros para enriquecer rapidamente. É uma maratona para tornar o seu futuro melhor. Se quiser ficar rico rapidamente, investir não é a solução. Mas se quiser construir um bom pé-de-meia para daqui a 10 anos comprar uma casa melhor ou para daqui a 30 anos reformar-se confortavelmente, então investir é o caminho.
Os mercados estão constantemente a subir e a descer. Essas oscilações, conhecidas como "volatilidade", fazem parte do investimento.
Resista à tentação de tomar decisões impulsivas com base em movimentos de mercado de curto prazo. Siga o seu plano de investimento e mantenha-se focado nos seus objetivos de longo prazo. Consistência e paciência são frequentemente fatores-chave para alcançar o sucesso nos seus investimentos.
Costuma dizer-se que o melhor mesmo é esquecer-se que tem aquele dinheiro investido. Mas é importante olhar regularmente para os seus investimentos, de modo a garantir que os mesmos continuam alinhados com os seus objetivos e com a sua tolerância ao risco, para o caso de ser necessário fazer alguns ajustes.
Voltando à estória com que começámos este artigo, é fácil perceber os erros que o Miguel cometeu: começou por investir por impulso, baseado não em conhecimento, mas sim num exemplo de um amigo; depois arriscou tudo num único ativo, sem qualquer diversificação; dificilmente se terá dado ao trabalho de estabelecer objetivos ou de perceber qual seria a sua tolerância ao risco.
Não seja como o Miguel. Antes de investir, tenha em conta estes cinco princípios fundamentais e, se ainda assim não estiver confiante sobre o que vai fazer, procure aconselhamento personalizado junto de um consultor financeiro. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários tem um portal dedicado aos investidores onde poderá encontrar informações muito relevantes. Basta clicar aqui.
Hugo Rosa Ferreira é licenciado em Direito pela FDUL – Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e tem um MBA pelas Universidades Católica e Nova de Lisboa (The Lisbon MBA). Começou a sua carreira profissional na VdA, foi Diretor Jurídico do Deutsche Bank em Portugal entre 2002 e 2005 e sócio coordenador da Área de Direito Financeiro da PLMJ entre 2012 e 2020. Juntou-se à equipa do Doutor Finanças em 2021, como Partner e Board Member e atualmente é Chief Strategy Officer.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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