Quanto ganha por hora? Sabe? Já alguma vez fez essa conta? Quem trabalha à hora, sabe muito bem. Por exemplo, as empregadas domésticas que cobram à hora, sabem muito bem fazer essa conta. Nas oficinas está também afixado publicamente que o valor/hora da mão de obra é de “x” (mas é para o patrão e não para o empregado).
Para quem tem um trabalho fixo e por conta de outrem é uma conta que à primeira vista não parece fazer muito sentido. Mas quando falamos de finanças pessoais, é importantíssimo que faça essa conta. Porquê?
Porque o ajuda a perceber o impacto que cada despesa tem na sua vida financeira. Por exemplo, quem ganha 1.000 euros por mês, divide por 22 e percebe que ganha 45 euros por dia, a dividir por 8 horas de trabalho, dá 5,68 €/hora. Só por curiosidade, há empregadas domésticas a cobrar 7, 8 ou 10 €/hora (mas para ter um rendimento alto teriam de trabalhar MESMO 8 horas por dia, todos os dias).
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Quantas horas de trabalho lhe "custam" um jantar?
Ter este valor em mente ajuda-o a perceber que gastar 40 euros num restaurante equivale a trabalhar 7 horas. Ou seja, teve de trabalhar praticamente 1 dia inteiro só para ir jantar fora. Um telemóvel de 500 euros custa-lhe 88 horas de trabalho, ou seja, 11 dias completos (sem comer, beber, pagar a renda, telecomunicações, etc). Já o obriga a pensar duas vezes antes de cada compra, certo?
O meu objetivo não é deprimi-lo com as minhas contas, é apenas alertá-lo para as consequências de cada decisão financeira que faz na sua vida.
Mas quero ir ainda mais longe. É que esta conta não é verdadeira, é bem pior. É que tem de fazer as contas ao dinheiro que tem de gastar para ir trabalhar: transportes/combustível, alimentação, roupas específicas, etc.
Por exemplo, se tiver de gastar 100 euros em combustíveis e portagens e mais 100 em alimentação para ir trabalhar, o seu rendimento líquido é de apenas 800 euros por mês. Logo, o seu valor/hora baixa para 4,55 €. Qualquer conta que faça a seguir torna-se ainda mais deprimente. Precisaria trabalhar 110 horas (14 dias) para comprar o tal telemóvel de 500 euros.
Qual é o seu "verdadeiro" salário?
Mas quer ter uma visão MESMO realista da sua situação? É que não pode ver o seu salário como um poço sem fundo de dinheiro, que dá para tudo. Para além do dinheiro que tem de gastar para ganhar dinheiro, também tem todas as suas despesas que paga a outros (empresas e instituições) assim que recebe o seu salário e que nunca chega a ser verdadeiramente seu.
Sabe como calcular o seu salário líquido?
Como sabe, já lhe disse várias vezes que o único dinheiro que você “ganha” é o que lhe sobra ao fim do mês. Esse é o seu “verdadeiro” salário. É o valor que tem disponível para você gerir como muito bem entende.
Portanto, a conta realmente assustadora e que lhe devia abrir os olhos é esta: Depois de tudo pago aos outros, o seu salário “mesmo real” é o valor que lhe sobra a dividir por 30 dias (porque você vive todos os dias, também ao fim de semana), a dividir por 8 horas.
Vamos refazer as contas iniciais. A uma pessoa que ganhe 1.000 euros, que gaste 200 euros em transportes e alimentação no trabalho, mais 400 euros de renda de casa, mais 250 euros de alimentação e despesas de casa, mais 100 de eletricidade, gás e água, sobra-lhe 50 euros de salário real para gerir com total liberdade ao longo do mês. Ou seja, depois de pagar tudo a todos (menos a ele próprio), o salário real é de 1,67 € por dia, ou 0,21 € por hora.
É triste fazer esta conta? É! Um telemóvel de 500 euros equivale agora a 10 meses de trabalho. Mas se é assim, como é que “toda a gente” consegue comprar um telemóvel de 500 euros?
A resposta é simples, porque estão sempre endividados, compram em prestações, usam o subsídio de férias, de Natal e o reembolso do IRS para pagar essas compras ou para as compras essenciais que ficam por pagar, pedem emprestado aos pais, irmãos ou amigos, etc.
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Aprenda a dizer "não"
Outra coisa que vai ajudando é o facto de os casais terem ambos um salário e juntos conseguem baixar um pouco esta média. Mas quem não faz contas às suas despesas, para saber se cabem ou não no seu orçamento familiar, andará sempre no fio da navalha, de susto em susto.
Faça as contas ao seu valor/hora real e mude a sua forma de pensar. Começar a planear o seu futuro e aprender a fazer compras planeadas e inteligentes vai mudar a sua vida financeira para melhor. A palavra “não” tem um papel importantíssimo nas suas finanças pessoais. Dizer “não” agora, vai permitir-lhe dizer muitas vezes “sim”, lá mais para a frente.
A ideia é olhar para o seu orçamento mensal e cortar, reduzir, ou renegociar todas as despesas desnecessárias e fazer sobrar mais dinheiro ao fim de cada mês, em vez de cada vez mais mês no fim do dinheiro.
Cada vez que conseguir baixar/renegociar uma despesa fixa do seu orçamento, está a aumentar o seu salário real e simultaneamente o seu valor/hora. Já pensou nisto?
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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