Provérbios populares como “Grão a grão, enche a galinha o papo” ou “No poupar é que está o ganho” dão-nos uma falsa sensação de orientação financeira, como se bastasse poupar para chegarmos a algum lado. Eu também pensava assim. Cada vez que conseguia renegociar um contrato ou reduzir uma despesa ficava super orgulhoso, como se estivesse a vencer o “sistema” e a ficar um pouco mais perto dos meus objetivos.
Só muito tarde na vida percebi que o que muda a nossa vida não é o poupar, mas sim conseguir mais fontes de rendimento (ou aumentar as que tenho) e depois investir essa diferença em vez de a gastar como celebração das minhas conquistas financeiras.
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Mudança de mindset financeiro
Estou a dizer-lhe isto nesta altura em que estamos (quase) todos a passar por maiores dificuldades financeiras porque é a altura ideal para que perceba esta mudança de mindset financeiro. Muito provavelmente, já fez vários cortes e já reduziu gastos em várias áreas da sua vida para fazer frente, por exemplo, ao aumento das prestações do crédito à habitação. Tudo o que fez (renegociar o spread, transferir créditos, consolidar, renegociar seguros, etc.) deu-lhe um ganho real que neste momento não nota, mas que vai notar no futuro quando a Euribor baixar para níveis “normais” (que nunca serão os dos tempos da Euribor negativa).
Será nessa altura que aquilo que lhe estou a dizer agora vai fazer todo o sentido e que poderá começar a mudar a sua vida. Assim que voltar a ter uma pequena, média ou grande margem de poupança, o que vai fazer com ela? Tem duas opções: ou volta à vida despreocupada e despesista de antes; ou mantém o seu nível de vida atual - com menos luxos, é certo - e começa a investir essa poupança para criar uma rede de segurança para a crise seguinte - que virá - ou para começar a preparar o seu futuro e o da sua família.
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“No investir é que está o ganho”
O que gostava que percebesse a partir de hoje é que não é no poupar que está o ganho, é “No investir é que está o ganho”. Mas, para isso, primeiro precisa de facto de poupar. Mas essa é só a primeira parte do caminho, não é o fim em si.
Mas investir em quê, quando e como? É aí que entra a literacia financeira. Não é tão difícil como pensa e não deve deixar-se travar pelo medo do desconhecimento. Leia muito. Pergunte muito. Seja “chato” até perceber que ferramentas financeiras são as ideais para si. E quando perceber como funcionam, experimente com pouco dinheiro até compreender os riscos e vantagens.
A minha vida financeira mudou há poucos anos quando experimentei um investimento sem capital garantido (na altura um fundo de investimento, depois alguns ETF, e posteriormente, fundos PPR) e com uma pequena verba - que estava disposto a perder - consegui em poucos meses um rendimento dezenas de vezes maior do que com todas as minhas poupanças num depósito a prazo.
Depois dessa experiência, já tive anos de muitos ganhos, de ganhos zero, e neste ano, de perdas. E já percebi que estes ciclos de ganhos e perdas são normais e já não me assustam. Na média dos ganhos e “perdas” (só perco se resgatar os investimentos que desvalorizaram), neste momento já estou mais próximo do meu objetivo, que é pagar a minha casa mais cedo. Jamais conseguiria atingir esse meu objetivo apenas poupando: só investindo o que poupo e que ganho com fontes de rendimento extra. Foi a lição que aprendi e que quero partilhar com todos. No meu caso, está a funcionar. Estará na altura de ganhar coragem, perder o medo, e experimentar?
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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