Ao celebrarmos o Dia Internacional da Literacia, neste 8 de setembro, é importante reconhecer que, embora os currículos escolares desempenhem um papel vital na educação financeira, não são suficientes por si só. As famílias são a pedra angular da literacia financeira, fornecendo os conhecimentos e hábitos fundamentais que moldam o comportamento financeiro ao longo da vida.
A importância da família na educação financeira
Com o número de iniciativas relacionadas com literacia financeira a aumentar, existem cada vez mais opções acessíveis. Ao nível escolar, ainda que insuficientes, multiplicam-se os projetos para garantir que a geração mais nova começa, desde cedo, a ter contacto com estes conceitos, tão fundamentais para a sua vida futura.
No entanto, não basta. A aprendizagem em casa, junto da família, ainda é muito relevante.
As famílias são frequentemente o primeiro lugar onde as crianças aprendem sobre dinheiro. Desde a observação da forma como os pais lidam com as finanças, até à participação em discussões sobre o orçamento familiar. As crianças absorvem hábitos e atitudes financeiras desde tenra idade. Esta exposição desde cedo é crucial porque prepara o terreno para a forma como irão gerir o dinheiro em adultos.
A investigação mostra, consistentemente, que o envolvimento da família é um fator-chave no desenvolvimento da literacia financeira. O Journal of Financial Literacy and Wellbeing destaca que a literacia financeira é significativamente influenciada pelas interações familiares. O estudo concluiu que as crianças que discutem assuntos financeiros com os pais têm maior probabilidade de desenvolver hábitos financeiros sólidos e de tomar decisões financeiras informadas. Outro estudo publicado no Journal of Educational Research and Practice confirma que a educação financeira não deve apenas fazer parte do currículo escolar, mas também envolver os pais para reforçar a aprendizagem em casa. Esta abordagem dupla garante que as crianças recebem mensagens consistentes sobre responsabilidade financeira.
Idealmente, que seja um processo semelhante à reciclagem. Aprende-se na escola e aplica-se em casa. Apenas a consistência dos hábitos garante que serão sustentáveis.
Culturalmente, falamos pouco sobre dinheiro em casa e, muitas vezes, quando acontece, não é pelas melhores razões. No entanto, é necessário para ultrapassar desafios. Em casa, existem muitas formas práticas de abordar a literacia financeira:
Incentivar conversas abertas sobre dinheiro: Discuta orçamentos domésticos, objetivos de poupança e decisões financeiras com as crianças para desmistificar a gestão do dinheiro.
Envolver as crianças em atividades financeiras: Inclua as crianças em atividades como compras de supermercado, pagamentos de contas e elaboração de orçamentos. Esta experiência prática ajuda-as a compreender o valor do dinheiro e a importância de fazer escolhas financeiras informadas. O início do ano escolar é uma excelente oportunidade para explicar conceitos como necessidades e desejos, assim como a importância de cumprir o orçamento.
Os pais devem dar o exemplo de um bom comportamento financeiro: Demonstrar hábitos responsáveis de despesa, poupança e investimento pode ter um impacto duradouro nas crianças. As crianças ouvem, mas os comportamentos dos pais falam mais alto.
Utilizar livros, aplicações e jogos concebidos para ensinar conceitos financeiros de uma forma cativante que podem tornar a aprendizagem sobre dinheiro divertida e interativa.
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Desafios chegam cada vez mais cedo
Hoje em dia, com a democratização dos equipamentos eletrónicos e das compras online, por exemplo, os jovens começam a tomar decisões financeiras cada vez mais cedo. Quando esta altura chega, é crucial que muitos conceitos estejam já solidificados.
Adicionalmente, embora a mudança para as finanças digitais apresente inúmeras oportunidades, também traz consigo desafios. A cibersegurança terá de ser uma preocupação, à medida que mais transações financeiras passam a ser feitas por esta via. É vital garantir que as jovens têm os conhecimentos necessários para proteger as suas informações pessoais.
A literacia financeira não se limita à compreensão de conceitos financeiros ou das novas tecnologias; trata-se de capacitar a nova geração para assumir o controlo do seu futuro financeiro num mundo cada vez mais complexo. Relembrar que, para que tudo isto funcione, é importante que os pais sejam, eles próprios, um bom exemplo de hábitos financeiros. Fundamental também é a consistência. Ao ler este artigo, não vá a correr para casa, sentar os seus filhos na cozinha, e começar a apresentar todas as contas que recebeu este mês. O importante é a consistência. Um pouco de cada vez será mais do que suficiente. Se falar sobre estes temas 15 minutos por semana, são 780 minutos por ano…
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Sérgio Cardoso nasceu em Matosinhos, em 1979. Licenciado em Gestão pela Faculdade de Economia do Porto, frequentou The Lisbon MBA, que concluiu em UCLA. Fez grande parte da carreira profissional em media e entretenimento. Atualmente, é Chief Academic Officer no Doutor Finanças, sendo responsável pela Academia do especialista em finanças pessoais, dinamizando toda a área de formação. É ainda consultor, dedicando-se a ajudar empresas nas várias áreas da gestão, o que lhe permite acumular experiências que transmite aos alunos da licenciatura de Gestão, da UCP, onde é professor assistente.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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