A pandemia trouxe muitas alterações às nossas vidas. Modificámos comportamentos, alterámos rotinas e criámos novos hábitos em muitas áreas das nossas vidas pessoais e profissionais. A forma como o Covid-19 “abanou” o mundo, permitiu-nos ter um período de reflexão e de mudança.
Como em todas as crises e momentos de incerteza, surgem sempre oportunidades, desafios e riscos.
Mercados financeiros e a evolução da economia
Por norma, costumamos referir que os mercados financeiros antecipam a evolução da economia. A realidade é que ninguém conseguia antecipar o impacto que um vírus viria a ter na economia global no século XXI. Numa primeira fase, e no momento de surpresa, os mercados financeiros foram reativos, ou seja, caíram de forma forte e dura nos primeiros dias de março. A queda foi a resposta a uma incerteza muito elevada, que se traduziu num confinamento generalizado e num abrandamento abrupto da economia mundial.
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Durante este período inicial e tendo em conta o difícil cenário que estávamos a atravessar, os bancos centrais agiram rapidamente, com medidas de suporte de emergência, que tiveram o objetivo de proporcionarem liquidez às empresas, aos consumidores e aos mercados financeiros. O impacto destas intervenções nos mercados capitalistas foi enorme.
Passados 20 meses do início dos confinamentos, podemos referir que este foi um dos melhores períodos de sempre dos mercados financeiros, com praticamente todos os ativos a valorizarem. As políticas monetárias juntamente com as políticas orçamentais, proporcionaram uma injeção de liquidez nunca antes vista, sendo que muita dessa liquidez foi direcionada para os ativos financeiros e não para a economia, como era suposto.
Durante estes últimos 20 meses, temos sido surpreendidos pela resiliência dos investidores e por alguns comportamentos excessivos.
A questão que fica sem resposta é se os mercados financeiros ainda são um barómetro do futuro da economia, ou se as constantes políticas de injeção de liquidez implementadas a partir da crise do subprime (2007/2008) pelos bancos centrais, vieram desvirtuar a forma lucida como os mercados reagiam.
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Meme Stocks: A guerra dos tronos
Um dos temas mais abordados durante a pandemia, foi a forma como se foram criando grupos nas plataformas digitais que combinavam entre si quais os ativos onde iriam investir. O famoso WallStreetBets Reddit, foi o mais mencionado. Este grupo foi aumentando de participantes que se tornaram fiéis soldados, como se de um exército se tratasse. As conversas dentro do grupo passavam por definir alvos em que todos investiam sem receios, de forma a ganhar volume e dimensão e a permitir a obtenção de um enorme retorno financeiro de uma forma rápida. Outro dos objetivos foi o de combater a forte influência que inúmeros hedge funds têm nos mercados, através da constituição de posições curtas, de forma a tirarem proveito de quedas de empresas que estão em dificuldades.
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Como consequência, diversas empresas tiveram valorizações inexplicáveis em bolsa, com valorizações diárias de 100% ou 200%, que geraram retorno para muitos pequenos investidores e que causaram perdas aos já referidos Hedge Funds. As mais conhecidas foram a Gamestop (empresa de venda física de jogos de entretenimento) ou a AMC (que gere uma rede de teatros nos EUA e internacionalmente). Estes dois exemplos de empresas que tiveram dificuldades em gerar negócio no confinamento, apresentaram crescimentos bolsistas gigantes sem grande consistência como se tem verificado.
Claro que no curto prazo e em função da forma como um conjunto grande de investidores se juntaram para investir nestes títulos, permitiu que as ações valorizassem muito.
Contudo, a tendência no longo prazo é que estes fenómenos tendem a ser diluídos, uma vez que apresentam valorizações que não estão suportadas em dados económico-financeiros.
Como podemos verificar nos gráficos com a evolução dos dois títulos, o mais natural é que no longo prazo a capitalização bolsista deste tipo de empresas se aproxime do nível inicial antes do aumento de volume proporcionado por fenómenos artificiais.
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Squid-crypto: Mais um exemplo e respetiva consequência
Outra tendência que apresentou um grande crescimento com o início da pandemia, foram as cryptocurrencies, com o surgimento e crescimento de inúmeras moedas digitais que não tinham ou têm qualquer propósito por trás.
O exemplo mais recente foi a crypto Squid, que surgiu na sequência da popular serie da Netfix Squid Game. Em 5 dias esta moeda digital subiu 125.000 vezes. Esta valorização gerou muito interesse e muitos investidores inexperientes, com a ambição de querem realizar o ganho das suas vidas, investiram as suas poupanças ou uma parte neste ativo.
A realidade é que no dia 1 de novembro, em 10 minutos, a Squid passou de 2.840 dólares para 0,04 dólares, o que fez com que muitos investidores tivessem perdas de aproximadamente 100%.
Já são conhecidas histórias de investidores que perderam todas as suas poupanças neste tipo de investimentos.
Alerta: Investir não é jogar
O que pretendemos alertar, mais uma vez, é que devemos ter sempre um grande equilíbrio e diversificação nas nossas decisões de investimento. Investir não é jogar, não é apostar.
Um investimento tem ou deve ter sempre por trás um pressuposto lógico, uma análise prévia e uma definição clara do binómio retorno/risco. A racionalidade deve estar sempre presente e é fundamental que não nos deixemos “contaminar” pela euforia que podemos verificar em nosso redor.
Outra das características fundamentais do investimento é o tempo. É muito difícil investir e obter um retorno enorme num curto espaço de tempo. Por este motivo, devemos sempre ter a perceção de que existem momentos de exagero, que devem ser abordados com muita racionalidade, com conhecimento e com uma estratégia bem definida.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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