O nível de literacia financeira dos portugueses melhorou em 2023. Esta é uma das conclusões do 4.º Inquérito à Literacia Financeira, apresentado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros.
Divulgado este mês de abril, o relatório aborda temas de planeamento e gestão do orçamento familiar e da poupança, escolha de produtos financeiros, conhecimentos financeiros e finanças digitais e tem como base entrevistas feitas a 1.510 pessoas maiores de 16 anos, entre janeiro e fevereiro de 2023.
Para que fosse possível comparar os resultados com os de outros países, o inquérito integrou o exercício de comparação internacional dos níveis de literacia financeira da International Network on Financial Education da OCDE (OCDE/ INFE).
É nesse contexto que Portugal aparece no 13.º lugar de um grupo de 39 países no indicador de literacia financeira global.
Nível de literacia sobe impulsionado pela melhoria dos conhecimentos financeiros
O indicador de literacia financeira é composto por três vertentes: atitudes, comportamentos e conhecimentos. Em cada uma delas foram colocadas afirmações e questões, tais como:
- Dá-me mais prazer gastar dinheiro do que poupar para o futuro (Atitudes);
- Faz um plano para gerir o seu rendimento e as suas despesas (Comportamentos);
- Suponha que coloca 100 euros num depósito a prazo com uma taxa de juro anual de 2%. Quanto é que terá na conta ao fim de um ano? (Conhecimentos)
Dependendo da resposta, era atribuída uma pontuação, e os resultados finais foram convertidos numa escala de 0 a 100 para permitir a comparação.
Assim, quando considerados todos os participantes, Portugal teve uma pontuação de 62,7 neste indicador. Apesar de os resultados serem melhores do que os do último inquérito (61,8, em 2020), estão ainda abaixo do registo de 2015 (67,2).
Ao analisar as vertentes que compõem o indicador de literacia financeira, percebemos que a melhoria global se deveu aos melhores resultados no indicador de conhecimentos financeiros. Em 2020, teve 56,6 pontos. Em 2023, subiu para 60,1.
Por outro lado, as vertentes de comportamentos financeiros e atitudes financeiras registaram ligeiras descidas.
O relatório destaca também o facto de os jovens entre os 16 e os 24 anos e as pessoas com menores níveis de escolaridade terem indicadores de literacia financeira mais baixos.
Leia ainda: O poder da literacia financeira
Portugal é 13.º na comparação internacional
39 países, incluindo 20 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), participaram na comparação internacional, na qual são considerados apenas os entrevistados com pelo menos 18 anos.
Aí, Portugal ficou no 13.º lugar no indicador global de literacia financeira, com 63,4 pontos. Este resultado é superior à pontuação média dos países da OCDE (62,7 pontos) e da totalidade dos países participantes (60,4 pontos).
Como estão a literacia financeira digital e bem-estar financeira?
O relatório avalia também os níveis de literacia financeira digital e de bem-estar financeiro em Portugal. No primeiro indicador, o inquérito avaliou questões como a postura em relação a compras online, a proteção de informações pessoais e a compreensão de conceitos financeiros digitais.
Aqui, Portugal teve uma pontuação de 61,1 quando consideradas todas as pessoas inquiridas. Na comparação internacional (relembramos que só são consideradas as pessoas com pelo menos 18 anos), o país ficou em oitavo lugar (61,7 pontos) de um total de 27.
Já o indicador de bem-estar financeiro procura perceber a capacidade das pessoas em cumprir obrigações financeiras atuais e futuras, alcançar objetivos financeiros e lidar com as consequências de choques financeiros previsíveis e imprevisíveis.
Neste caso, Portugal atingiu 61,1 pontos quando considerados todos os entrevistados. A comparação internacional coloca o país em sétimo lugar (51,4 pontos) de um total de 37.
Leia ainda: Educação financeira: Estes filmes podem aumentar os seus conhecimentos
Orçamento, poupança e produtos financeiros: Qual o retrato de Portugal?
Além de classificar os níveis de literacia de quem vive em Portugal, o 4.º Inquérito à Literacia Financeira permite ainda perceber de que forma é que os portugueses gerem o orçamento familiar e a poupança, bem como quais os produtos mais populares.
5 dicas para ajudar a sua família a ter hábitos financeiros saudáveis
Assim, assistiu-se a uma ligeira melhoria face a 2020 na proporção de entrevistados que afirmam ter pelo menos uma forma de planear e controlar o orçamento familiar. Passaram de 80,8% para 82,1%. Ao mesmo tempo, os mais jovens são os que revelam menos preocupação com o planeamento. De acordo com o relatório, este comportamento "está em linha com a maior frequência com que referem que as decisões financeiras são tomadas por terceiros".
No lado da poupança, a percentagem de pessoas que o conseguiu fazer (53,9%) baixou relativamente a 2020 (65%), algo que pode ser explicado pelo contexto pós-pandemia e pelo "início de subida da taxa de inflação e consequente aumento dos gastos das famílias".
O relatório conclui também que 96% dos entrevistados têm uma conta depósito à ordem (era 90,9% em 2020). De resto, os produtos mais detidos são os seguros (43,8%), os cartões de crédito (35%) e os depósitos a prazo (34,2%). O MBway foi aquele que mais cresceu, passando de 15,9% para 33%.
Por fim, é ainda possível destacar que "a maioria dos entrevistados reconhece o impacto da inflação no custo de vida (90,1%) e a relação entre retorno e risco de investimento (73,2%)". Ainda assim, menos de metade compreende a relação entre risco de investimento e diversificação da carteira de ações.
Leia ainda: Os erros financeiros mais comuns e como evitá-los
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário