Se começou a trabalhar recentemente e está a ponderar comprar o seu primeiro automóvel, pode estar a lidar com dúvidas e a questionar-se se este é o passo certo a dar.
Por um lado, a compra de um automóvel requer sempre um investimento, quer se trate de um veículo novo ou de um usado. O problema é que quando este investimento não é devidamente analisado, corre o risco de colocar as suas finanças pessoais em perigo ou ficar com um orçamento mensal muito apertado.
Por outro lado, adquirir um veículo pode trazer-lhe mais autonomia e um conforto adicional ao seu dia a dia.
Por isso, para ajudá-lo a fazer uma análise pormenorizada e tomar uma decisão consciente, vamos deixar-lhe 7 dicas que pretendem ser linhas orientadoras para uma reflexão sobre este investimento.
1 - Está preparado financeiramente?
Embora pareça uma pergunta óbvia, muitas vezes, esquecemo-nos de olhar para as nossas poupanças de uma forma analítica.
A verdade é que se está a pensar comprar um automóvel, certamente, tem algum dinheiro reservado para dar este passo. No entanto, ter algum dinheiro de parte não significa que esteja preparado financeiramente para esta compra.
Por exemplo, se todo o dinheiro que juntou for aplicado nesta compra, não estará a tomar uma decisão precipitada? Imagine que surgem imprevistos após a aquisição do seu automóvel. Como vai fazer face a estas despesas? E se ficar inesperadamente desempregado? Tem um fundo de emergência para ajudá-lo durante este período, onde existe uma quebra de rendimentos? São este tipo de perguntas que deve colocar e conseguir responder.
No caso das suas poupanças cobrirem apenas esta compra e algumas despesas adicionais, talvez seja cedo para dar este passo. Afinal, se analisar bem, o seu objetivo deve passar por aumentar o valor das suas poupanças, para depois dar este passo de uma forma mais tranquila.
Assim sendo, reveja o montante mensal que aplica em poupanças, e tente aumentá-lo gradualmente. Veja se pode fazer ajustes no seu orçamento familiar, como cortar despesas não essenciais, para aumentar, consideravelmente, este valor. Assim que conseguir criar um fundo de emergência "simpático", pode fazer esta compra sem colocar as suas finanças em risco.
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2 - É viável recorrer a crédito?
Para os jovens trabalhadores, a compra de um carro novo, ou mais recente, pode ser complicada se não tiverem acesso a um crédito automóvel, uma vez que falamos de um investimento de milhares de euros. E, tendo em conta os valores em jogo, esta não é uma decisão para tomar de ânimo leve.
Em primeiro lugar, deve ter noção que as entidades bancárias avaliam o perfil de risco dos clientes. Ou seja, vão fazer contas à sua taxa de esforço, ao seu historial, avaliar a sua idade, rendimentos, tipo de vínculo laboral, entre outros pontos, para ver se é, ou não, arriscado conceder-lhe o montante que precisa.
E, nesta etapa, pode enfrentar algumas dificuldades em conseguir um crédito, principalmente se a sua situação financeira e profissional não for estável.
Mesmo que reúna as condições exigidas, recorrer a um crédito nesta fase da vida é a melhor opção? A verdade é que alguns jovens profissionais enfrentam desafios em termos laborais e salariais. Logo, nesta fase, a sua vida pode não estar tão estável quanto gostaria.
Logo, é fundamental pensar a longo prazo. Analise bem se o mais correto é ficar preso a uma prestação mensal durante alguns anos. Não se esqueça que os automóveis desvalorizam assim que saem do stand. E, por isso, este é um tipo de investimento onde dificilmente conseguirá recuperar o dinheiro que aplicou.
Contudo, se está decidido a comprar um automóvel novo ou recente através de um crédito, não se esqueça de analisar diferentes propostas, estar atento às taxas de juro, aos custos com os seguros associados. É essencial que compare, com calma, todas as propostas e escolha a opção mais vantajosa para si.
3 - Faça contas às despesas relacionadas com a compra
Mesmo que os valores não sejam exorbitantes, é importante que equacione todas as despesas que vai ter na hora de comprar o seu primeiro automóvel.
Legalmente, existe a obrigação de alterar o registo de propriedade da viatura quando há uma transferência de propriedade. E, claro, este procedimento tem custos associados que variam se forem feitos online, através da plataforma Automóvel Online ou presencialmente, na Loja do Cidadão ou numa conservatória do registo automóvel.
A juntar a esta despesa, também tem de pagar a alteração do certificado de matrícula, outrora designado por DUA, Documento Único Automóvel, ou livrete.
Informe-se sobre os valores aplicados consoante a sua preferência para tratar destes procedimentos.
4 - Não deixe de fora das contas os impostos que vai pagar
Como vamos analisar daqui para a frente, comprar um automóvel implica passar a ter despesas fixas. E, uma dessas despesas, envolve o pagamento de impostos.
Na maioria dos casos, o proprietário de um veículo está obrigado ao pagamento anual do Imposto Único de Circulação. O valor deste imposto está ligado ao ano da matrícula da sua futura viatura, tipo de combustível, cilindrada e em alguns casos, às emissões de CO2.
A forma mais simples de calcular o valor deste imposto é através dos simuladores que encontra facilmente na internet. Contudo, assim que for proprietário de um veículo, todos os anos, perto do mês da matrícula do seu automóvel, o Portal das Finanças vai notificá-lo para fazer o pagamento.
Dado que é uma despesa anual, esta deve fazer parte do seu orçamento familiar anual. Ao contemplar todas as despesas que terá com o seu automóvel, é mais fácil gerir a sua vida financeira. Assim, se conseguir colocar de parte alguns euros, pode aliviar o impacto das despesas anuais.
Importante ainda referir que se optar por comprar um veículo novo, tem de pagar outro imposto, o ISV - Imposto Sobre Veículos. A grande diferença é que este imposto é pago uma única vez, na passagem para matrícula portuguesa. Ou seja, este imposto é pago quando compra um carro novo ou quando compra um veículo importado que, pela primeira vez, vai ter matrícula portuguesa.
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5 - Avalie o peso do seguro automóvel nas suas finanças
Quando pensamos em comprar um carro, nem sempre temos em conta que o valor do seguro automóvel tem um peso significativo nas nossas finanças.
Em Portugal, o seguro automóvel de responsabilidade civil é obrigatório, e é ilegal circular sem este. Este seguro visa cobrir o risco de ter que indemnizar terceiros por danos causados.
Atualmente, dada a vasta oferta no mercado, os valores de um seguro de responsabilidade civil variam bastante de seguradora para seguradora. É, por isso, fundamental pedir simulações em várias seguradoras assim que escolher o automóvel que vai comprar.
Por exemplo, existem seguradoras que conseguem oferecer melhores condições, outras que reduzem bastante o valor quando este é pago anualmente. Para encontrar a melhor solução, tem mesmo de comparar simulações.
Além disso, os proprietários com veículos mais recentes, costumam preferir um seguro com coberturas adicionais, os designados seguros contra todos os riscos. Este tipo de seguro tem um valor mais elevado e é necessário fazer uma análise para perceber se o valor que vai pagar compensa.
Contudo, o que queremos realçar neste ponto, é que esta é uma despesa com um valor significativo. Logo, para saber se consegue suportá-la vai ter de olhar para o seu orçamento familiar.
6 - Não ignore as despesas de manutenção e as obrigações
Comprar um automóvel acaba sempre por representar um acréscimo de despesas à sua vida. E, neste ponto, as despesas com a manutenção, obrigações legais, e claro, o próprio consumo, podem ser uma fatura pesada no final de cada ano.
Anualmente, o seu carro vai ter de fazer a devida manutenção para evitar problemas maiores, ir à inspeção. Já para não falar de pequenas ou grandes avarias que possam surgir. A juntar a estas despesas, ainda tem de abastecer regularmente, pagar portagens ou estacionamento.
Tenha em conta que é muito comum surgirem despesas inesperadas com avarias. Por isso, precisamos de ter alguma margem financeira para lidar com estas situações.
7 - Compra de usados pode representar custos adicionais
Comprar um automóvel novo pode ser "um descanso", pois está coberto pela garantia da marca durante dois anos. Já no caso dos carros usados vendidos num stand automóvel, existe a obrigação de dar uma garantia mínima de 1 ano.
Mas, o maior desafio é comprar um automóvel usado a um particular. Porquê? Porque o antigo dono não tem qualquer obrigação legal em conceder uma garantia. Nestas situações é preciso ter cuidados adicionais. Afinal, não quer pagar além do valor do automóvel o arranjo de peças ou problemas omitidos.
Caso não tenha conhecimentos alargados nesta área, pode compensar pagar a um mecânico da sua confiança para testar o automóvel que pretende comprar. Embora existam probabilidades de o mecânico não detetar todos os problemas, pode aconselhá-lo sobre a compra que pretende fazer.
Os veículos usados têm avarias com maior frequência devido ao desgaste das peças e de outros componentes. No entanto, para quem está a fazer um investimento significativo, a última coisa que quer é lidar com despesas adicionais por falta de transparência.
Por isso, sugerimos que fale com os proprietários e pergunte se existem problemas com o carro, quais as reparações já feitas, e se têm faturas que sirvam como comprovativo. Depois, informe que o seu mecânico vai testar o automóvel.
Caso sejam detetados problemas e avarias, pese na balança se o preço a pagar e o estado atual do carro, compensa a compra.
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Faça um balanço antes de decidir
Identificadas as despesas que vai ter com o seu primeiro carro, é hora de fazer um balanço. Olhe para o seu orçamento familiar, tente perceber a viabilidade de suportar todas as despesas adicionais. Caso verifique que não estão reunidas todas as condições, não desanime. Faça um plano para conseguir alcançar esta meta.
Veja o que precisa de melhorar, se são as suas poupanças, o nível de rendimentos ou até os seus critérios na hora de escolher um veículo. Por exemplo, é comum desejar um automóvel de gama superior, mas será que é a melhor resposta às suas necessidades reais? Faça esta reflexão.
Ainda que o seu orçamento atual apenas lhe permita comprar um carro de gama média, não significa que, no futuro, quando a sua situação financeira melhorar, não compre "o carro dos seus sonhos".
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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