Aprender a pensar como um economista está ao alcance de todos e existem ideias e conceitos que a Economia pode ajudar a clarificar em matéria de finanças pessoais. Além de nos ensinar a ver o mundo de uma perspetiva diferente, pode apoiar o desenvolvimento de importantes estratégias de poupança.
Assim, a Economia estuda o modo como agimos e tomamos decisões sobre o uso de recursos. Esta ciência parte de pressupostos, teorias e princípios económicos que os economistas utilizam para tirar conclusões e fazer previsões.
Neste artigo, reunimos algumas "perspetivas" por onde passa o pensar de um economista para que possa tomar melhores decisões financeiras no seu dia-a-dia.
1. Tudo tem um valor e esse valor é subjetivo
Em Economia, "não há almoços grátis". Ou seja, tudo tem um valor mesmo aquilo pelo qual não pagamos. E para pensar como um economista também não deve confundir valor com preço ou custo. São três conceitos diferentes. Na verdade o valor é um conceito subjetivo e muito pessoal. Está relacionado com a importância que atribuímosàs coisas, ou antes, aos recursos que nos podem beneficiar. Mas nem todos reconhecemos o mesmo valor a tudo e a mesma coisa terá certamente valores diferentes para pessoas diferentes. Tudo depende das nossas preferências, pode variar com a idade, cultura e com o modo de vida.
Embora a grande motivação do ser humano para agir seja o quanto isso o vai beneficiar, é importante perceber que nem todos valorizamos as coisas da mesma forma. Por exemplo, vamos supor que uma caneta tem o preço de 20 euros. Objetivamente custa 20 euros, mas para si pode valer mais ou menos do que para outra pessoa. Logo, tomamos decisões diferentes e não temos todos as mesmas prioridades. Nem todos vão aceitar comprar a caneta por 20 euros porque podem preferir comprar uma caneta mais barata se, de facto precisarem dela. Outros, podem ser colecionadores, gostar da cor, da marca ou do formato e até considerarem que tem um valor superior. A ideia de que tudo tem um valor pessoal e pouco transmissível é conhecida como a "teoria subjetiva do valor".
2. Custo e preço são coisas diferentes
Preço e custo são conceitos diferentes. Mesmo o que é tendencialmente gratuito como a saúde e a educação tem um custo. Embora não seja preciso pagar esses serviços, o custo é suportado pelos nossos impostos. Ou seja, por uma parte do salário que é retido para o IRS.
Custo em economia significa o que deixa de consumir ou o que sacrifica. Por exemplo, para ir ver o último filme que estreou no cinema precisa de pagar um bilhete de oito euros. Com esses oito euros poderia tomar uma bebida, comer um gelado, visitar uma exposição ou juntar dinheito para comprar uma peça de roupa nova. Portanto, o custo de ir ao cinema foi a bebida, o gelado, a exposição a que deixou de ir pelos mesmos 8 euros.
Mas o custo pode também significar tempo. Por exemplo, ir ao médico ou fazer uma cirurgia no setor público pode não implicar ter de pagar dinheiro, mas pode custar o seu tempo. Pode ter de ficar numa lista de espera. Resumindo, nem tudo tem um preço (monetário), mas tudo tem um custo.
3. Custos afundados: os custos que não vai recuperar
"Não vale a pena chorar sobre leite derramado". Esta popular expressão popular ensiná-lo-à a pensar como um economista. Significa que o que está feito, está feito. Os custos afundados ou, em inglês, sunk costs. são aqueles custos que são irrecuperáveis, por isso, o que há a fazer é assumi-los e esquecer. Os únicos custos que se devem considerar nas nossas decisões são os "custos de oportunidades futuras".
Os custos passados são “afundados”. Voltemos ao exemplo do cinema. Gastamos 8 ou 12 euros para assistir a um filme de três horas com o nosso ator preferido. Mas percebemos na primeira hora que o filme é um flop. Sentimos que estamos a perder tempo. No entanto, ninguém nos vai devolver o dinheiro do bilhete. Logo, não vale a pena pensar nesse dinheiro perdido.
4. Custo de oportunidade: as decisões não são por acaso
Continuamos a falar de custos, de decisões e de oportunidades. Porque pensar como um economista exige fazer escolhas. Para podermos escolher consideramos diferentes alternativas que nos trazem diferentes níveis de compensação ou benefícios. Por exemplo, se escolher gastar todo o ordenado e não poupar uma parte, no futuro não terei feito poupanças para o futuro. Ou seja, o custo de oportunidade de gastar tudo o que ganho é não conseguir ter outros bens mais valiosos no futuro.
Os economistas ligam o conceito de custo de oportunidade com o de benefício marginal de uma escolha sobre outra. Ou seja, qual a decisão que mais me vai beneficiar? Afinal, o que todos desejamos, quer individualmente, quer como sociedade, é aumentar o nosso bem-estar ou, se preferir, a nossa felicidade.
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5. Tradeoffs: a difícil tarefa de escolher
Já sabemos que pensar como um economista implica tomar decisões tão equilibradas quanto possível. Isto porque existem tradeoffs (que podemos traduzir por "trocas") e estas variam entre eficiência e equidade. Não podemos ter níveis máximos de ambas. Escolher mais eficiência na aplicação dos recursos pode implicar reduzir a equidade na sua distribuição. Como escolher? Esta escolha vai ser sempre influenciada pelos nossos valores e cultura. Mas é possível introduzir aqui uma certa dose de equilíbrio se trabalharmos "no fio da navalha". Isto é, se olharmos para o benefício marginal e para o custo marginal de cada ação.
Marginal significa a unidade adicional ou extra. Toda a vez que tomamos uma decisão é como se estivéssemos a calcular o benefício marginal (o benefício de mais uma unidade) e o custo marginal (o que seria despendido para adquirir mais uma unidade) da ação. A forma económica de pensar diz que algo deve ser feito até que o benefício marginal seja igual ao custo marginal.
6. Vantagem comparativa: produzir mais ou mesmo com menos custo
Vantagem absoluta e vantagem comparativa são conceitos essenciais para pensar como um economista e tomar decisões inteligentes e racionais. Aqui entram todos os outros conceitos como o custo de oportunidade e os custos e os benefícios marginais. Nas trocas comerciais entre regiões ou países diferentes são essenciais para saber no que cada um é melhor. Depois troca com os outros e consegue ter o que precisa com menos esforço, menos custos e mais eficiência do que se produzisse tudo o precisa.
Mas vamos por partes. Vantagem absoluta significa ser capaz de produzir mais que outro com a mesma quantidade de recursos. Em vez disso também se pode dar o caso de conseguir usar menos recursos para produzir uma determinada quantidade. Há vários fatores que podem contribuir para que uma região ou país consiga estar em vantagem em relação aos outros. Podem ser razões climáticas, culturais, recursos naturais, recursos humanos qualificados.
Já vantagem comparativa significa ser capaz de fazer algo com um custo de oportunidade menor do que outro.
Como há sempre um custo de oportunidade quando se faz algo, às vezes é vantajoso pagar alguém para fazer algo mesmo que tenhamos o conhecimento e as habilidades para fazê-lo. Ou seja, só porque conseguimos produzir ou fazer determinados trabalhos não significa que devamos fazê-lo. Sendo que o tempo também é um recurso.
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7. Custos invisíveis: não os vê, mas estão lá
Intenções e resultados nem sempre são a mesma coisa. Pensar como um economista requer que considere as possíveis consequências (que podem incluir custos) das suas ações e atitudes mesmo as que não são intencionais. De facto, só porque algo soa bem ou parece certo, não significa que um determinado objetivo será alcançado ou que, mesmo que seja atingido, não venham a existir danos colaterais. Esses "danos" são os chamados custos invisíveis. São gastos despercebidos e que não estão objetivamente contabilizados.
Numa empresa os custos invisíveis podem dizer respeito à criatividade, reuniões eficazes, harmonia entre os colaboradores, rotatividade de pessoal e podem comprometer o respetivo desempenho financeiro. Esses custos não aparecem nos orçamentos e tendem a não ser analisados. Logo, não são planeados ou controlados.
Na vida doméstica esses custos invisíveis também estão presentes, por exemplo, nas suas decisões de consumo.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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