Nem de propósito. Quinze dias antes, avisei numa crónica que via muitos sinais de que os excelentes Certificados de Aforro da Série E estariam prestes a acabar.
Durante cerca de 6 meses os portugueses aproveitaram - e de que maneira - os juros de 3,5% dos Certificados de Aforro da Série E. Atingiram o máximo previsto por lei que, recordo, ao fim de 10 anos podiam chegar - teoricamente - aos 4,5% com a soma dos prémios de permanência.
Bem dito, bem feito. Aconteceu exatamente como escrevi: até no pormenor da sexta-feira à hora do jantar, para que ninguém tivesse tempo de ir a correr aos Correios subscrever mais algum dinheiro nessa série.
Os Certificados de Aforro da Série F entraram em comercialização na segunda-feira seguinte, dia 5 de junho. Agora a questão é: será que os novos Certificados de Aforro continuam a compensar apesar de renderem menos?
Para quem já tinha os da série E e anteriores, continua tudo como está. Continuam - de 3 em 3 meses - a ver refletidas as condições contratadas até atingirem os 10 anos de maturidade.
O que muda é apenas para quem queria subscrever mais Certificados de Aforro nos próximos meses. Agora já só poderá subscrever ou acrescentar aos que tinha, os da Série F, que renderão no máximo 2,5% em vez de 3,5%.
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As novas regras dos Certificados de Aforro
O prazo é mais longo, 15 anos em vez de 10, e prevê uma remuneração crescente ao longo do tempo, com vários prémios de permanência.
Tal como na série anterior, a taxa base aplicável à Série F é determinada mensalmente, no antepenúltimo dia útil do mês, para vigorar durante o mês seguinte. Essa taxa base corresponde à média dos valores da Euribor a 3 meses observados nos 10 dias úteis anteriores.
A taxa base nunca poderá ser superior a 2,50% nem inferior a 0%. Ou seja, tem igualmente capital garantido. Como a Euribor a 3 meses já está superior a 2,5 quer dizer que esta série F começa já com o valor máximo possível. A partir daqui já só pode descer.
A anterior ainda somava 1% à Euribor a 3 meses. Essa possibilidade também foi alterada. Ou seja, se a Euribor descer dos 2,5%, o rendimento destes novos Certificados de Aforro começa a baixar também imediatamente. Os anteriores ainda tinham uma “almofada” de 1%.
A estrutura de prémios de permanência crescentes começa em 0,25% entre o 2.º e o 5.º ano e permite atingir 1,75% adicionais à taxa base nos últimos 2 anos do prazo máximo de subscrição:
- Ano 1: Sem prémio de permanência
- Anos 2 a 5: +0,25%
- Anos 6 a 9: +0,5%
- Anos 10 e 11: +1%
- Anos 12 e 13: +1,5%
- Anos 14 e 15: +1,75%
O mínimo de subscrição são 100 euros, e o máximo será de 50.000 euros, em vez de 250 mil euros. Se já tem Certificados de Aforro da Série E, a soma dos 2 não pode ultrapassar os 250 mil euros.
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Continuam a valer a pena?
Sim! Em comparação com os juros que os bancos estão a pagar, subscrever Certificados de Aforro da Série F continua a ser uma excelente opção. É menos bom, mas continua a ser bom. Tem de comparar com a oferta que o seu banco tem atualmente e nos bancos da concorrência (desde que não tenha outro tipo de despesas, como comissões) e se não conseguir melhor, mude. E rápido.
Só mantém o seu dinheiro no banco se eles lhe oferecerem mais de 2,5% brutos. Por ano, não é a 3 ou 6 meses. Se for menos, é tirar e colocar em Certificados de Aforro da Série F.
A subscrição dos Certificados de Aforro da Série F pode ser realizada através do AforroNet (aforronet.igcp.pt), nas lojas dos CTT, e na rede de Espaços Cidadão. No futuro, alguns bancos talvez os comercializem também, mas duvido que estejam interessados.
As propostas dos bancos
Alguns bancos estão a oferecer juros acima dos 2,5%, mas pergunte sempre qual é o prazo e o que acontece quando acaba. Lembre-se sempre que um depósito a prazo de 4% TANB (anual) a 6 meses, na realidade é de apenas metade (2%). É uma ilusão e uma armadilha.
Veja também se tem de contratar algum serviço ou produto para ter acesso a esse depósito a prazo. Se tiver de pagar comissões ou anuidade de alguma coisa, o juro já pode não compensar.
E analise se o depósito a prazo é mobilizável ou não. Se ficar com o dinheiro “preso” durante 1, 2 ou 3 anos é um risco se precisar desse dinheiro entretanto. Nos Certificados de Aforro, após 3 meses pode levantar quando quiser e capitaliza os juros, coisa que não acontece em 99% dos depósitos a prazo.
Para além disto, muitos destes depósitos “bons” exigem um valor mínimo de subscrição que é alto e inacessível a muitos aforradores. Nos Certificados de Aforro o mínimo são 100 euros e depois disso pode ser de 10 em 10 euros. Para as poupanças dos miúdos, por exemplo, é muito bom.
Para saber que depósitos são melhores do que os Certificados de Aforro, basta pesquisar no Google “Melhores depósitos a prazo” e terá logo imensas alternativas para analisar com detalhe. Mas não se deixe enganar com os números “gordos”. Leia todas as letras miudinhas.
A lição que lhe quero transmitir no fim disto tudo é que deve mudar para melhor sempre que encontrar uma alternativa que seja mais rentável para si. Mas não fique à espera para ver o que acontece, com medo de tudo e mais alguma coisa.
Houve pessoas que estavam a pensar em fazer os Certificados de Aforro daqui a uma semana ou no mês que vem. Esta oportunidade - da Série E em máximos de sempre - já existia desde o final do ano passado. Passaram mais de 6 meses. É o risco de não avançar quando é a altura.
Se não foi a tempo da série anterior, agora não tem desculpa para não aproveitar esta (antes que a alterem outra vez)... Mais vale ganhar menos do que não ganhar nada.
Se, entretanto, os bancos tiverem um rebate de consciência e decidirem aumentar os depósitos a prazo para valores que se vejam, é simples, retira dos Certificados de Aforro e regressa aos depósitos a prazo para os bancos.
Se tem dinheiro à ordem e não sabe o que fazer com ele, continua a ter esta excelente alternativa. Não deixe o seu dinheiro a perder (ainda mais) para a inflação.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
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