À medida que as crianças vão crescendo, surgem muitas dúvidas, uma vez que estão constantemente expostas a novas experiências e situações. E são todas estas aprendizagens que as fazem amadurecer e evoluir enquanto seres humanos. Embora não seja fácil, muitas vezes, é preciso deixar que os filhos cometam erros para aprenderem com eles. Por exemplo, quando está a ensinar os seus filhos a gerirem o seu dinheiro, não deve interferir nas escolhas que as crianças ou jovens fazem.
Aqui, pais e mães devem assumir o papel de treinadores. Depois de explicar a tática para o jogo, deve olhar atentamente para os seus jogadores e afinar a estratégia do banco, caso seja necessário. Mas não pode entrar em campo e fazer o trabalho que não lhe compete. Ou seja, pode aconselhar os mais novos, mas não pode tomar decisões por eles.
Vamos supor que está a dar uma semanada ou mesada aos seus filhos para que eles consigam gerir o seu dinheiro. No caso de conceder uma semanada, se durante as primeiras duas semanas o seu filho gastar todo o dinheiro logo no início, é normal que queira intervir ou acabar com a semanada. Mas lembre-se que, com este erro, tem a possibilidade de lhe explicar melhor a importância de gerir bem o dinheiro.
Caso tenha dúvidas do que deve fazer nesta fase, de seguida, conheça quatro dicas úteis para ajudar os seus filhos a gerirem o seu dinheiro corretamente.
1 - Mostre-lhe como gere o orçamento da sua família
Por vezes, algumas crianças não conseguem perceber a importância de gerirem a sua semanada ou mesada porque não têm referências suficientes para tal. É natural que os pais não passem as preocupações financeiras para os filhos. Mas isso não significa que não possa mostrar como é feita a gestão mensal do orçamento e porque é que é preciso ter uma gestão cuidadosa do dinheiro para pagar todas as contas da casa.
Assim, comece por explicar o que é um orçamento familiar e compare essa realidade à semanada ou mesada do seu filho. Mostre-lhe que um orçamento é composto pelos rendimentos totais e por todas as despesas. Depois, que os rendimentos devem cobrir as despesas essenciais, as não essenciais e ainda serem alocados a uma poupança, sempre que possível.
Caso tenha o seu orçamento familiar feito numa aplicação ou até numa folha de Excel, pode mostrá-lo aos seus filhos. Por exemplo, se o orçamento é composto por um montante de 1.800 euros, e paga uma prestação de crédito de 550 euros, um crédito automóvel de 200 euros, despesas essenciais da casa que rondam os 200 euros, encargos com a alimentação de 300 euros e encargos adicionais com outras despesas mensais de 150 euros, só para despesas fixas precisa de guardar 1.400 euros do seu orçamento total.
Assim, sobram-lhe 400 euros para gastos não essenciais e poupanças. Se colocar 180 euros em poupanças (10% do seu orçamento familiar), fica com 220 euros para outras despesas, sejam estas de lazer ou outro tipo de gastos.
Claro que não precisa de mostrar todas estas contas aos seus filhos, até porque pode ser demasiada informação para assimilar. No entanto, eles ficam com a noção de que a gestão tem de ser feita estrategicamente. Caso contrário, podem não ter dinheiro para pagar os bens essenciais.
2 - Ensine que o dinheiro acaba
Um dos erros mais comuns que os pais cometem ao ensinarem os seus filhos a gerirem o seu dinheiro é fazerem reforços nas semanadas ou mesadas quando as crianças/jovens gastam o dinheiro rapidamente. Se for o seu caso, saiba que não está a ajudar o seu filho, mas sim a incentivar uma má gestão financeira, feita com fundos adicionais.
Na vida adulta, isto pode refletir-se no recurso a soluções, como cartões de crédito. Ou seja, como o dinheiro do orçamento não chega para pagar as contas, acaba por recorrer a créditos para cumprir este objetivo. Se der dinheiro ao seu filho por ele ter esgotado a semanada ou mesada nos primeiros dias, ele não vai perceber que o dinheiro é limitado. Logo, pode acabar por incentivar um perfil consumista.
Para contornar esta situação, volte a explicar para que serve a semanada ou mesada. Explique-lhe onde ele deve e não deve gastar o dinheiro. Reforce a ideia de que, se o dinheiro acabar mais cedo, não terá acesso a mais. Por isso, antes de gastá-lo em qualquer coisa, deve pensar se essa é a decisão mais correta e se precisa mesmo de fazer aquela compra.
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3 - Se as conversas não estão a dar frutos, recorra a livros, jogos e atividades
Dependendo do perfil e da maturidade dos seus filhos, pode não ser fácil captar a sua atenção através de conversas em torno do dinheiro. Assim, para que os filhos aprendam a gerir o seu dinheiro, pode tentar incutir bons hábitos através de formas mais divertidas, como jogos virtuais, de tabuleiro, de memória, livros infantis e até de peças ou filmes que ensinem sobre literacia financeira.
Ao contrário do que pode pensar, hoje em dia existem inúmeras opções que mostram a importância de as crianças aprenderem a gerir o seu dinheiro.
Por exemplo, existem várias opções de livros, entre elas o Doutor Finanças e Bata Mágica, com o qual o seu filho pode aprender a poupar através do método "gastar, guardar, ajudar". Este método simples consiste em dividir o orçamento em três mealheiros com finalidades diferentes: um serve para os gastos imediatos, outro para poupar e o terceiro para ajudar quem precisa.
Em 2022, o livro "Doutor Finanças e a Bata Mágica" ganhou vida e passou para os palcos em forma de teatro musical. Com esta peça, foram muitas as crianças que aprenderam de forma divertida a importância de saberem gerir o seu dinheiro.
Contudo, existem muitas outras opções para tornar esta aprendizagem mais divertida e apropriada a várias idades. Se as conversas não estiverem a surtir o efeito desejado, não cruze os braços e tente outras formas mais cativantes de passar esta mensagem.
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4 - Dê o exemplo, se quer ajudar os seus filhos a gerirem o seu dinheiro
De pouco ou nada adianta ter um discurso bem elaborado sobre como os seus filhos devem gerir o dinheiro, se eles virem os pais a adotarem más práticas de gestão financeira. Por isso, é muito importante que dê o exemplo. Lembre-se que as crianças acabam por copiar os comportamentos dos pais, principalmente quando são mais novas.
Logo, aproveite este facto, e leve o seu filho consigo às compras, explique o porquê de comprar ou não comprar certos produtos, mas também os motivos que o levam a não gastar dinheiro em coisas não essenciais.
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