Se perdeu o seu emprego recentemente ou está desempregado há algum tempo, poderá sentir dificuldades em manter os gastos que tinha anteriormente. Afinal, mesmo em condições normais de desemprego involuntário, o subsídio de desemprego atribuído pela Segurança Social equivale, regra geral, a 65% do valor que ganhou durante os primeiros 12 dos últimos 14 meses em que esteve empregado. Mesmo havendo casos em que o valor pode ser majorado, nunca ultrapassa os 75% do salário líquido que ganhava anteriormente.
Assim, no melhor dos cenários, estamos a falar de uma perda de rendimentos que ronda os 25% a 35%. E em muitos agregados familiares, esta redução pode colocar em risco a situação financeira, podendo até levar ao incumprimento, se não houver uma almofada de segurança que cubra esta quebra de rendimentos.
Caso esteja preocupado com a sua situação financeira, apresentamos seis passos para reduzir os seus encargos mensais e equilibrar as suas finanças pessoais.
1 - Analise se tem algum seguro com a cobertura de desemprego
Em alguns casos, quando contrata um crédito, a instituição financeira "obriga-o" a contratar um determinado seguro. E existem apólices que têm uma cobertura de desemprego, que assegura as mensalidades desse financiamento durante um período específico. Contudo, nem sempre nos lembramos de todas as coberturas incluídas num seguro associado a um crédito. Por isso, se tem um crédito habitação ou um crédito pessoal, confirme se não contratou um seguro que inclui esta cobertura, que lhe permitirá reduzir os seus encargos até organizar a sua vida profissional.
Quando tem um crédito habitação, há dois seguros exigidos pelos bancos: o seguro de vida do crédito habitação e o seguro multirriscos. Neste caso, o seguro multirriscos diz respeito ao seu imóvel. Mas o seguro de vida do crédito habitação diz respeito aos titulares do crédito. Logo, este tem opções de coberturas por morte, por Invalidez Total e Permanente (ITP), cobertura por Invalidez Absoluta e Definitiva (IAD), mas também pode ter outro tipo de coberturas, como é o caso da cobertura de desemprego.
A cobertura de desemprego é uma opção comum nos seguros de vida. Contudo, nem sempre é contratada, uma vez que eleva o valor da apólice. Se não tem a certeza das coberturas que optou por incluir, deve rever a sua apólice para garantir que não está a perder uma oportunidade de poupar na mensalidade do seu crédito habitação.
Já se tiver um crédito pessoal ou outro tipo de crédito ao consumo, há instituições de crédito que incentivam a contratação de um seguro de proteção ao crédito ou um seguro de desemprego, para garantirem o pagamento das mensalidades, evitando o risco de incumprimento. Se tem este tipo de seguro, saiba que o seu objetivo é garantir-lhe os seus rendimentos perante uma situação de desemprego involuntário. Logo, deve acionar esta cobertura para estabilizar a sua situação financeira.
Em qualquer um dos casos, é essencial que confirme quais são as condições para acionar esta apólice. Ou seja, deve confirmar qual é o período de carência, quantos meses de trabalho ativo precisa de reunir, entre outras condições estipuladas.
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2 - Tem um crédito habitação? Tente renegociar as condições
Quando um cliente fica desempregado, passa a estar automaticamente numa situação financeira mais vulnerável. Logo, se tem um crédito habitação, deve entrar em contacto com a instituição onde tem o seu financiamento e alertar que, neste momento, se encontra numa situação de desemprego.
De acordo com o Banco de Portugal, ao longo da vigência do crédito, os clientes devem ter uma atitude preventiva, antecipando eventuais dificuldades de cumprimento, e alertarem as instituições de crédito para a possibilidade de não conseguirem pagar as suas prestações de crédito.
Já as instituições de crédito também devem acompanhar mensalmente os contratos de crédito dos seus clientes, para tomarem as diligências necessárias de forma a identificarem riscos de incumprimento. Assim que esse risco é identificado, as instituições devem implementar um plano de ação para o risco de incumprimento, o PARI.
Nestes casos, deve ser feita uma avaliação da capacidade financeira do cliente. Se a instituição chegar à conclusão que dispõe da capacidade financeira para evitar o incumprimento, tem o dever de propor-lhe uma proposta adequada à sua atual situação financeira, aos seus objetivos e necessidades. E esta proposta deve ser apresentada no prazo de 15 dias.
Na prática, durante este período, pode beneficiar de uma ou mais das seguintes alterações ao seu contrato de crédito habitação:
- Redução da taxa de juro do contrato durante um determinado período;
- Diferimento de parte do capital para uma prestação numa data futura;
- Fixação de um período de carência de reembolso do capital ou reembolso do capital e do pagamento de juros;
- E o alargamento do prazo de amortização do contrato.
Durante este período, a instituição de crédito não pode cobrar-lhe comissões nem agravar a sua taxa de juro em consequência da renegociação das condições no âmbito do PARI. Contudo, saiba que a sua situação financeira vai ser avaliada frequentemente até que consiga estabilizar as suas finanças. Caso já esteja numa situação de incumprimento, informe-se sobre o Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento (PERSI).
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Embora não precise estar desempregado para recorrer a uma renegociação de crédito, saiba que tipo de poupança pode obter se baixar a sua taxa de juro ou alargar o prazo do seu contrato.
Exemplos:
Vamos supor que tem um crédito habitação com um capital por liquidar de 100.000 euros, faltam-lhe pagar 300 prestações e atualmente a sua TAN encontra-se nos 4,5%. Isto significa que a sua prestação mensal é neste momento de 555,83 euros. Se o banco reduzir a sua TAN para 3,9% durante um determinado período, a sua prestação passa para 522,33 euros. Ou seja, tem uma poupança mensal de 33,50 euros.
Noutro cenário, com o mesmo capital em dívida e uma TAN de 4,5%, vamos supor que a proposta é passar de 300 prestações (25 anos) para 360 prestações (30 anos). Aqui a sua prestação mensal passa de 555,83 euros para 506,69 euros. Embora esta poupança seja mais significativa (49,14 euros mensais) vai pagar mais juros no final do contrato. Neste caso, se fosse uma taxa de juro fixa, pagaria mais 15.656,97 euros de juros. Isto porque com um crédito a 25 anos com estas condições os juros seriam de 66.749,74 euros e com um crédito a 30 anos passariam para 82.406,71 euros.
Contudo, se esta redução na sua prestação não for suficiente para evitar uma situação de incumprimento, a instituição de crédito deve apresentar uma proposta com várias condições temporárias para conseguir cumprir com as suas obrigações.
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3 - A maioria dos seus encargos está relacionada com diversos empréstimos? Avalie o crédito consolidado ou o multiopções
Em muitos agregados familiares, os encargos com créditos representam uma grande parte do orçamento mensal. Além do crédito habitação, se tem, por exemplo, um crédito automóvel, um crédito pessoal e cartões de crédito por liquidar, saiba que pode reunir as condições necessárias para baixar estas prestações, através de um crédito consolidado ou de um crédito multiopções.
O crédito consolidado permite-lhe juntar todos os seus créditos num só, com uma taxa de juro única que é, por norma, mais baixa do que a média das taxas de juro de todos os créditos que contratou. Assim, ao baixar os juros, pode poupar até cerca de 60% nas suas mensalidades. O que pode se pode traduzir em centenas ou milhares de euros, dependendo do número de créditos que tem, do capital em dívida e dos juros associados. Para tal ser possível, tem de possuir, no mínimo, dois ou mais créditos ao consumo, não estar em incumprimento e ter uma situação profissional estável.
Se for proprietário de um imóvel, também pode reduzir os seus encargos com créditos através da contratação de um crédito multiopções, que é idêntico ao crédito hipotecário, com taxas de juro e prazos de financiamento mais atrativos em comparação aos créditos ao consumo.
Estando o multiopções associado a um imóvel, que pode estar livre de ónus ou ter um crédito habitação associado, pode obter um valor extra de financiamento ao fazer uma hipoteca ou segunda hipoteca do seu imóvel. Com este valor extra, pode liquidar totalmente ou de forma parcial todos os seus créditos ao consumo, reduzindo significativamente os seus encargos nesta fase em que está desempregado.
Mas atenção. Para um banco lhe conceder um crédito multiopções vai ter de avaliar o seu LTV (que de acordo com as normas do Banco de Portugal não pode exceder os 80%) e a sua taxa de esforço (não pode superar os 50% já tendo em conta a nova prestação do crédito multiopções). Em caso de dúvida, pode recorrer ao simulador da taxa de esforço para ajudá-lo com estes cálculos.
4 - Uma nova realidade exige um novo orçamento familiar
Numa situação de desemprego, um passo fundamental é criar um novo orçamento familiar, que contemple todos os seus encargos e rendimentos, que provavelmente serão menores nesta fase.
Como rendimentos deve colocar o subsídio de desemprego, o valor que recebe de um eventual seguro de desemprego e/ou outras prestações sociais (caso se aplique).
Depois, deve identificar todas as suas despesas essenciais, como a prestação do crédito habitação ou renda da sua casa, outras prestações de crédito, despesas com alimentação, saúde, contratos de água, eletricidade, gás e telecomunicações, encargos com a educação dos seus filhos, seguros, transportes, entre outros gastos.
Caso seja comum gastar dinheiro noutro tipo de despesas não essenciais, deve também colocá-las no seu orçamento familiar. É importante que identifique estes encargos, pois caso tenha de fazer alguns cortes, sabe quais são as primeiras despesas que pode eliminar para ganhar uma folga financeira.
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5 - Se está desempregado, a palavra de ordem é "cortar"
Como referido, manter o mesmo estilo de vida quando está desempregado não deve ser uma prioridade. Afinal, nesta fase, o mais importante é garantir a sua estabilidade financeira. E para conseguir alcançar esse objetivo, é natural que tenha de abdicar de algumas coisas, como manter inúmeras subscrições que raramente usa, almoçar e jantar fora frequentemente, fazer compras não essenciais, etc.
Claro que isto não significa que não possa, esporadicamente, investir uma pequena quantia em momentos de lazer. Mas deve focar-se em cortar nas despesas, em vez de manter os mesmos gastos de quando estava empregado.
Assim, é aconselhável adotar práticas saudáveis de consumo, como:
- Fazer uma lista sempre que vai ao supermercado e segui-la à risca;
- Cancelar serviços e subscrições não essenciais ou que raramente usa;
- Analisar a sua carteira de seguros e ver se existem melhores soluções no mercado ou se tem coberturas que já não necessita nas suas apólices;
- Informar-se sobre atividades de lazer gratuitas, para conseguir sair da rotina sem ter de gastar dinheiro;
- Se tiver carro, verifique semanalmente qual é o posto de abastecimento perto da sua área de residência onde os preços são mais baixos. Sempre que possível troque as deslocações de carro por transportes públicos;
- Olhe para os seus contratos de eletricidade, gás natural e telecomunicações e veja se existe um distribuidor ou operador com melhores condições para si.
Lembre-se que só em casos estritamente necessários é que deve recorrer ao seu fundo de emergência para garantir que consegue pagar os seus gastos essenciais. Além disso, durante este período, não recorra aos seus cartões de crédito, uma vez que acabará por aumentar as suas despesas e pode agravar o risco de incumprimento.
Caso pretenda mais dicas de poupança, aconselhamos a ler estes dois guias:
- Guia de poupança por áreas: Como poupar nos seus encargos essenciais;
- Como poupar ao longo da vida: Um guia para miúdos e graúdos.
6 - Envolva toda a família na otimização do orçamento
Por último, para que todos estes passos tenham sucesso, envolva toda a sua família na otimização do orçamento familiar. E o que é que isto significa? Significa que todos devem estar conscientes de que esta é uma altura em que poupar é essencial. Logo, todos devem fazer esforços para manter o orçamento equilibrado, evitando despesas desnecessárias e poupar sempre que seja possível.
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Em casa, também é importante que sejam reforçadas as boas práticas de consumo para reduzir as despesas com eletricidade, gás e água. Neste ponto, entram as dicas de não deixar luzes acessas e os aparelhos ligados ou em standby quando não está ninguém na divisão ou a utilizar os aparelhos. É também importante otimizar os consumos consoante o tipo de tarifa de eletricidade que tem, usando os períodos em que a tarifa é mais baixa para utilizar as máquinas de lavar roupa e loiça.
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Quanto à água, os banhos devem ser curtos e enquanto espera que a água aqueça coloque um balde para não desperdiçar a água e utilizá-la para outra finalidade. Se tem crianças em casa, relembre que, sempre que estão a lavar os dentes, devem fechar a torneira para evitar o desperdício de água.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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