Em Portugal, ainda existem muitas famílias que têm dificuldade em falar de dinheiro com as crianças, mas também entre os próprios adultos. Embora o nível de literacia financeira tenha subido em Portugal, nem sempre é fácil simplificar a temática do dinheiro.
Por isso, de seguida, vamos deixar algumas dicas que podem ajudar os adultos a falar de dinheiro com as crianças. Saiba ainda a partir de que idade deve ensinar alguns conceitos financeiros, e o que deve evitar para ter sucesso nestes ensinamentos.
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A partir de que idade se deve falar de dinheiro com crianças?
Falar de dinheiro com crianças devem ser um passo dado com naturalidade assim que surgem as primeiras oportunidades educativas. Muitos especialistas na área financeira defendem que os pais devem começar a falar de dinheiro com os seus filhos entre os 2 e os 3 anos de idade. E caso esteja a pensar que é muito cedo para ter este tipo de conversa, saiba que aos 3 anos de idade as crianças começam a desenvolver o seu próprio processo de seleção de consumo.
Ou seja, a partir dos 3 anos, a maioria das crianças começa a ter a necessidade de escolher produtos para satisfazer os seus desejos. Por exemplo, é normal vermos crianças muitos pequenas no supermercado a pedir um determinado produto de uma prateleira. E este pode ser um brinquedo, um sumo, um chocolate ou um doce. Ao olharmos para este comportamento, estamos perante uma iniciação ao processo de consumo. Por isso, esta é a altura indicada de começar a introduzir a temática do dinheiro e pequenos conceitos de literacia financeira.
Claro que aos 3 anos de idade o seu filho não terá a capacidade para entender conceitos complexos. Mas o que importa nesta idade é introduzir de forma simples e positiva uma relação saudável com o dinheiro e com o consumo. Não se esqueça que a componente financeira faz parte da vida de todos os seres humanos desde a nascença até à hora da morte. E ao falar de dinheiro abertamente, está a criar as ferramentas necessárias para o seu filho ter uma maior consciência financeira, sendo assim mais capaz, a longo prazo, de tomar decisões financeiras de forma informada.
Como introduzir literacia financeira infantil na vida do seu filho
Para muitos pais, a introdução da literacia financeira infantil na vida dos filhos é uma tarefa complicada. E é normal que assim seja, uma vez que no passado, falar de dinheiro era um assunto tabu. O problema é ao adiar a introdução de alguns conceitos básicos de literacia financeira na vida das crianças, perdemos ótimas oportunidades para implementar bons hábitos de consumo.
A literacia financeira infantil pode ser introduzida de forma bastante simples, seja através de conceitos básicos, como por exemplo de onde vem o dinheiro e para o que é que este serve, ou por exemplo introduzindo esta através de exemplos positivos ou bons hábitos de consumo.
Lembre-se que nenhuma criança tem a capacidade inata para lidar com o dinheiro, uma vez que nesta idade ela desconhece o seu propósito. No entanto, ao introduzir desde cedo conceitos simples e divertidos, os seus filhos vão estar dispostos a experimentar novas situações, tendo em conta que a sua mente é curiosa. Claro que nem sempre a informação será recebida de bom agrado, principalmente quando os pedidos das crianças não são atendidos. Mas são estas situações que devem ser aproveitadas para explicar o valor do dinheiro, a diferença entre comprar por necessidade e impulso, e a importância de poupar para alcançar os nossos desejos.
A importância dos contos, fábulas e livros infantis na hora de falar de dinheiro com crianças
Numa fase inicial, descomplicar alguns conceitos financeiros pode ser um desafio. E por isso, uma ótima forma de dar a volta a esta questão e conquistar a atenção dos mais pequenos é através de contos, fábulas e livros infantis. Hoje em dia existem no mercado inúmeros livros infantis que abordam conceitos básicos de literacia financeira de uma forma divertida. Claro que os contos, fábulas e livros infantis devem ser apropriados à idade das crianças. Por exemplo, numa primeira fase deve procurar contos e histórias que transmitam valores pilares. Aqui pode ser introduzidos os conceitos da ganância, da poupança e da partilha.
Conforme a idade vai avançando, as crianças melhoram rapidamente a sua capacidade de interpretação e perceção. Ao contrário da nossa mente que está carregada de informações e memórias, o cérebro das crianças desenvolve-se e cresce com tudo aquilo que vê, ouve, sente, experimenta, cheira ou quando usa um dos sentidos. Ao introduzir novas experiências e criar hábitos positivos, vai ajudar o seu filho a fazer novas conexões, que moldam a forma como ele pensa, aprende e se comporta no presente e no futuro.
Por volta dos 5/6 anos de idade, o seu filho já terá a capacidade para entender vários conceitos de literacia financeira, se estes forem explicados de forma simples e atrativa. E mais uma vez os livros e jogos didáticos assumem um papel muito importante na hora das crianças aprenderem a gerir o seu dinheiro.
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Os pedidos e desejos dos seus filhos são ótimas oportunidades para falar de dinheiro e incutir literacia financeira infantil
Tal como referimos, desde tenra idade as crianças começam a demonstrar alguns dos seus desejos através dos pedidos que fazem aos pais. E claro que é normal, por vezes, nos pedidos de valor simbólico, os pais validarem esse pedido sem qualquer tipo de oposição ou ensinamento. No entanto, é preciso ter em atenção que as crianças ao não terem noção do valor do dinheiro não vão saber se aquele pedido exige ou não um esforço financeiro dos pais. E por isso, é fundamental incutir literacia financeira nestas alturas.
Por exemplo, uma ótima forma de começar a introduzir conceitos básicos é explicar a diferença entre uma compra essencial e uma que não é. Mostre através de exemplos práticos, o que são compras essenciais, explique o porquê destas serem prioritárias e o perigo que existe nas compras por impulso. Nessa explicação também pode introduzir a temática de onde vem o dinheiro dos pais e esforço que é necessário para ter dinheiro todos os meses. Afinal, quanto mais cedo o seu filho perceber que o dinheiro não surge das árvores ou de um cartão mágico, melhor será a sua compreensão perante outros conceitos financeiros.
Se a criança compreender facilmente estes conceitos, então talvez esteja na hora de introduzir o conceito de poupança para alcançar os seus desejos. Não se esqueça que deve explicar o porquê de ser essencial poupar no dia a dia e a longo prazo. E estes ensinamentos são mais percetíveis se a criança tiver acesso a dinheiro real. Pode começar com pequenas quantias em cêntimos, de forma ao seu filho poder contar as moedas e colocar de parte as que quer poupar num mealheiro. Para não sobrecarregar a criança com diversos ensinamentos, durante um período de tempo, faça algumas atividades e jogos que incentivem a prática destes conceitos.
Use exemplos reais percetíveis na hora de falar de dinheiro com crianças
Quando queremos passar conceitos de literacia financeira infantil é fundamental recorrermos a exemplos reais que as crianças consigam visualizar e perceber. Afinal, se complicarmos muito estas temáticas, corremos o risco de despertar nas crianças uma associação negativa. Em termos de linguagem, os pais devem tentar ser objetivos e descomplicar ao máximo a informação que pretendem passar.
Por exemplo, a literacia financeira com brinquedos é uma forma bastante simples de passar alguns conceitos básicos. Se o seu filho tem muitos brinquedos, é importante que ele aprenda a analisar o que já tem, e se esses brinquedos têm utilidade. Ou seja, se o seu filho raramente brinca com determinados brinquedos, estes já não têm a mesma utilidade de outrora. Por isso, pode aproveitar para ensinar a importância de doar a quem mais precisa, evitando assim acumulações de brinquedos que já não despertam o seu interesse. Desta forma, também aumenta a consciencialização da criança para o que tem.
As crianças precisam de tomar as suas próprias decisões
Assim como acontece com os adultos, as crianças aprendem melhor todo o tipo de ensinamentos quando existe margem para acertar ou errar. Aos pais, cabe a tarefa de ensinar os conceitos, explicar as vantagens e desvantagens de diversos comportamentos e decisões, mas também ensinar a encontrar alternativas. No entanto, o poder de decisão não deve ser negado aos mais novos. E isto porquê? Porque se não deixar que o seu filho decida o que faz com as suas poupanças ou com o dinheiro, ele terá mais dificuldades em saber aplicar o mesmo. Para além disso, não estará a desenvolver a sua confiança e autonomia.
Claro que isto não significa que o seu filho desde tenra idade tenha um controlo sobre grandes valores monetários e faça o que bem entender com os mesmos. Contudo, se disponibilizar pequenas quantias, deixando essa gestão a cargo da criança, ela poderá decidir quanto irá poupar ou gastar. Lembre-se que se o seu filho decidir gastar todo o dinheiro que lhe deu, essa é uma ótima oportunidade para lhe ensinar novas lições financeiras.
No caso deste dinheiro ser relativo a uma semanada ou mesada, é fundamental que os pais não cedam a novos pedidos monetários. Afinal, se o dinheiro acabou antes do prazo estipulado, a gestão financeira não foi bem feita, e isto implica ter de lidar com as consequências de uma má gestão. Ou seja, a criança terá de aguardar até à próxima semanada ou mesada para voltar a ter acesso a mais dinheiro. Lembre-se que tal como nós, as crianças aprendem com os seus erros. E se os pais permitirem essa margem de erro, explicando sempre o porquê da criança estar a passar por essa situação, a associação será mais simples.
Não se esqueça que as crianças imitam os comportamentos dos adultos
Falar de dinheiro com crianças é um passo fundamental para o desenvolvimento da literacia financeira entre os mais novos. No entanto, nunca se esqueça que nestas idades, o processo de aprendizagem das crianças é também baseado na imitação dos comportamentos dos adultos. Se não existir coerência entre o que os pais ensinam, praticam e dizem no dia a dia, a criança pode ficar confusa, acabando por ignorar os ensinamentos.
Por exemplo, existem pais que não falam de dinheiro com os seus filhos, mas discutem sobre questões financeiras à sua frente. A associação das crianças em relação ao dinheiro acaba nestes casos por não ser positiva. O mesmo acontece em relação ao trabalho. Se os pais verbalizam frases negativas sobre o seu emprego, as crianças tendem a fazer uma associação negativa ao meu de sustento financeiro. Lembre-se que tudo aquilo que diz em frente dos seus filhos, pode acabar por ser associado de uma forma que não é a pretendida.
Já em termos de exemplos de consumo, as crianças são ainda mais suscetíveis a seguir esses comportamentos. Afinal, se estiver a ensinar o seu filho a não fazer compras impulsivas, mas depois adotar um comportamento oposto na hora de ir ao centro comercial, o seu filho vai validar o seu comportamento como algo normal. Não se esqueça que o seu comportamento serve de exemplo para os seus filhos. E enquanto os seus filhos são crianças, eles vão associar o que diz e o que faz com o modelo certo a seguir. Tenha sempre isso em consideração na hora de ensinar literacia financeira, mas também na hora de transmitir os mais diversos valores.
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