Recentemente uma senhora contactou-me através do Facebook a pedir sugestões sobre onde começar a investir umas pequenas poupanças que tinha. Ela sentia que o dinheiro estava parado e que estava a perder oportunidades. Na conta à ordem, simplesmente não rendia nada. Felizmente compreendeu que tinha de fazer alguma coisa por si e pelo seu futuro.
Elogiei-a por ter essa iniciativa, mas antes de lhe responder perguntei-lhe se já tinha o seu Fundo de Emergência. A resposta dela surpreendeu-me: “O que é isso?”. Esta resposta é mais comum do que possa parecer. Foi precisamente por isso mesmo que lhe fiz essa pergunta. A minha intuição dizia-me que aquela dúvida era de alguém que estava a preparar-se para fazer as coisas ao contrário.
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Uma boia de salvação
Infelizmente, uma grande parte das famílias portuguesas ainda não compreendeu que para ter uma vida financeira estável, primeiro é preciso começar por criar uma rede de segurança.
Quanto tem no seu Fundo de Emergência?
Para que compreenda melhor, só faz sentido pensar em comprar uma casa de férias depois de ter a sua própria casa. Antes disso, é só um disparate.
Tudo tem o seu tempo e o seu lugar. Ou, dito de outra forma, gostava que compreendesse que a nossa vida financeira é uma espécie de escada em que cada degrau tem a sua função. Se tentar subir 3 degraus de cada vez corre o risco sério de cair e partir uma perna ou um braço. Se subir calmamente, degrau a degrau, será certamente mais lento, mas chega lá acima com mais segurança e correndo menos riscos de se estatelar no caminho.
Não faz sentido começar a investir as suas poupanças em produtos de risco (sem capital garantido) sem primeiro ter uma almofada financeira (que sugiro de 5 mil euros, no mínimo) para as emergências que vão surgir na sua vida. E isto aplica-se a qualquer família portuguesa, mesmo as que ganham o salário mínimo nacional. Vão, naturalmente, demorar mais tempo a atingir esse objetivo.
Pode parecer-lhe um “sonho” atingir esse valor? Uns já têm esse valor há muito tempo - e muito mais - e não investem o resto acima disso. Conheço pessoas que têm 20 mil euros ou mais na conta à ordem. E outros querem investir assim que têm mil euros no banco. Ambos estão a desaproveitar oportunidades ou a arriscar demasiado.
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Invista só depois de ter um Fundo de Emergência
Tudo tem o seu tempo ideal. Se quer fazer o seu caminho financeiro com pés e cabeça, só pense em investir DEPOIS de ter o seu Fundo de Emergência numa conta à ordem (mesmo que não renda nada). Pode parecer-lhe estranho, mas é mesmo assim que deve fazer. Dê um passo de cada vez.
Se não fizer isso, corre o risco de ter um imprevisto qualquer e (estando o dinheiro investido talvez em valores negativos) ter de resgatar o seu dinheiro e ter perdas financeiras ou para não registar esse prejuízo contratar um crédito (pessoal ou cartão de crédito) que é uma outra forma de ter prejuízo.
Lembre-se sempre que quando usa dinheiro do cartão de crédito ou de um crédito normalmente isso implica imediatamente um prejuízo de 15% ou mais, que é o juro que terá de pagar pelo valor que pediu emprestado. Evita este tipo de delapidação do seu património se garantir sempre uma almofada financeira que lhe permita fazer face a qualquer emergência com dinheiro próprio, sem ter de pedir a ninguém. Embora não pareça à primeira vista, é uma forma de poupança.
Quando aquela senhora de que lhe falei no início tiver os tais 5 mil euros na conta à ordem (dinheiro “sagrado” que não servirá para rigorosamente mais nada), então é que lhe responderei onde é que pode começar a investir o que lhe sobrar a partir daí.
Não ponha o carro à frente dos bois.
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Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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