Muitos de nós encaramos uma vida inteira de trabalho como o caminho que temos de percorrer para alcançarmos a reforma. A visão de dias passados sem grandes obrigações, que não sejam ir buscar os netos à escola ou marcar a próxima consulta médica, motiva-nos a dedicarmos grande parte do nosso tempo ao trabalho.
A reforma é um marco significativo nas nossas vidas e, com base na amostra das pessoas que eu conheço, a grande maioria de nós subestima a importância de começar cedo a planeá-la. A verdade é que, quanto mais cedo começarmos a poupar para a reforma, maior será a probabilidade de podermos vir a viver suficientemente desafogados para a podermos aproveitar.
Neste artigo, vou apresentar alguns argumentos a favor de um planeamento atempado da reforma e deixar algumas dicas sobre como o fazer sem grandes dores.
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A magia dos juros compostos
Uma das razões mais convincentes para começar a poupar para a reforma mais cedo do que mais tarde é o que se costuma chamar "a magia dos juros compostos". Os juros compostos não são mais do que a capitalização dos rendimentos do investimento ou, por outras palavras, o reinvestimento dos rendimentos que são gerados pelas nossas poupanças.
Vou dar um exemplo para melhor ilustrar esta "magia":
Vamos imaginar que a Rita tem 25 anos. Pretende começar a poupar e tem 500 euros para iniciar a sua poupança. Com base no seu salário e nas suas despesas, acredita que conseguirá pôr de parte 50 euros por mês.
Mesmo com valores aparentemente baixos, se a Rita permanecer fiel a esta estratégia de poupança e for reinvestindo os rendimentos gerados pela mesma, a Rita irá chegar aos 65 anos com um pé-de-meia superior a 160.000 euros, dos quais menos de 25.000 euros correspondem a dinheiro que a Rita pôs de parte todos os meses. Os restantes 136.000 euros são rendimento da sua poupança. As contas pressupõem um retorno médio anual de 7,5% ao ano, que é o retorno médio histórico do S&P500.
Contudo, se em vez de começar aos 25 anos, a Rita decidir esperar pelos 45 para começar a poupar, com os mesmos valores de poupança apenas conseguirá amealhar cerca de 30.000 euros. No total. A decisão de começar a poupar para a reforma apenas aos 45 anos custaria à Rita 81% da sua poupança para a reforma.
Dinheiro poupado | Rendimentos gerado pelos juros compostos | Total da poupança aos 65 anos | ||
Começar a poupar aos 25 anos | 24.500€ | 136.640€ | 161.140,55€ | |
Começar a poupar aos 45 anos | 12.500€ | 17.416,94€ | 29.916,94€ | -81% |
Visto da outra perspetiva, se começar a poupar para a reforma 20 anos mais cedo, a Rita multiplicará por 5 vezes o seu pé-de-meia!
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Os riscos da começar demasiado tarde
Adiar o início da poupança para a reforma não tem só como consequência a perda da oportunidade de ganhar com a "magia" dos juros compostos. Também pode ter outras consequências graves.
À medida que a esperança média de vida aumenta, os períodos de reforma tornam-se mais longos e as prestações da Segurança Social, por si só, são muitas vezes insuficientes para cobrir as despesas que iremos ter para viver. Depender apenas da Segurança Social poderá forçar-nos a fazer sacrifícios durante os nossos anos de reforma, que queremos que sejam tão dourados quanto possível.
Além disso, quanto mais esperarmos para começar a poupar, maiores terão necessariamente de ser os montantes que teremos de pôr de parte para recuperar o atraso. Isso pode conduzir a dificuldades financeiras e limitar a nossa capacidade de aproveitar a vida na reforma.
Começar cedo a poupar permite-nos pôr de parte montantes mais baixos, não prejudicando o nosso estilo de vida presente, ao mesmo tempo que construímos um pé-de-meia mais substancial para a nossa reforma. Ganhamos dos dois lados.
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Dicas para começar
Eu não comecei a poupar aos 25 anos. Mas quando o fiz, já perto dos 35, li alguns livros que me ajudaram a desenvolver algumas estratégias de autocontrolo e de criação de hábitos. Deixo-vos aqui algumas dicas baseadas no que li e no que resultou melhor comigo:
1) Imagine o que gostaria de ter ou de fazer na reforma e procure calcular de quanto é que irá precisar para o alcançar. Essas contas vão ajudar a definir metas de poupança mais claras.
2) Elabore um orçamento onde consiga mapear os seus rendimentos e as suas despesas. Introduza um montante para a poupança mensal como despesa prioritária e reveja as demais despesas em conformidade. Como já ficou demonstrado, quanto mais cedo começar a poupar, menor será o montante que terá de pôr de parte por mês.
3) Procure saber qual é o seu perfil de risco e diversifique os seus investimentos em conformidade. Cada um de nós tem o seu próprio perfil. Não siga cegamente investimentos que foram pensados para outras pessoas.
4) Subscreva um PPR. Não só terá benefícios fiscais, como também poderá aproveitar das estratégias de investimento que esses produtos seguem. Tudo isto sem precisar de fazer nada. O PPR Doutor Finanças é uma das melhores soluções do mercado. Saiba mais aqui.
5) Torne as suas poupanças automáticas, através de transferências para contas específicas sem cartões associados e alertas para fazer os reforços de subscrição dos produtos de investimento que escolher.
6) Tanto quanto possível, tente esquecer-se que tem poupanças, mas mantenha-se informado, pelo menos uma vez de seis em seis meses, sobre os resultados dos seus investimentos.
7) Mantenha-se também informado sobre eventuais novos produtos e alterações às leis fiscais ou da reforma e Segurança Social, para que possa sempre escolher as melhores estratégias de investimento e tomar decisões informadas.
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Conclusão
Começar cedo a poupar para a reforma é uma das decisões financeiras mais importantes que poderá tomar. Não subestime o valor do tempo quando se trata de construir o seu futuro.
Quanto mais cedo começar, mais conseguirá poupar e melhor poderá aproveitar os seus "anos dourados" sem preocupações financeiras. Portanto, comece já hoje a poupar. O seu eu futuro irá um dia agradecer-lhe por isso!
Hugo Rosa Ferreira é licenciado em Direito pela FDUL – Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e tem um MBA pelas Universidades Católica e Nova de Lisboa (The Lisbon MBA). Começou a sua carreira profissional na VdA, foi Diretor Jurídico do Deutsche Bank em Portugal entre 2002 e 2005 e sócio coordenador da Área de Direito Financeiro da PLMJ entre 2012 e 2020. Juntou-se à equipa do Doutor Finanças em 2021, como Partner e Board Member e atualmente é Chief Strategy Officer.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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