Quando ouvimos falar em subida das taxas de juros a primeira coisa que nos ocorre é: qual será o impacto na prestação da casa? Tal acontece porque a maior parte das famílias portuguesas tem um crédito à habitação. No entanto, também temos de contar com quem tem poupanças que dependem igualmente das taxas de juro. Nestes casos, uma subida das mesmas pode até ser uma boa notícia. Mas qual será o impacto na sua carteira?
O exemplo mais visível e comum é a remuneração dos depósitos bancários. Ou seja, o montante que pode receber por ter o seu dinheiro investido a prazo numa determinada instituição bancária. Em teoria, quando os juros sobem recebe mais pelos seus depósitos. Porém, pode não ser assim ou, pelo menos, tanto quanto pode pensar. Isto porque, existem outros fatores a ter em conta e que podem anular ou mitigar o efeito positivo da subida das taxas de juro e, consequentemente, da remuneração paga pelo seu banco ao dinheiro que investiu.
Em suma, para ter um resultado mais próximo do quanto pode, ou não, ganhar nas suas poupanças com uma subida das taxas de juro, deve ter ainda em conta:
- Impostos a deduzir;
- Inflação.
Subida das taxas de juro vs inflação
Se as taxas de juro estiverem baixas (caso dos últimos anos), o rendimento dos seus depósitos é muito baixo ou inexistente. Neste cenário, a sua poupança pouco ou nada lhe vale, pois o seu capital permanece quase inalterado.
Mas há mais. Para além da taxa de juro tem de ter em conta a inflação e a depreciação monetária que daí ocorre. Por outras palavras, se a taxa de variação dos preços for superior à das taxas de juro, em último caso pode até perder dinheiro.
Por exemplo, imaginemos que aplica 2.000€ numa determinada poupança a 12 meses com uma taxa de juro de 1%. Ora, no final desse período vai receber cerca de 20 euros ficando assim com um total de 2020 euros (isto antes de impostos).
Agora, suponha que durante esse período houve uma subida generalizada dos preços de 2%. Quer isto dizer que, para comprar o mesmo que compraria com esses 2000 euros que tinha no banco, agora precisaria de 2040 euros.
Ou seja, apesar de ter ficado com mais dinheiro na sua poupança, na verdade o seu investimento desvalorizou. Isto porque, a chamada taxa de juro real do seu depósito foi negativa, ou seja:
- Taxa de juro nominal: 1%
- Taxa de inflação: 2%
Então temos: Taxa de juro real = A-B = -1%
Logo, nestas circunstâncias, acabou por perder dinheiro pois registou-se uma desvalorização da moeda. Nesse sentido, para que a sua poupança possa efetivamente crescer, a subida das taxas de juro dos depósitos deverá ser superior à taxa de inflação.
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Não esquecer os impostos a pagar
Convém ainda recordar que os juros dos depósitos bancários estão igualmente sujeitos ao pagamento de IRS. Ou seja, no momento em que a sua poupança fica disponível, é aplicada uma taxa liberatória de 28%.
Assim, quando recebe os juros na sua conta já são com a dedução do respetivo imposto. Dessa forma, já não necessita de declarar este rendimento para efeitos de IRS, isto no caso de optar pelo “não englobamento”.
Pelo contrário, se optar pelo “englobamento”, estes rendimentos serão somados aos restantes e ficam sujeitos à taxa de IRS aplicável ao seu escalão. Nesse caso, já terá de os considerar na sua declaração de rendimentos.
Note que, apenas compensa optar pelo englobamento se a taxa de IRS a pagar for inferior a 28% - o que só acontece se tiver rendimentos mais baixos . Assim sendo, o melhor é mesmo fazer contas e analisar antes de tomar a sua decisão.
De salientar que, uma subida das taxas de juros nos depósitos traduz-se sempre numa maior remuneração da sua poupança. Então, tendo em conta que o IRS é progressivo à medida que aumenta o seu rendimento, deve ter em conta que vai pagar mais de imposto.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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