O fundo de emergência é, muitas vezes, confundido com uma poupança que serve para pagar despesas não urgentes, como manutenções periódicas num automóvel ou pagamento de impostos. Se assim for entendido, existe o risco de, numa situação que seja efetivamente urgente, como um acidente ou desemprego de um membros do agregado familiar, não ter dinheiro suficiente para cobrir as despesas.
Neste cenário, pode surgir a dúvida: será que faz sentido ter poupanças, além do fundo de emergência? A resposta é sim e explicamos-lhe o porquê, neste artigo.
Poupança permite-lhe satisfazer "desejos"
Além das necessidades financeiras, todos temos desejos, nomeadamente comprar uma casa, um carro descapotável, ou simplesmente um casaco mais caro. Para estas finalidades, deve então ponderar criar uma poupança específica e "separar as águas".
Como se tratam de despesas não urgentes, não deve recorrer ao seu fundo de emergência para satisfazer estes gostos ou "caprichos". Caso contrário, se colocar "tudo no mesmo saco", pode cair na tentação de gastar parte ou a totalidade do dinheiro, inicialmente destinado para outros fins. Se o fizer, está a colocar a sua liberdade financeira em risco.
Um fundo de emergência tem como único objetivo salvaguardar a sua situação financeira, em caso de uma ou mais despesas urgentes ou quebra de rendimentos. Idealmente, "este pé de meia" deve cobrir, pelo menos, seis meses de despesas, incluindo alimentação, renda ou mensalidade do crédito à habitação, água, luz, entre outras necessidades essenciais.
Por exemplo, se for trabalhador independente, em que os rendimentos são variáveis, isto é ainda mais prioritário. No caso de uma quebra abrupta de rendimentos, o fundo de emergência é o que lhe permite continuar com o mesmo estilo de vida, ainda que não exerça temporariamente a sua atividade.
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Poupança traz não só segurança, mas também opções
Imagine que trabalha atualmente num escritório e que, ao final de 10 anos na mesma empresa, decide mudar de carreira. Até pode ter muita vontade em seguir os seus sonhos, mas se estiver dependente do seu salário e não tiver quaisquer poupanças, nunca conseguirá fazer essa mudança. Isto significa que ter uma poupança não só traz-lhe uma maior segurança, mas também opções.
O fundo de emergência não deve entrar aqui, pois não se trata de situação inesperada, mas sim de uma decisão consciente. Por isso, o seu foco deve ser aumentar as suas poupanças. Uma forma de o fazer eficazmente é através da criação de um orçamento. Se ainda não tem um, está na altura de o fazer. Para tal, basta criar primeiro uma lista com as suas despesas e rendimentos mensais. Depois, deve categorizar as suas despesas e eliminar as desnecessárias.
Inicialmente, é natural que o seu orçamento não seja 100% preciso. Todos os meses deve reavaliá-lo e ajustar o que for necessário para não só conseguir poupar o máximo possível, mas também sentir-se confortável. Mas, se todo o foco estiver na poupança e cortar tudo aquilo que lhe traz prazer, o mais provável é que fique desmotivado. Por essa razão, um orçamento não deve ser encarado como uma forma de "apertar o cinto", mas sim de precaver a sua segurança financeira.
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Não trate o seu fundo de emergência como um "pé de meia"
Numa primeira análise, até pode parecer mais simples ter uma única conta poupança com o seu fundo de emergência, misturado com outras poupanças. No entanto, existem diversos benefícios em "separar as águas" e ter uma estratégia de poupança para cada objetivo, seja a compra de uma casa, um carro, ou até mesmo férias.
Por exemplo, se colocar todo o dinheiro numa única conta poupança, cada vez mais vai ter dificuldades em saber quanto dinheiro está destinado para emergências e quanto pode gastar em lazer ou outros objetivos. Ao não separar estas quantias, o mais provável é que continue a retirar dinheiro dessa conta, fazendo uso do fundo de emergência para suprir outras necessidades.
Se perder o seu emprego, pode vir a enfrentar dificuldades, pois existe um sério risco de o dinheiro que tem disponível na sua conta poupança não ser suficiente para cobrir as despesas mensais. Por essa razão, ao ter várias contas poupança para fins diversos, consegue organizar melhor as suas finanças.
No entanto, não existe a necessidade de criar uma conta para cada tipo de despesa. Despesas de lazer, como férias, viagens, ou refeições no restaurante podem constar na mesma conta. A única que deve manter separada de todas as outras é o seu fundo de emergência. Assim, não existem dúvidas sobre o dinheiro que pode utilizar ocasionalmente e o que só pode mexer em situações urgentes.
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Mais proteção
Ter um fundo de emergência é um bom ponto de partida para manter as suas finanças em ordem. No entanto, não existe qualquer razão para parar por aqui. Além da proteção que um fundo de emergência oferece, as poupanças também têm um lugar importante nas suas finanças.
Suponha que um dos seus filhos necessita de um computador novo. À primeira vista, parece uma despesa urgente. No entanto, é uma necessidade que pode ser programada.
Para fazer face a despesas programadas, deve criar antes uma poupança além do fundo de emergência. Caso contrário, se recorrer ao seu fundo de emergência para todas as despesas, ainda que sejam mínimas, então rapidamente esse dinheiro vai desaparecer. Na eventualidade de surgir uma situação urgente, deixa de estar protegido financeiramente.
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Poupança para base de investimentos
Mesmo que atingir a independência financeira não conste entre os seus objetivos a longo prazo, não deve descurar as suas poupanças (além do fundo de emergência). As poupanças, por si só, oferecem-lhe várias possibilidades, mas os investimentos acrescentam ainda mais valor.
Nem todo o dinheiro poupado necessita de ser "dinheiro suado". Isto significa que pode gerar maiores poupanças através de bons investimentos. Quanto maiores estas forem, maior a magnitude dos seus investimentos. Por exemplo, suponha que tem uma poupança de 1000€ e decide investir esse dinheiro na bolsa de valores. Pode conseguir fazer um bom investimento e, ao final de um ano, obter 20% de retorno.
Isto quer dizer que conseguiu ganhar 200€, sem qualquer esforço físico. No entanto, ainda que tenha feito um bom investimento, este apenas rendeu 200€. Se tivesse uma poupança de 10.000€, bastaria ter uma valorização de 2% para obter exatamente os mesmos 200€.
Este simples exemplo demostra que a magnitude das suas poupanças tem a mesma importância que a escolha dos seus investimentos. Se estas ainda forem pequenas, o ideal é investir em si, pois não só é mais seguro, como consegue obter um maior retorno. Independentemente do valor, o importante é que olhe para as suas poupanças como uma alavanca, ou seja, uma forma de multiplicar o seu dinheiro e melhorar a sua situação financeira.
Não obstante, tenha sempre em consideração que se os seus investimentos valorizam, também podem desvalorizar. Por isso, antes de investir as suas poupanças, certifique-se de que não vai necessitar delas durante vários anos e informe-se bem antes de tomar qualquer decisão.
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