Se foi afetado de alguma maneira pela pandemia da Covid-19, percebeu agora muito claramente a importância de ter um Fundo de Emergência.
Esta é a dica fundamental para quem quer começar a pôr as suas contas em ordem. Ainda antes de pagar todas as suas dívidas ou amortizar qualquer um dos seus créditos. Lembre-se de que o seu objetivo “último” deve ser não ter nenhuma dívida.
Portanto, tenha como meta a médio prazo não ter nenhum crédito (exceto o da habitação, que é para ir pagando ao longo de décadas, embora tenha vantagem em o amortizar alguns anos mais cedo). Vai sentir uma liberdade que agora não conhece. Mas isso ficará para crónicas futuras.
O que lhe quero dizer nesta fase é que, ainda antes de se atirar a essas dívidas, é absolutamente prioritário ter um Fundo de Emergência.
Em março de 2020 (que já parece tão distante) fiquei estarrecido com a quantidade de pessoas que me fizeram apelos dramáticos durante a fase do confinamento, quando o Governo mandou fechar praticamente todas as empresas, a explicar que por não trabalharem 15 dias (15 dias!!!) não iam ter dinheiro para pagar o crédito à habitação, a renda da casa, as contas da luz, gás, água e telecomunicações.
Precisavam com a máxima urgência das moratórias dos bancos para adiar as prestações dos créditos à habitação, do carro e dos créditos pessoais. Caso contrário, não as conseguiriam pagar.
Sem qualquer espécie de crítica (porque criticar não paga contas), confesso que pensei “Mas estas famílias não têm na conta dinheiro para 1 mês de despesas?!”. Lamentavelmente, cheguei à conclusão que não. Não têm mesmo. Vivem salário a salário. Mês após mês. Por vários motivos.
Conheço casos de pessoas que ganham até bastante bem e que, depois de pagarem as pensões de alimentos (depois de divórcios complicados), de pagarem a renda da casa e as contas dos bens essenciais ficam quase sem dinheiro para comer. Há casos e casos. Portanto, não generalizemos. Nem tudo é “dinheiro mal gasto”.
Quanto devo ter no Fundo de Emergência?
Ninguém, mas mesmo ninguém, consegue ter uma vida financeira mais ou menos saudável se não tiver pelo menos 1.000 euros no banco. É o mínimo dos mínimos. Seja quem for, mesmo na pior situação que possa imaginar. E esse dinheiro é intocável. É como se não existisse. Depois tem de avançar para os 5.000 euros ou mais. Já lá vamos.
Sei que aí desse lado alguém poderá estar a pensar “Lá está ele a delirar. É conversa de rico, se ele soubesse a minha vida…”. Mas lembre-se que estou a dizer isto não para o “castigar” mas para o ajudar a enfrentar esta e futuras crises financeiras. Estamos em sintonia?
Bom, então vamos por partes. Em primeiro lugar não lhe estou a dizer que tem de arranjar os 1.000 euros no mês que vem. É um objetivo que deve ter. Pode demorar 2, 3, 4 ou 5 anos. Mas vai ter de o atingir.
E hoje pode ser um bom dia. Pode ser uma transferência de 10 ou 20 euros por mês. São duas “raspadinhas” (se jogar) ou um Euromilhões. Ou menos uma ida ao McDonalds. Você saberá. A sua vida não vai piorar por fazer isto que lhe estou a dizer. Pelo contrário, vai melhorar porque vai ter um Fundo de Emergência quando precisar.
Quando devo usar o Fundo de Emergência?
Como o nome indica, o dinheiro guardado neste fundo só deve ser usado numa emergência, para fazer face a uma despesa inesperada ou a uma perda de rendimentos com a qual não contava.
Eu divido o Fundo de Emergência em 2 escalões: Os tais 1.000 euros porque é um valor redondo e simbólico; e os 6 meses ou 1 ano de todas as suas despesas (arredondei para 5 mil euros, mas deve adaptar ao seu caso).
Porque é importante que o tenha (demore o tempo que demorar) antes de começar a atacar as suas dívidas? Porque se começar “lançado” e começar já a amortizar os cartões de crédito ou o crédito automóvel com todas as “sobras” disponíveis no seu orçamento e o carro avariar, tiver um acidente de trânsito, um eletrodoméstico avariar ou precisar mudar de computador, não tendo nada disponível no tal fundo, vai ter de se endividar. E vai ter de recorrer novamente ao cartão de crédito ou a uma compra a prestações com juros ou a um crédito pessoal. E, naturalmente, com juros superiores à poupança que teria com a amortização extraordinária dos seus créditos atuais.
Alguns poderão estar a pensar “Mas eu quero viver a vida…”. Caros amigos, viver com uma espada financeira sobre a cabeça todos os dias do ano não é “Viver a vida”. “Viver a vida” é ter a liberdade de poder fazer escolhas. E ter a máquina de lavar avariada e não ter dinheiro para a mandar arranjar ou para comprar uma nova, não é propriamente a melhor forma de “Viver a vida”. Estabeleça prioridades.
Para além dos 10 euros (ou 20 ou 30) por mês, estabeleça retirar obrigatoriamente uma parte (à sua escolha) do subsídio de férias e de Natal durante o tempo que for necessário até atingir este objetivo.
Falaremos mais sobre o Fundo de Emergência. Só depois deste primeiro passo é que podemos começar a pensar em ganhar dinheiro com o nosso dinheiro. Mas não podemos nunca pôr os carros à frente dos bois. Dá mau resultado. Tudo tem o seu tempo. E este é o primeiro passo.
Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
bons conselhos obrigado