Finanças pessoais

Regra dos 4%: Ainda faz sentido nos dias de hoje?

A regra dos 4% é uma ferramenta para quem procura reformar-se mais cedo. Mas será que ainda faz sentido nos dias de hoje?

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Regra dos 4%: Ainda faz sentido nos dias de hoje?

A regra dos 4% é uma ferramenta para quem procura reformar-se mais cedo. Mas será que ainda faz sentido nos dias de hoje?

Se já ouviu falar do movimento FIRE (Financial Independence, Retire Early), cujo acrónimo em português significa Independência Financeira, Reforma Antecipada, então, será quase impossível não estar familiarizado com a regra dos 4%. Este é um dos marcos do movimento que tem vindo a ganhar fãs pelo mundo inteiro.

Embora seja uma regra reconhecida e utilizada ainda hoje, a verdade é que este cálculo foi criado há quase 30 anos, o que nos faz questionar a sua viabilidade atual.

Por isso, neste artigo, explicamos em que consiste a regra dos 4% e a sua origem. Mas vamos mais longe e debruçamo-nos sobre este racional nos dias de hoje, analisando a possibilidade deste cálculo ser adaptado aos desafios atuais.

O que é a regra dos 4%?

Antes de aprofundar a temática, importa primeiro começar por apresentar este racional. Afinal em que consiste a regra dos 4%?

A origem desta regra remonta a 1994 quando o norte-americano Bill Bengen começou a utilizar esta percentagem em vários artigos sobre reformas antecipadas. O consultor financeiro, especialista em ajudar cidadãos individuais e famílias a gerir o seu capital, escreveu vários textos a justificar o uso deste valor.

Com base nos seus estudos, Bengen aconselhava os seus clientes a tirarem anualmente do seu portefólio de ações 4% do valor total dos seus investimentos, a partir do momento em que decidiam reformar-se e passar a viver das suas poupanças. Segundo ele, este seria o valor seguro capaz de garantir com segurança que as poupanças se prolongariam durante o período da reforma.

Em 1998, a regra dos 4% ganhou um empurrão graças a um estudo da Universidade de Trinity. A investigação, liderada por três professores, apoiou a teoria de Bill Bengen sobre uma taxa de levantamento de 4% dos ativos em carteira, depois de ter sido analisada a performance do mercado financeiro, no período de 1926 a 1995.

Leia também: Como investir: os primeiros passos para a liberdade financeira

Qual a alocação de capital prevista no estudo?

Na teoria, para um portefólio composto por 50% de ações e 50% de obrigações, uma taxa de levantamento de 4% duraria 30 anos com um intervalo de confiança de 100%.

Ou seja, na prática isto significaria que se tivesse um milhão de euros aplicados em partes iguais em ações e obrigações, em qualquer momento do período de 1926 a 1995, poderia:

  • retirar, ao longo de três décadas, 40 mil euros por ano,
  • e no final dos 30 anos esse fundo não se teria esgotado.

Para além de o dinheiro não esgotar, esse valor poderia ser ainda superior ao fim de 30 anos. Isto é, apesar de todos os anos tirar uma parte do capital, seria de esperar que, no final das três décadas, o milhão de euros original se transformasse em mais de cinco milhões de euros.

Mas como é que isso seria possível? É muito simples. Durante o período de estudo, em média, os retornos dos investimentos foram superiores a 4%. Isto permitiu que «, ao longo de 30 anos, o juro composto fizesse multiplicar o investimento por cinco.

Estes resultados científicos foram importantíssimos no movimento FIRE e passaram a ser um incentivo para muitos indivíduos em busca de uma reforma antecipada, graças à simplicidade e praticidade da regra dos 4%.

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A regra dos 4% ainda é viável na atualidade?

O mundo atual é bastante diferente daquele em que o estudo se baseou. Por isso, levanta-se uma grande questão:
Será ainda possível continuar a usar a regra dos 4% quando gerimos uma carteira de investimentos que tem como objetivo sustentar o nosso estilo de vida na reforma, especialmente quando vivemos tempos de elevada inflação?

A investigação original prevê, numa das suas secções, um estudo sobre o ajuste dos levantamentos à taxa de inflação anual. Isto permite que, ao longo do período da reforma, o indivíduo consiga manter o seu poder de compra.

Por exemplo, nos anos em que a inflação é de 2%, teria de retirar os habituais 4% e acrescentaria a esse valor 2% do montante. Então, se o investimento inicial fosse de um milhão de euros, deveria levantar 40 mil euros mais 2% deste montante, ou seja, 800 euros. Assim, com este valor, o seu estilo de vida não seria afetado pela subida dos preços.

Porém, este pequeno ajuste origina uma mudança nas taxas de sucesso da regra dos 4%. Assim, em vez de uma taxa de sucesso de 100% a 30 anos, o processo resultaria 95% das vezes para um portefólio com 50% de ações e 50% de obrigações.

Ainda continua a ser um valor de sucesso elevado, mas as variáveis dependem da aversão ao risco de cada pessoa. E, neste cenário, os mais cautelosos podem optar por uma diminuição de 4% para 3% nas taxas de levantamento para garantir que, historicamente, têm 100% de sucesso na sua estratégia.

É certo que o sucesso no passado não garante que o mesmo se repita no futuro. Contudo, é sempre um bom ponto de partida, uma vez que a economia corre em ciclos económicos que tendem a repetir-se ao longo do tempo.

Além disso, à medida que esta regra é analisada por períodos mais longos, maior é a solidez dos modelos construídos. E os estudos desenvolvidos ao longo dos anos que reconstruíram o estudo da Universidade de Trinity provam isso mesmo. As investigações, levadas a cabo com diversos graus de complexidade e em diferentes períodos históricos, apontaram para o sucesso da estratégia original da regra dos 4%.

O próprio criador deste racional, Bill Bengen, afirmou que, nos dias de hoje, a taxa de 4% é até algo conservadora. Sugeriu ainda que, para um período de 30 anos, o mais adequado poderia ser uma taxa próxima dos 5%, o que implicaria levantamentos superiores aos previstos originalmente.

Leia também: FIRE: O movimento que abre caminho à independência financeira

Conclusão

Se procura seguir a regra dos 4%, deverá compreender primeiro qual a sua aversão ao risco. Paralelamente, deverá também perceber a sua capacidade para obter rendimentos extra ao longo da reforma, que permitam complementar os levantamentos anuais do seu portefólio.

Um exemplo comum de um rendimento extra é a pensão por velhice, atribuída pela Segurança Social, a partir dos descontos submetidos. Se tal acontecer e tiver como objetivo gastar 4% do valor das suas poupanças todos os anos, poderá retirar menos dinheiro do seu fundo e aumentar as hipóteses de este durar durante mais tempo.

Por exemplo, imagine que tem um fundo de um milhão de euros e quer gastar todos os anos 40 mil euros por ano. Se tiver uma pensão de 10 mil euros anuais, apenas precisaria de levantar 3% das suas poupanças, caso pretenda atualizar para a inflação, para aumentar o grau de sucesso da sua estratégia.

O mesmo poderá acontecer se tiver alguma ocupação remunerada durante a sua reforma. Este é o caso de algumas pessoas que se reformaram muito jovens e passaram a dedicar-se a atividades que, embora paguem menos do que o que recebiam originalmente, conseguem manter o seu estilo de vida, graças aos levantamentos das suas poupanças.

Assim, no final de contas, a regra dos 4% poderá ser mais uma arma para usar no seu arsenal de literacia financeira, que poderá combinar com muitas outras para garantir que toma as melhores decisões possíveis com o seu dinheiro.

Leia ainda: Qual é o seu perfil de investidor?

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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