Quem comprou casa e tem uma prestação indexada à Euribor olha para a evolução das taxas de juro com particular atenção. Se o Banco Central Europeu (BCE) baixar as taxas diretoras, a Euribor acompanha esse comportamento e a prestação baixa. Se acontece o contrário, o valor a pagar por mês sobe.
Foi este segundo cenário que se verificou a partir da segunda metade de 2022. O pico foi atingido em setembro de 2023, quando a taxa de depósitos chegou aos 4%. Como era esperado, a Euribor também mexeu: a 12 meses atingiu os 4,2% (em setembro) e a seis meses tocou os 4,14% (em outubro).
No entanto, 2024 foi ano de cortes, com o BCE a baixar os juros por quatro vezes. A última foi já em dezembro e colocou a taxa diretora nos 3%. Já a Euribor terminou o ano abaixo desse valor.
Agora, o que podemos esperar das taxas de juro em 2025? Será que vale a pena voltar aos contratos de crédito com taxa variável ou será melhor fixar os juros?
Quais eram as perspetivas a meio de 2024?
Em junho de 2024, quando o BCE cortou os juros pela primeira vez (baixou 25 pontos base, de 4% para 3,75%) a expectativa era de que houvesse mais dois cortes até ao final do ano. Nessa altura, esperava-se que o ano fechasse com a taxa diretora nos 3,25%.
No entanto, o Banco Central Europeu foi mais além e fez quatro revisões. A última aconteceu no dia 12 de dezembro e colocou a taxa de juro nos 3%, nível a que vamos terminar o ano.
Descida de juros do BCE: Qual o impacto para as famílias?
Ao mesmo tempo, chegámos a meio de 2024 com duas previsões sobre a Euribor baseadas nos contratos futuros negociados nos mercados financeiros. A de mais curto prazo acreditava que apenas em meados de 2025 se baixaria da fasquia do 3%. A mais longínqua dizia que só no final de 2026 é que se esperava que as taxas Euribor recuassem para valores a rondar os 2,5%.
Ora, nesta altura podemos dizer que ambas falharam. Não só a Euribor já está abaixo dos 3% como quando olhamos para a taxa a 12 meses, vemos que já está nos 2,4%. Já a Euribor a seis meses anda lá perto, a rondar os 2,6%. E numa altura em que se espera que o BCE continue o caminho de alívio, não faltará muito para também esta taxa se fixar abaixo dos 2,5%.
Leia ainda: Euribor: Qual o impacto na minha prestação?
E agora, o que esperar das taxas de juro em 2025?
Meio ano passou desde as previsões que apresentámos acima e, como vimos, nem todas se cumpriram. Além disso, o cenário nesta altura parece mesmo mais otimista do que aquele que se antevia em meados de 2024.
No comunicado do dia 12 de dezembro, o BCE deixou de falar da manutenção da política monetária num nível restritivo e de certo modo admite que pode baixar as taxas de juro em 2025 para um nível neutral: acredita-se que será algo a rondar os 2%.
Neste momento, é expectável que o regulador europeu mantenha o ritmo de corte que tem mostrado recentemente, ou seja, 25 pontos base por reunião. Assim, tendo em conta que há quatro encontros marcados até junho de 2025 (janeiro, março, abril e junho), podemos mesmo acreditar que é possível chegar a meio do ano com a taxa diretora nos 2%.
Leia ainda: BCE com caminho aberto para descer juros até 2%
E quais as previsões para a Euribor?
Por norma, a evolução da Euribor antecipa as decisões do BCE e basta olhar para os números para confirmar isso mesmo. Como dissemos acima, a taxa diretora fechou o ano nos 3%, mas a Euribor vai fechar abaixo disso, fruto da expectativa de descida das taxas no próximo ano.
Se no início do ano a taxa a seis meses era de 3,8% (quando a taxa diretora do BCE era de 4%), no final de 2024 é de 2,6%. Além disso, os futuros da Euribor apontam para que esta taxa atinja os 1,96% em junho, numa altura em que se espera que o BCE coloque os juros nos 2%.
Daí até ao fim do ano acredita-se que a trajetória de descida se mantenha, mas a um ritmo mais suave. Assim, a expectativa neste momento é de que 2025 termine com a Euribor a seis meses a rondar 1,85%.
Virando o olhar para os swaps das taxas de juro - que servem de referência para as operações de taxas fixas - vemos que a taxa a dois anos está a negociar na casa dos 2,2%.
No entanto, ao olhar para estas previsões, devemos sempre ter em conta que a realidade pode mudar devido a problemas económicos ou a sugestões por parte do BCE de que pode acelerar ou abrandar o ritmo de corte dos juros.
Isto é especialmente relevante num ano em que Donald Trump vai assumir novamente a Casa Branca e as duas maiores economias europeias atravessam um período de instabilidade política (no caso da Alemanha já se sabe mesmo que vai ter eleições legislativas antecipadas, em fevereiro).
O que esperar dos bancos?
O último Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito feito pelo Banco de Portugal foi divulgado em outubro e mostra quais eram as expectativas das instituições para o quarto trimestre de 2024. Apesar de não serem um verdadeiro reflexo da visão dos bancos para 2025, mostra já qual era o seu olhar num momento em que o BCE já tinha começado a cortar os juros.
Dos cinco bancos que responderam, todos disseram que esperavam manter praticamente inalterados os critérios de concessão de crédito. Além disso, apenas um disse que esperava um ligeiro aumento da procura por parte dos clientes. Os restantes não perspetivavam grandes alterações.
Por fim, todas as instituições consideram que as recentes decisões sobre as taxas de juro do BCE vão contribuir para diminuir ligeiramente a rendibilidade dos bancos. Esta questão tem a particularidade de olhar para um horizonte de seis meses e, portanto, apanhar os primeiros três meses de 2025.
O próximo inquérito será divulgado no início do ano e, aí, poderemos ter uma nova ideia de como é que os bancos encaram as mais recentes decisões e previsões.
O que é que isto significa para quem tem ou vai fazer um crédito habitação?
Pedir dinheiro ao banco tem sempre um preço e esse preço é tanto maior quanto mais altas forem as taxas de juro. Assim, a queda da Euribor é uma boa notícia para quem tem contratos de crédito indexados a esta taxa.
Além disso, quem está à procura de financiamento e escolher a taxa fixa vai conseguir, em princípio, condições melhores do que aquelas que seriam possíveis negociar há uns meses.
Taxa mista ou variável: Qual a melhor solução?
Em primeiro lugar, vamos ver o que pode esperar na fase inicial do contrato. Para isso, fomos ver as taxas fixas a dois anos praticadas nos contratos a taxa mista por seis bancos portugueses. Atualmente, situam-se entre os 2,6% e os 3%.
Assim, considerámos uma taxa de 2,8% para um empréstimo de 200 mil euros a 30 anos. Contas feitas, dá uma prestação de 821,79 euros.
Já num contrato a taxa variável com Euribor a seis meses de 2,6% e spread de 0,75% temos uma Taxa Anual Nominal (TAN) de 3,35% e uma prestação de 881,43 euros.
No entanto, ainda falta olhar para aquilo que se espera da evolução da Euribor:
- Mantendo a taxa fixa por dois anos, a TAN será de 2,8%;
- Os futuros da Euribor apontam para uma taxa a seis meses de 1,85% no final de 2025. Somando o spread de 0,75%, ficamos com uma TAN de 2,6%.
Mais uma vez, reforçamos que isto são apenas previsões. Pelo contrário, a taxa fixa é uma certeza.
Leia ainda: TAN e TAEG: O que significam e qual o impacto no crédito habitação?
Não precisa de esperar pela queda da Euribor para pagar menos
As descidas da Euribor ajudam a aliviar a prestação e, nesta altura, pode até achar que basta não fazer nada e esperar que as taxas fiquem mais favoráveis e façam o seu trabalho no alívio das suas finanças. No entanto, não deixe de considerar a hipótese de negociar melhores condições com o seu banco ou transferir o crédito para outra instituição.
Para ter uma ideia da poupança que pode ser alcançada com a negociação das condições, a Rita e o João (nomes fictícios) tinham um crédito habitação indexado a uma taxa Euribor, com uma TAN de 4,9%, o que correspondia a uma prestação de 1.588,93 euros, faltando 37 anos para o fim do contrato. Contactaram o Doutor Finanças para encontrarem condições mais vantajosas, tendo acabado por contratar um crédito com taxa mista, fixa durante cinco anos nos 2,7%, e ficando a pagar 1.227,83 euros. O resultado final é uma poupança de 361,10 euros por mês, sem alterar prazos ou outras condições.
Leia ainda: Que condições posso renegociar no crédito habitação?
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário