Já ouviu falar em fitness? Claro que sim, é uma palavra de origem inglesa que descreve aquela ginástica nos ginásios ou fora deles que nos permite estar em “boa forma física”. Não é para sermos atletas de alta competição. Refere-se geralmente “apenas” à espantosa sensação de bem-estar físico e mental nas nossas atividades do dia-a-dia.
Vamos aplicar o mesmo conceito à nossa vida financeira. Devo dizer-vos que, passados estes 10 anos em que investigo como jornalista tudo o que está relacionado com finanças pessoais, é cada vez mais difícil poupar alguma coisa de ano para ano. Sinto que cheguei quase ao meu limite. Aos poucos fui cortando todas as “gordurinhas” das despesas mensais e anuais cá de casa.
Deve ser uma situação semelhante à das pessoas que começam a praticar exercício e têm uma alimentação saudável e, passados uns meses ou 1 ano ou 2, e olham para o espelho e pensam “Bom, é isto mesmo. Agora é só manter. Valeu a pena o esforço”. É uma satisfação muito grande!
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Ambicione uma vida (financeira) saudável
Estar phisically fit significa encontrar-se numa condição física em que tem todas as condições para ter uma vida saudável no que depende de si (basta a partir desse momento manter uma atividade regular e continuar a alimentar-se bem).
Quanto ao dinheiro, o seu objetivo deve ser estar financially fit: ter o dinheiro que precisa, quando precisa, sabendo sempre para onde vai o seu dinheiro e fazendo escolhas inteligentes (mesmo quando o gasta em coisas não essenciais porque pode dar-se a esse “luxo”). Repare que nunca lhe estou a falar em ficar rico ou milionário ou chegar ao seu primeiro milhão. Isso também é legítimo, mas não é a minha estratégia.
Um destes dias ouvi uma publicidade muito divertida de um banco em que incentivava os clientes a praticarem um desporto chamado “poupating”.
Comparar é a forma mais eficaz de poupança
Uma das personagens diz aos amigos que fica ainda mais motivada quando vê os resultados dos seus “treinos” financeiros. Não interessa o banco e muito menos o quanto rendia o produto que ele propunham.
O que achei interessante foi a comparação entre o desporto como forma de vida saudável e a vida financeira saudável ou, pelo contrário, sedentária.
Quando começamos a praticar um desporto depois de muito tempo sem fazer exercício físico, nos primeiros dias ficamos todos partidos e com vontade de desistir. Dói.
Podemos começar com um professor, um personal trainer, num ginásio, com acompanhamento ou então sozinho: sai de casa e começa a correr só para ver o que dá sem grandes orientações.
Corremos os primeiros 100 metros e ficamos de rastos. “Isto não é para mim. Vou desistir…”. Ou acontece o inverso, custa um bocadinho no princípio mas ganha-lhe o gosto. Ficamos mais bem dispostos, perdemos peso. Fazemos um checkup médico e ganhamos anos de vida. Isso dá-nos vontade de continuar. Há pessoas que hoje já não se imaginam a não fazer exercício físico, faça chuva ou faça sol.
Quando falamos de poupança é a mesma coisa. Eu diria que a maior parte de nós tem uma vida financeiramente sedentária. Não levantamos o rabo da cadeira por 20, 40, 50 ou mesmo 100 euros.
Ler documentos? Ir a cinco bancos pedir simulações quando posso ligar para o meu gestor de conta que me vai propor uma solução “espetacular” que o chefe dele já pré-aprovou? Comparar produtos? Ler livros? Pesquisar no google? Anotar as minhas despesas num caderninho? Abrir a carta ou e-mail com o extrato bancário?
- “Era o que faltava. Tenho mais que fazer...”
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Deixe de ser obeso
De facto, o “poupating” é uma excelente parábola para entendermos a nossa situação financeira. Estamos financeiramente obesos, com um índice de massa corporal financeira doentio. Mas não nos apercebemos porque não nos dói nada fisicamente, só a carteira. E a sua saúde financeira fica cada vez pior.
Às vezes o nosso médico diz-nos “Veja lá a sua saúde. Se não começar a fazer exercício e a comer melhor vai acabar no hospital com um problema grave”. E quando é que levamos o aviso a sério? Quando nos dá uma coisa má e vamos parar ao hospital. Aí aprendemos a lição.
Quanto paga a si próprio todos os meses?
Financeiramente, por vezes já cavámos um buraco tão grande sem darmos por isso que, quando nos dá a tal coisinha má, já não conseguimos sair sozinhos.
Portanto, comece já, mesmo que seja devagarinho, a praticar poupating. Sem exageros. Não é passar de esbanjador a avarento em 15 dias. Isso também não é bom.
Decida começar a fazer exercício financeiro ligeiro. Avalie o que está a fazer bem e a fazer mal. Se for a um ginásio farão uma análise da sua situação e o personal trainer traçará um plano de treinos. Pode pedir ajuda. Mas sei que culturalmente o português não admite a ninguém que não sabe gerir o seu dinheiro. Tem vergonha. Prefere dizer que ganha mal e que o Governo lhe leva o dinheiro todo em impostos. Nunca refere que tem dificuldade em saber dizer “Não” quando pode decidir não gastar.
Assim, sei que a solução mais prática é começar sozinho. Saia de casa financeiramente, não tenha medo de tropeçar, de correr com os sapatos errados. Faça alguma coisa. Renegoceie qualquer coisa. Experimente fazer uma transferência automática para uma poupança no valor de 5 euros. Subscreva um fundo de investimento de 20 euros. Comece a correr.
Depois, com a experiência e a curiosidade, vai melhorando os tempos, os rendimentos, as taxas de juro, o que sobra ao fim do mês.
Estas dicas não são para doutorados em Finanças. Não tenho de ter os músculos do Nelson Évora para dar saltos financeiros. O importante é a regularidade e vontade de fazer e não parar.
Quem começa a fazer jogging e leva isso a sério não pode arranjar desculpas do tipo “Hoje está frio, a chover, estou cansado, não me apetece…”. Exige rigor, esforço, motivação.
Se esta semana não conseguiu poupar nada, para a semana faça um esforço adicional para compensar o que não conseguiu agora. Se não chegou à meta dos 100 euros, tire 50, ou 25 ou 10. Mas não desista.
Financeiramente, passados 10 anos, estou fit (fisicamente ainda estou muito longe, infelizmente). Lembro-me de falar com os meus botões no pico da crise da Covid-19 e perguntar-me se ainda havia alguma coisa para “cortar” e cheguei à conclusão que não. Tudo o que tenho neste momento está praticamente no limite máximo da poupança. Entrei na fase da “manutenção”.
É a esse estado que quero que você chegue rapidamente. Porque a partir daí já se pode concentrar quase totalmente em fazer crescer o seu dinheiro a pensar no seu futuro, na sua segurança financeira e na realização dos seus sonhos. A minha experiência prova que é possível. Você também pode conseguir.
Pedro Andersson nasceu em 1973 e apaixonou-se pelo jornalismo ainda adolescente, na Rádio Clube da Covilhã. Licenciou-se em Comunicação Social, na Universidade da Beira Interior, e começou a carreira profissional na TSF. Em 2000, foi convidado para ser um dos jornalistas fundadores da SIC Notícias. Atualmente, continua na SIC, como jornalista coordenador, e é responsável desde 2011 pela rubrica "Contas-Poupança", dedicada às finanças pessoais. Tenta levar a realidade do dia a dia para as reportagens que realiza.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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