Os dados mais recentemente publicados pelo INE mostram um aumento de 7,7% nas rendas medianas dos novos contratos de arrendamento na habitação em Portugal, em apenas 3 meses, entre o 1º e 2º trimestre deste ano. Em termos homólogos, o aumento foi de 11%.
Além disso, o número de novos contratos de arrendamento caiu 17,8% em cadeia, com uma variação homóloga de -1,2%.
Menos arrendamentos, rendas mais altas. Problema de oferta?
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Novos contratos muito mais caros
A renda mediana na habitação em Portugal fixou-se nos 7,27 euros/m2 por mês, para os novos contratos de arrendamento registados durante o 2º trimestre de 2023.
Olhando para o período de 2020 a 2023, facilmente se verifica uma subida vertiginosa nas rendas. Em três anos e meio, a subida foi de 32%.
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Os números do INE mostram ainda uma outra realidade. Se compararmos as rendas atuais com as rendas médias publicadas nos Censos 2021, deparamo-nos com diferenciais substanciais.
Segundo os Censos, a renda média de uma casa em Portugal, em 2021, situava-se nos 334,18 euros mensais. Assumindo a área útil média de cada alojamento, também dos Censos 2021, de 112,45 m2, chegamos a um valor médio de 2,97 euros/m2 por mês. Ora, do total de 922.810 arrendamentos existentes em 2021, para 20.750 novos contratos registados no 2º trimestre de 2023, a diferença no valor da renda é de 145%. Nos casos de Porto e Lisboa, a diferença acentua-se ainda mais: 279% e 201%, respetivamente.
Área Útil Média (2021) | Renda Mensal Média (2021) | Renda Mediana Novos Contratos (Q2 2023) | Desvio face à média | Nº Arrendamentos (2021) | Nº Novos Contratos (Q2 2023) | Peso s/ Mercado | ||
Portugal | 112,45 | 334,18 | 2,97 € | 7,27 € | 145% | 922 810 | 20 750 | 2,25% |
Porto | 100,91 | 317,76 | 3,15 € | 11,95 € | 279% | 45 098 | 1 036 | 2,30% |
Lisboa | 93,07 | 470,87 | 5,06 € | 15,23 € | 201% | 102 311 | 1 907 | 1,86% |
Este diferencial pode muito bem estar relacionado com a escassez de oferta. Na realidade, o número de novos arrendamentos adicionados ao mercado nos últimos anos não tem registado qualquer subida assinalável, antes pelo contrário.
Além disso, não existe informação sobre arrendamentos retirados do mercado. Apenas a perceção que nos é dada pela realidade do dia-a-dia de que não existe oferta, não existe alternativa de arrendamento em Portugal.
Naturalmente que a única justificação para este aumento de rendas não cai apenas sobre a oferta. Há obviamente outros fatores que contribuem para esta realidade. Mas, de facto, a oferta aparenta desempenhar um papel importante.
Como podemos então aumentar oferta no arrendamento? Deixaremos esse tema para outro artigo.
Bons negócios (imobiliários)!
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Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
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