Não. Isto não é (mais) um artigo sobre oferta, a falta dela e as consequências que provoca no mercado imobiliário. Este artigo serve de introdução a uma série de artigos que lhe seguirão, sobre investidores e estratégias de investimento.
Porque é tão importante conhecermos os investidores?
Tanto é importante conhecermos bem os investidores como é fundamental conhecermo-nos enquanto investidores. Entendermos bem qual o perfil de risco e a tolerância ao mesmo de cada um é meio caminho para o sucesso em qualquer investimento, seja ele imobiliário ou mobiliário.
Esta é a base de toda e qualquer decisão de investimento. Uma vez que risco e rentabilidade andam sempre par a par, conhecendo a nossa tolerância ao risco, mais rapidamente nos direcionamos para um determinado tipo de imóvel com uma expectativa de rentabilidade condizente.
Veja-se o caso de um certificado de aforro, por exemplo. Ninguém está à espera que este investimento dê um retorno muito elevado. Porquê? Simplesmente porque não tem risco (ou, pelo menos, terá um risco muitíssimo baixo, o de falência do País e incapacidade do Estado de pagar o valor de volta).
No entanto, não é por causa disso que não há procura por certificados de aforro. Se todo e qualquer investidor guiasse a sua decisão de investimento pela maior e melhor rentabilidade, então todos os investimentos seriam iguais e, no limite, todos teriam a mesma rentabilidade, simplesmente porque todos estariam à procura do mesmo.
Não é isso que acontece. Por isso é que se torna tão importante conhecermos bem a realidade e postura de cada investidor para melhor adequar investimentos.
Leia ainda: Que riscos corremos ao investir em imobiliário?
Como é que há imóveis para todos?
Naturalmente, a expressão é algo exagerada. É propositado. Mas, na verdade, o mercado imobiliário é tão grande, tão vasto, tão heterogéneo e tão competitivo que, de facto, há alternativas de investimento para todo e qualquer investidor.
Obviamente, há momentos no mercado (e este será porventura um deles) em que a oferta é mais escassa e encontrar um investimento adequado ao nosso perfil de risco pode tornar-se um verdadeiro desafio.
Nesses casos, há que ser criativo e pensar mais no produto final do que propriamente no produto inicial. Quando a oferta é escassa, pode tornar-se necessário olhar para o fim da linha e não para o estado atual do imóvel, entendendo que trabalho será necessário fazer para se conseguir atingir um determinado objetivo.
Isto obriga, naturalmente, a ter engenho e visão. Pensar fora da caixa. Olhar para lá do óbvio. Mas sem nos conhecermos enquanto investidores, desenvolver uma estratégia com vista à obtenção de um determinado resultado final, torna-se mais complicado.
Por tudo isto, digo que há imóveis para todos. Mas só conhecendo muito bem os investidores é que poderemos melhor adequar um imóvel à sua estratégia de investimento.
Que estratégias de investimento existem?
Em 2022, escrevi aqui, no Doutor Finanças, uma série de artigos com alguns princípios orientadores para qualquer um começar a sua etapa de investimentos imobiliários. Mais em concreto, no artigo Imobiliário: Comece agora a investir, alinhei as 4 principais estratégias de investimento que tipicamente qualquer investidor leva a cabo:
- Core. Para investidores que procuram menos risco, logo também não exigem rentabilidades elevadas. Tipicamente, compram imóveis para arrendamento para prazos mais longos, fundamentalmente com recurso a capitais próprios;
- Core-Plus. Investidores que querem um pouco mais de rentabilidade. Para o conseguirem, procuram obter dívida como complemento aos seus capitais próprios e aceitam algum trabalho de gestão ou manutenção. No entanto, também irão privilegiar imóveis de arrendamento;
- Value-Add. Para aqueles investidores que procuram mais risco e pretendem adicionar valor ao imóvel que adquirem, seja por via de obras de requalificação ou reposição no mercado, seja por via de maior trabalho de gestão dos imóveis;
- Oportunístico. Estratégia dirigida mais aos investidores que procuram risco e pretendem comprar ao valor mais baixo possível. Buscam a obtenção de mais-valias futuras.
Nos próximos artigos, procurarei explicar melhor cada uma destas estratégias.
Bons negócios (imobiliários)!
Leia ainda: Imobiliário: A importância dos estudos de mercado
Gonçalo Nascimento Rodrigues é Consultor em Finanças Imobiliárias, tendo trabalhado em empresas como Ernst & Young, Colliers International e Essentia. É Coordenador e Docente numa Pós-Graduação em Investimentos Imobiliários no ISCTE Executive Education. Adicionalmente, exerce atividade de consultoria, prestando serviços de assessoria ao investimento imobiliário. Detém um master em Gestão e Finanças Imobiliárias e um master em Finanças, ambos pelo ISCTE Business School, além de uma licenciatura em Gestão de Empresas na Universidade Católica Portuguesa. É autor do blogue Out of the Box.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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