O ano de 2024, como sempre, trouxe-nos algumas incertezas relativamente à forma como a economia global se iria comportar. As taxas de juro a um nível elevado, os conflitos geopolíticos e as eleições em diversos países chave poderiam ter aumentado a ansiedade e nervosismo nos investidores.
O que “guiou” o semestre?
O semestre ficou muito mais marcado por questões políticas do que por questões económicas. As eleições nos EUA são o tema dominante do ano de 2024. Por norma, este evento já tem uma dimensão enorme, sendo que este ano ganha ainda mais peso por causa do aumento das dúvidas e receios em torno da capacidade de Joe Biden, que tem demonstrado fragilidades quando intervém publicamente. A alternativa é o ex-presidente Donald Trump que, em termos económicos, conseguiu fazer crescer os EUA, mas que tem uma forma de liderar imprevisível. Tendo em conta que os EUA são a maior potência mundial e que têm uma enorme influência em todo o mundo, se Trump ganhar as eleições, todos sabemos que a incerteza irá aumentar, sobretudo pela sua forma de liderar. Por sua vez, em França, ainda pairou a ideia de que a extrema-direita pudesse assumir o poder. Tal não aconteceu, mas ficou mais um aviso. O descontentamento pela forma como os destinos de muitos países têm vindo a ser geridos é enorme e isso faz com que outras forças políticas ganhem dimensão e palco.
Conflitos armados
O primeiro semestre não trouxe nada de novo relativamente aos conflitos armados. Ucrânia e Rússia ou Israel e Hamas continuam as suas duras batalhas sem fim à vista. Do ponto de vista humano, as perdas são irreparáveis. Do ponto de vista estratégico, cada bloco reúne os seus aliados e esgrimem os seus argumentos. Em termos económicos, sem dúvida que estes conflitos aumentam a incerteza nos investidores e podem condicionar o crescimento económico.
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Taxas de juro
Num contexto de taxas de juro elevadas, muitos são aqueles que estão ansiosos por uma normalização da política monetária. No mês de junho, o BCE baixou as taxas de juro, algo que não fazia desde março de 2016. A evolução da inflação (descida) teve grande influência nesta decisão por parte dos governadores do BCE. Do lado americano, este primeiro passo ainda não foi dado. A incerteza na economia, as eleições americanas e a evolução da inflação ainda não deram confiança para que a Reserva Federal Americana (Fed) tome a decisão de iniciar a descida das taxas de juro. A cautela nas tomadas de decisão e nos discursos dos governadores da Fed é enorme, de forma a tentar evitar que sejam tomadas decisões precipitadas.
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Evolução das carteiras
O primeiro semestre de 2024 voltou a ser um bom semestre para as carteiras exemplo do Doutor Finanças e para a generalidade dos mercados financeiros. Se analisarmos os diferentes segmentos de investimento, percebemos rapidamente que a vertente acionista teve (mais uma vez) ganhos muito expressivos e que a valorização das carteiras aqui apresentadas advém, sobretudo, da evolução deste segmento. Do lado das obrigações, a evolução pelo preço não foi muito significativa, apesar de poder ser uma boa altura para investir em obrigações, porque neste contexto de taxas de juro elevadas, as yields são muito mais atrativas. Em termos específicos, no segmento acionista, o Japão foi a geografia com melhor performance. Os EUA e os emergentes também tiveram um crescimento de dois dígitos, o que, por si só, é bastante considerável.
Se analisarmos a evolução do último semestre de 2023, percebemos que a tendência de valorização se manteve, o que demonstra muita resiliência por parte dos investidores tendo em conta o nível de incerteza que caracteriza o ano de 2024.
Assim, a carteira moderada apresentou uma evolução de 2,37% e a dinâmica valorizou 5,85% no semestre. É importante referir que a carteira moderada tem, apenas, 20% de exposição ao segmento acionista, enquanto a dinâmica apresenta 40%.
Um ponto importante e que esta “experiência” nos ajuda a concluir é que quem tem uma ótica de investimento de longo prazo, deve ter uma maior abertura ao risco. A evolução das carteiras exemplo demonstra isto mesmo. As carteiras com mais risco (desde que iniciámos esta temática), estão a apresentar uma performance muito superior às restantes. Apesar desta evidência, é importante referir que é fundamental manter um equilíbrio nas nossas decisões e ter um portefólio com ativos que tenham qualidade.
Desempenho da carteira com perfil moderado
Composição da carteira com perfil moderado
Desempenho da carteira com perfil dinâmico
Composição da carteira com perfil dinâmico
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Objetivo das nossas carteiras
Quando, em março de 2021, criámos estas duas carteiras virtuais, o nosso objetivo passou sempre por saber explicar os movimentos de mercado e a influência que tinham nas nossas carteiras. Temos tido sempre esta preocupação, até porque o investimento é um processo que se prolonga no tempo.
Como exemplo, em maio de 2021, reduzimos risco nas carteiras por entendermos que a performance dos mercados financeiros não tinha uma justificação lógica ou racional. Demorou algum tempo, mas a realidade é que o nosso posicionamento atual, apesar de apresentar uma performance negativa, está melhor do que a carteira inicial.
É importante também realçar que ao longo da viagem ou processo de investimento irão existir muitas oscilações e momentos de enorme volatilidade. O fundamental é perceber onde estamos investidos e porquê. Perceber que no meio do pânico existem sempre oportunidades, e ter a racionalidade para distinguir e encontrar ativos de qualidade. Porque esses, quando tudo acalmar, irão recuperar e gerar retorno…
Nota: As carteiras do Doutor Finanças não são nem devem ser entendidas como um conselho a investir neste ou naquele tipo de instrumento financeiro. As nossas carteiras foram criadas apenas para permitir ilustrar quais os riscos e os benefícios potenciais de investir, direta ou indiretamente, em instrumentos financeiros como ações e obrigações.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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