Investimentos

Dividendos das cotadas portuguesas estão mais atrativos

A maioria das cotadas do PSI aumentou a remuneração aos acionistas e paga um dividendo com retorno perto ou acima dos 5%.

Está à porta mais uma época de pagamento de dividendos anuais e as cotadas portuguesas continuam a ter notícias favoráveis para acionistas e investidores. Já tem sido esta a dinâmica dos últimos anos, sendo que em 2025 a remuneração está mais atrativa, tendo em conta a desvalorização acentuada das cotações nas últimas sessões em reação à turbulência gerada com as tarifas alfandegárias impostas pelos Estados Unidos.

As 13 cotadas do índice PSI que remuneram os acionistas em dinheiro (EDP Renováveis paga em ações e Ibersol ainda não revelou o valor) vão desembolsar perto de 3 mil milhões em dividendos referentes ao exercício de 2024. O valor é recorde e representa um crescimento de 11% face ao ano passado.

A grande maioria das empresas do índice PSI elevou a parcela dos lucros que entrega aos acionistas, validando o compromisso com uma política atrativa. O payout (divisão dos dividendos pelos lucros) total é de 62%, cerca de 10 pontos percentuais acima do rácio do ano passado e em linha com a média histórica dos últimos anos, sempre em redor dos dois terços. 

A nível individual, dez companhias reforçam o valor do dividendo por ação, duas mantêm e apenas uma baixa a remuneração. Só a EDP apresenta um payout acima de 100%, ou seja, todas as outras cotadas do PSI entregam em dividendos um valor inferior aos lucros.

É na análise ao dividend yield – rácio que mede a relação entre o dividendo por ação e a cotação – que é possível aferir que as empresas do PSI vão repetir em 2025 uma política de dividendos atrativa. Entre as 13 cotadas do índice português, oito apresentam uma rentabilidade do dividendo acima de 5% ou muito próximo desta fasquia. Só duas estão abaixo de 4%.

Turbulência nas bolsas favorece dividendos

O pagamento de dividendos generosos é um dos principais trunfos das cotadas portuguesas, numa tendência que ganha importância acrescida na atual conjuntura dos mercados financeiros, que está a ser marcada pela elevada volatilidade e menor apetite dos investidores pelos ativos de risco no contexto de incerteza devido à evolução da política comercial dos Estados Unidos.

As tarifas recíprocas anunciadas por Donald Trump, a 2 de abril, atiraram as bolsas mundiais para um movimento de quedas acentuadas, que só foram atenuadas pelos vários recuos do presidente dos Estados Unidos. Contudo, o sentimento dos investidores é nesta altura dominado por uma dose redobrada de cautela, o que favorece a aposta em empresas defensivas. Ou seja, empresas que habitualmente apresentam potenciais de valorização mais contidos, mas que também oferecem maior segurança em momentos de turbulência.

As empresas que pagam dividendos mais elevados estão claramente dentro desta categoria de empresas defensivas, também conhecidas por empresas de valor. Integram habitualmente setores mais maduros, com capacidade para gerar “cash flows” mais estáveis e menos dependentes da evolução da atividade económica.  

O investimento em cotadas que pagam bons dividendos compensa sobretudo numa estratégia de longo prazo, o que também faz sentido em momentos de maior volatilidade e incerteza como se regista atualmente nos mercados mundiais. Além de oferecerem remunerações atrativas através do pagamento de dividendos, protegem os investidores de oscilações mais bruscas nas cotações.

É também importante realçar que o valor do dividendo não deverá, em caso algum, ser o único fator para avaliar a atratividade da remuneração de uma empresa. É necessário analisar a sustentabilidade do dividendo, outros indicadores financeiros da companhia, informação adicional sobre atividade da cotada e o setor e geografia em que se insere.

Só na estratégia de “caça” ao dividendo (comprar a ação antes da data de pagamento e venda logo de seguida) o valor do dividendo é quase o único fator que interessa. Mas esta prática assume uma série de riscos que grande parte das vezes anulam os ganhos registados quando o investidor embolsa o dividendo.     

Leia ainda: Empresas cotadas: Como escolher os melhores dividendos

Muitos dividendos atrativos

Em baixo segue a análise ao detalhe dos dividendos de 13 cotadas do PSI, numa lista que está ordenada pelo dividend yield.

NOS lidera rentabilidade

A operadora de telecomunicações vai ser a primeira a remunerar os acionistas (dividendo cai na conta a partir de 24 de abril) e repete o estatuto do ano passado de cotada com o dividendo mais rentável. O valor sobe 14% para 40 cêntimos, o que corresponde a um retorno muito próximo dos dois dígitos. Ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores, desta vez a NOS não vai entregar aos acionistas mais do que obteve em lucros (payout de 76%), o que joga a favor da sustentabilidade do dividendo.

Dividendo da Navigator cresce mais que os lucros

O aumento de 4% nos lucros de 2024 levou a fabricante de papel a avançar com um reforço mais significativo (17%) no dividendo, o que atira o dividend yield para 7,6%. A Navigator já pagou parte da remuneração em janeiro, faltando agora desembolsar 10,545 cêntimos por ação. O payout permanece em níveis confortáveis (62%).

Dividendos da EDP superam lucros

A queda nos lucros em 2024 (-16%) não inibiu a EDP de aumentar o dividendo para 20 cêntimos por ação (+3%), o que traduz um retorno de 6,4%. A elétrica continua a ser a cotada portuguesa que entrega aos acionistas o maior volume em dividendos (837 milhões de euros), sendo que este ano supera os lucros obtidos (payout de 104%). 

Sonae mantém o ritmo

Há largos anos que a Sonae habituou os investidores a aumentar o dividendo em 5% ao ano, uma política que torna a remuneração da empresa cada vez mais atrativa. A dona do Continente vai pagar 5,921 cêntimos por ação este ano, o que equivale a um retorno de 5,8% e pouco mais de metade dos lucros.

Dividendo da REN continua atrativo

A REN reviu a política de remuneração em 2021, estabelecendo um dividendo mínimo mais baixo (15,4 cêntimos) e deixando de entregar aos acionistas a totalidade dos lucros. Esta ano aumentou a remuneração em 2% para 15,7 cêntimos, o que corresponde a um retorno que continua bastante atrativo (5,7%) e com um payout (69%) menos agressivo. A empresa que gere a rede energética em Portugal já pagou parte da remuneração do exercício de 2024, faltando entregar 9,3 cêntimos por ação.

BCP lidera subida do dividendo

Depois de largos anos sem remunerar os acionistas devido aos resultados magros, o BCP tem atualmente um dos dividendos mais interessantes da bolsa nacional, que reflete o crescimento robusto dos lucros. O valor deste ano sobe 76% para 3 cêntimos, de longe o incremento mais acentuado do PSI. Apesar das ações também terem valorizado fortemente (+93% em 12 meses), o dividend yield já está acima dos 5%. Acresce que o banco apresentou um plano agressivo de remuneração aos acionistas nos próximos anos (75% dos lucros anuais que estima em mil milhões).

Recuperação dos lucros beneficia Altri

A Altri é a segunda cotada do PSI com o maior aumento do dividendo (+20%), reflexo da evolução dos lucros de 2024 (+150%) que marcam uma recuperação significativa dos resultados da fabricante de pasta e papel. À remuneração de 30 cêntimos (25 cêntimos no ano passado) corresponde um retorno de 4,9%, sendo que o payout cai a pique para 57% (120% em 2024). 

Galp Energia sobe remuneração em 15%

A petrolífera portuguesa reforçou a remuneração aos acionistas (+15%) apesar de ter registado uma queda nos lucros de 2024 (-4% para 961 milhões de euros). Ao dividendo anual de 62 cêntimos equivale uma rentabilidade de 4,8%, sendo que o payout continua abaixo de metade dos lucros. A companhia já pagou 28 cêntimos por ação, pelo que os acionistas ainda vão receber o remanescente nos próximos dias.    

Lucro recorde aumenta dividendo da Mota-Engil

A maior construtora portuguesa obteve lucros recorde em 2024 (+8% para 123 milhões), o que levou a companhia a reforçar a remuneração aos acionistas. O dividendo da Mota-Engil aumenta 17% para 14,97 cêntimos por ação, o que representa um retorno de 4,3% e um payoutque continua conservador (abaixo de 40%).

Corticeira Amorim paga mais apesar de lucros inferiores

A descida dos lucros em 2024 (-22% para 69,7 milhões de euros) não inibiu a Corticeira Amorim de reforçar a remuneração aos acionistas. O dividendo sobe 10% para 32 cêntimos por ação, levando o dividend yield a ficar acima dos 4% e o payout a avançar para mais de 60%.

Dividendo da Semapa continua acima dos 4%

Depois de registar uma queda de 4% nos lucros de 2024, a holding que controla a Navigator e a Secil manteve o dividendo em 62,6 cêntimos por ação. A rentabilidade permanece acima dos 4% apesar do payout continuar muito conservador.

Jerónimo Martins única a cortar remuneração

A dona do Pingo Doce baixou a remuneração aos acionistas em reação à descida dos lucros em 2024 (-21% para 599 milhões de euros). Contudo, o dividendo sofreu uma queda mais contida de 10% para 59 cêntimos, o que traduz uma rentabilidade modesta (2,9%) e um payout que continua confortável (62%).

CTT tem o retorno mais baixo do PSI

Os CTT baixaram os lucros de 2024 em 25%, mas optou por manter a remuneração aos acionistas em 17 cêntimos por ação, o que resultou num aumento do payout para 52% (40% em 2024). O dividend yield (2,4%) é o mais baixo do PSI, o que contrasta com os primeiros anos em que os Correios negociaram em bolsa e a remuneração estava próxima dos dois dígitos.

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Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.

A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.

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