Ao longo dos últimos meses temos vindo a abordar a performance dos mercados financeiros e os motivos que podem justificar os excelentes retornos nos investimentos que temos constatado no último ano, em praticamente todas as classes de ativos.
No últimos meses houve vários fatores que condicionaram, e continuam a condicionar o nosso dia a dia. E, no que ao mercado de capitais diz respeito, se uns fatores contribuíram para a instabilidade outros, nomeadamente medidas económicas, acabaram por equilibrar os pratos da balança.
Covid-19: O pânico nos mercados financeiros
Em março de 2020 com o despertar do Covid-19, o mundo entrou em confinamento, o que fez com que a reação dos mercados financeiros tenha sido forte e dura. Os principais índices mundiais apresentaram quedas em torno dos 25% a 40%. Em poucos dias parecia que o mundo estava a desabar. Vivemos tempos de incerteza, ficámos privados da nossa liberdade, tivemos de aprender a viver dentro de quatro paredes e a encontrar competências para gerir a vida pessoal, profissional e até mesmo escolar.
Em termos económicos os tempos que se aproximavam eram desafiantes, com um grau de incerteza elevado.
Reação dos Bancos Centrais/Governos
Percebendo a dimensão do problema, os Bancos Centrais reagiram rapidamente, com destaque para a FED (Reserva Federal Americana), que baixou a taxa de referência para valores próximos de zero, de forma a que as empresas e famílias conseguissem suportar o peso da dívida e, complementarmente, iniciou um programa fortíssimo de compra de ativos no mercado secundário, para garantir liquidez e permitir que as empresas tivessem capacidade de se financiar a um custo suportável.
Paralelamente ao impacto da política monetária por parte dos Bancos Centrais e à forte mensagem de confiança que passaram ao mercado, os governos dos diferentes países/blocos encetaram igualmente uma política orçamental agressiva, que passou pela atribuição de subsídios a fundo perdido, apoios a empresas/setores em dificuldade e, em alguns países como nos EUA, até foram mais longe, utilizando o helicopter Money, que consiste no envio de cheques para todas as famílias, de forma a terem liquidez, não só para as despesas imediatas, mas também para poderem consumir e manter um dinamismo económico, impedindo que a economia entre numa espiral negativa.
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Crescimento a velocidades diferentes
Em termos económicos, tivemos setores que tiveram um crescimento sem precedentes, uma vez que foram fundamentais para esta readaptação. Não será surpresa que o setor tecnológico tenha acabado por ser o mais beneficiado e o que teve o maior crescimento. Por outro lado, tivemos sectores que enfrentaram e continuam a enfrentar grandes barreiras, como são o sector da aviação, hoteleiro e restauração. Desta forma, a economia e os diferentes países no mundo, funcionaram ou têm vindo a funcionar a diferentes velocidades.
Com tantos estímulos “injetados” no mercado, as poupanças tiveram um grande crescimento ao longo do confinamento, o que faz com que com a reabertura da economia, tenhamos uma corrida ao consumo que está a permitir à economia global apresentar crescimento e perspetivas que não víamos há muitos anos.
O problema da dívida
Em termos da economia real, o grande problema será conseguir gerir toda a dívida que tem vindo a ser emitida para suportar os estímulos que têm vindo a ser colocados na economia. A questão do congelamento dos compromissos financeiros e a sua consequente normalização serão uma fase importante, para percebermos se as empresas/famílias têm a capacidade para viver o seu dia a dia sem o suporte do Estado ou sem a compra artificial dos Bancos Centrais.
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Evolução excecional dos mercados financeiros
Nos mercados financeiros, a evolução tem sido diferente. Se numa primeira fase assistimos a um pânico que fez com que todos os ativos tenham caído a pique, numa fase seguinte aos anúncios dos Bancos Centrais e às políticas de apoio dos governos, a recuperação não só foi rápida, como tivemos uma evolução nunca antes vista. Neste momento, encontramo-nos em máximos (ou muito próximo) em praticamente todos os índices mundiais, as obrigações estão também muito próximas de máximos, as commodities estão a preços não vistos desde 2005… Parece que tudo corre sobre rodas e que não existe nenhum argumento ou facto capaz de parar esta escalada triunfante.
Os riscos da reabertura
Nesta fase, numa altura em que começamos a reabrir as sociedades de uma forma mais frequente, em que nos estamos a aproximar de um contexto normal, existem alguns desafios que são encarados como obstáculos que teremos de saber ultrapassar.
A inflação, que já abordámos em artigos anteriores, caso não seja controlada, poderá originar uma intervenção forte por parte dos Bancos Centrais, como uma subida abrupta das taxas de juro, que poderá colocar em causa o caminho de crescimento económico sustentável. Os Bancos Centrais têm uma missão difícil e fundamental, que passa por avaliar se a inflação é momentânea ou se poderá ser estrutural. Uma má interpretação poderá ter consequência muito graves.
Outro ponto, que já foi abordado neste artigo, tem a ver com o crescente endividamento dos Estados e empresas. Com o aproximar de uma situação normal, os Estados, famílias e empresas terão de conseguir caminhar por si mesmos.
Resultados das empresas: suporte ou deceção?
Como ponto importante de análise, devemos estar atentos aos resultados das empresas, que serão importantes para consolidar as valorizações que estamos a assistir nos mercados financeiros ou, pelo contrário, perceber se nos irão demonstrar que a subida de preços nos mercados financeiros foi, de certa forma, artificial.
Os próximos tempos vão continuar envoltos de uma grande incerteza. Por isso, é fundamental continuar atentos aos sinais e às medidas implementadas (ou retiradas) pelos Bancos Centrais e pelos Governos. Os investimentos e os seus retornos dependem muito da economia e das políticas monetárias.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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