Nos últimos dias o mundo financeiro está em sobressalto com o possível default da Evergrande, que é o segundo maior promotor imobiliário da China, com presença em 208 cidades chinesas.
Sector imobiliário e expansão (da dívida)
O que começou por ser uma empresa de promoção imobiliária com um enorme crescimento, transformou-se numa empresa que direcionava os seus investimentos para outras áreas, como a compra de uma equipa de futebol, a entrada no mercado de carros elétricos….
Todo este crescimento foi sustentado num enorme aumento da dívida e com a criação de produtos financeiros com retornos interessantes (7% a 9%), apresentando um risco considerado baixo para aqueles que investiam as suas poupanças nestes produtos. A presunção do risco por parte dos investidores tinha em conta a dimensão e credibilidade que, aparentemente, caracterizavam esta empresa.
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Dívida incontrolável
A dívida foi sendo gerida até ao limite, chegando a um ponto de rotura em que os credores perceberam que a Evergrande não tem capacidade para pagar os seus compromissos.
A empresa, apercebendo-se que a situação estava a ficar cada vez mais complicada, seguiu a estratégia de tentar “empurrar com a barriga para a frente” o problema, tentando de uma forma desesperada (segundo relatos provenientes da China) a colocação agressiva de novos produtos financeiros de forma a conseguir ter meios para suportar o vencimento das muitas dívidas que estavam a surgir.
A perceção interna e dos credores tem vindo a ser interpretada pelo mercado de capitais, que desde o início do ano penalizou a empresa, com uma queda de 83,5% do preço das ações, com realce para o agudizar da queda na última semana (-22,53%).
Contágio mundial?
Todos estes desenvolvimentos estão a ser acompanhados de uma forma muita atenta e próxima pelos investidores mundiais, uma vez que por se tratar de uma empresa de grande dimensão e com um impacto muito abrangente (na China e no Mundo), existe o risco de um contágio na economia chinesa e consequentemente na economia mundial, sendo que a China é atualmente a 2.ª maior economia.
Numa altura em que muitos índices de ações se encontram próximos de máximos de sempre, em alguns casos, muito suportados pelas políticas dos Bancos Centrais e não nas valorizações das empresas, o alerta é ainda superior, porque poderá bastar um acontecimento menos esperado para espoletar um sentimento negativo que se poderá repercutir em vendas consecutivas nos mercados acionistas. Muitos ainda têm na memória a forma como a crise de 2008 se espoletou, com a queda do Lehman Borthers a precipitar uma onda de quedas generalizadas a nível global.
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A queda de um império
Até ao momento, e como é natural, o mercado acionista chinês é aquele que está a sofrer maiores quedas, juntando-se a tempestade perfeita que passa pela queda de uma das suas maiores empresas e o aumento da regulação nos sectores tecnológicos por parte das entidades oficiais.
Segundo as notícias que surgem da China, o Estado chinês reforçou a liquidez do sector bancário, de forma a evitar que este incumprimento tenha repercussões dramáticas, permitindo que a Evergrande ganhe tempo para encontrar um princípio de acordo com os seus credores. A intervenção do Banco Central da China (PBOC) não tem por base ajudar a empresa a cumprir com as suas obrigações, mas antes reduzir o impacto que este incumprimento pode vir a ter na economia chinesa. Naturalmente que esta medida foi bem recebida pelos investidores, que reduziram os seus receios relativamente ao peso que a queda desta empresa poderá significar para a economia local e global.
Importância de saber fundamentar os nossos investimentos
Estes desenvolvimentos vão ao encontro do que temos vindo a transmitir nos nossos artigos. Uma boa estratégia de investimento tem de estar sempre, mas sempre, muito bem diversificada. É ainda fundamental perceber onde se está a investir, não tomando decisões pela aparência das empresas, pela dimensão das mesmas ou porque alguns conhecidos fazem determinados investimentos.
Devemos tentar perceber o que está por detrás dos nossos investimentos e porque é que aquele ou aqueles ativos fazem sentido nas nossas carteiras. Se tivermos esta postura, estaremos conscientes do binómio retorno/risco que iremos assumir, estando mais perto de alcançar os objetivos que pretendemos com os nossos investimentos.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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