Os portugueses com poupanças aplicadas em fundos de investimento mobiliários têm motivos de satisfação com os resultados alcançados em 2024. A valorização substancial da generalidade dos ativos cotados nos mercados financeiros no ano passado, bem como a manutenção das taxas de juro em níveis elevados, motivou uma apreciação quase generalizada das carteiras dos fundos.
A dinâmica favorável dos mercados atraiu um volume substancial de investimento para estes produtos financeiros disponibilizados pelas gestoras de ativos sedeadas em Portugal. Segundo o relatório publicado recentemente pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), as subscrições líquidas (subscrições subtraídas de resgates) atingiram 1.195 milhões de euros em 2024, com o último mês do ano muito forte (subscrições líquidas de 226 milhões de euros).
Este elevado montante de subscrições, conjugado com a valorização dos ativos das carteiras, impulsionou o volume gerido pelas gestoras portuguesas para 20.760 milhões de euros, um aumento de 11,5% (2.144 milhões de euros) face ao registado no final de 2023. O valor é o mais elevado desde 2008 e a variação percentual em 2024 foi a mais forte desde 2020.
Entre os 187 fundos de investimento mobiliários geridos pelas instituições financeiras portuguesas, apenas sete registaram uma rendibilidade efetiva negativa em 2024. 85% dos fundos alcançaram rendibilidades acima de 3%, garantindo por isso retornos reais (acima da inflação) aos seus subscritores.
Leia ainda: Como diversificar a carteira de investimentos?
Portugueses continuam conservadores
Apesar do maior apetite por fundos de investimento, os portugueses continuam muito conservadores na hora de aplicar as poupanças. Em 2024 colocaram (em termos líquidos) 970 milhões de euros em fundos de obrigações da Zona Euro, 550 milhões de euros em fundos do mercado monetário e 407 milhões de euros em fundos de curto prazo euro.
Apesar do dinheiro aplicado em depósitos continuar a atingir recordes (cresceram 12,9 mil milhões de euros em 2024 para 192,7 mil milhões de euros), os portugueses olharam para os fundos de investimento como alternativa a ter o dinheiro parado no banco com remunerações reduzidas. Os fundos que mereceram a preferência dos portugueses aplicam a carteira em títulos de dívida de longo e curto prazo, que beneficiam da perspetiva de alívio da política monetária do BCE (impulsiona cotações) e manutenção das taxas de juro em níveis elevados (rendimento).
Os fundos poupança reforma (PPR) também registaram um 2024 positivo, estancando a saída de dinheiro dos anos anteriores. Os produtos desta categoria obtiveram subscrições líquidas de 91,6 milhões de euros em 2024, surgindo no quarto lugar entre as favoritas. Estes fundos, desenhados para captar poupanças para a reforma, gerem agora 4.393 milhões de euros, reforçando o estatuto de categoria com maiores volumes (quota de 20%).
Leia ainda: Transferir investimentos: É possível mudar de corretora ou banco?
Fundos de baixo risco superam depósitos e inflação
Apesar da aposta em fundos de baixo risco ter afastado os investidores de retornos mais altos, o conservadorismo dos portugueses foi compensado com um resultado que pode ser classificado de interessante, sobretudo quando se compara com o retorno dos depósitos bancários.
O desempenho de um fundo não deve ser medido unicamente pela rendibilidade, pois ignora o risco que está a ser assumido. Uma das métricas mais ajustadas passa por aferir a performance através do rácio entre a rendibilidade e o risco.
Seguindo este critério de dividir a rendibilidade efetiva de 2024 por cada unidade de risco (indicador que mede a volatilidade), os fundos de investimento de baixo risco ficam bem na fotografia. Entre 20 melhores seguindo esta metodologia, surgem seis fundos com carteiras compostas sobretudo por títulos de dívida, todos com nível de risco de 1.
Os fundos CA Curto Prazo e Santander Obrigações Curto Prazo obtiveram uma rendibilidade de 3,9% por cada unidade de risco. O Money Market USD, da IM Gestão de Ativos, chega aos 4,9% (quarto melhor do ranking) pois investe em títulos de dívida dos Estados Unidos, que oferecem um rendimento superior.
Analisando apenas a rendibilidade média efetiva dos fundos das categorias mercado Monetário Euro, Obrigações Euro e Curto Prazo Euro, os retornos surgem no fundo da tabela, mas superam os 3%. Um retorno que excede de forma confortável a remuneração dos depósitos em Portugal (2,28% em novembro) e fica acima da inflação média anual no ano passado (2,5%).
Fundo de investimento | Categoria | Rendibilidade por unidade de risco* | Rendibilidade efetiva 2024 | Rendibilidade anualizada 3 anos | Rendibilidade anualizada 5 anos | Nível de risco 2024 |
IMGA Ações América | Ações da América do Norte | 6,42% | 32,09% | - | - | 5 |
Santander Ações América | Ações da América do Norte | 6,34% | 38,03% | -1,52% | 2,34% | 6 |
BPI América | Ações da América do Norte | 5,04% | 25,21% | 7,52% | 13,38% | 5 |
Money Market USD | Fundos denominados em USD | 4,92% | 4,92% | 3,41% | - | 1 |
Montepio Euro Financial Services | Ações setoriais | 4,68% | 23,41% | 14,37% | 7,57% | 5 |
Invest Tendências Globais PPR | Poupança Reforma | 4,48% | 22,38% | - | - | 5 |
Poupança Reforma | 4,46% | 17,84% | - | - | 4 | |
Bankinter Rendimento PPR | Poupança Reforma | 4,25% | 4,25% | 1,95% | 1,13% | 1 |
Montepio Ações EUA | Ações da América do Norte | 4,07% | 20,37% | - | - | 5 |
PPR Golden SGF ETF | Poupança Reforma | 4,01% | 16,05% | - | - | 4 |
IMGA Global Equities Selection | Ações globais | 3,98% | 19,88% | 6,75% | - | 5 |
CA Curto Prazo | Curto prazo euro | 3,93% | 3,93% | 1,75% | 0,87% | 1 |
Santander Obrigações Curto Prazo | Curto prazo euro | 3,87% | 3,87% | 1,87% | 1,15% | 1 |
GNB Momentum Sustentável | Ações globais | 3,83% | 19,16% | 5,77% | 9,54% | 5 |
Caixa Ações EUA | Ações da América do Norte | 3,80% | 19,02% | 7,50% | 9,82% | 5 |
IMGA Money Market | Mercado Monetário Euro | 3,77% | 3,77% | - | - | 1 |
CA Monetário | Mercado Monetário Euro | 3,60% | 3,60% | 2,00% | 1,17% | 1 |
BPI Impacto Clima | Ações internacionais | 3,48% | 17,38% | - | - | 5 |
Optimize LFO Rise US Equities | Ações da América do Norte | 3,41% | 17,04% | 4,54% | - | 5 |
Santander Obrigações Curto Prazo | Curto prazo euro | 3,32% | 3,32% | 1,49% | 0,84% | 1 |
Fonte: APFIPP * rendibilidade por unidadede risco calculada através da divisão da rendibilidade efetiva de 2024 pelo nível de risco de 2024
Fundos dos EUA lideram e PPR com bom desempenho
A liderar a tabela dos fundos com melhor relação entre retorno e risco estão os fundos de Ações da América do Norte, refletindo o excelente desempenho das ações em Wall Street em 2024, o segundo ano consecutivo em que o índice S&P500 valorizou mais de 20%. O IMGA Ações América consegue um retorno de 6,4% por cada unidade de risco, seguindo-se o Santander Ações América e o BPI América, ambos acima de 5%. O fundo do Santander é o mais rentável de 2024 (38%), mas registou um nível de risco superior (6).
Os seis fundos de Ações da América do Norte estão na lista dos 20 melhores e a categoria gerou uma rendibilidade média de 25,1%, de longe a mais elevada entre as várias em que são divididos os fundos nacionais. As categorias de Ações Globais, Ações Internacionais, Multi-ativos Agressivos e Ações Ibéricas marcam rendibilidades médias acima de 10% e dois destes fundos surgem no ranking dos 20 melhores. É o caso do IMGA Global Equities Selection e o GNB Momentum Sustentável, com um retorno próximo de 4% por unidade de risco.
No ranking salta à vista do desempenho dos fundos Poupança Reforma, que apresentam retornos interessantes com um nível de risco mais reduzido do que os fundos que investem sobretudo em ações. Quatro destes fundos apresentam uma rendibilidade por unidade de risco acima de 4%, sendo que no lote está um com nível de risco de 5 (Invest Tendências Globais PPR) e outro com o nível de risco mais baixo (Bankinter Rendimento PPR). O PPR SGF Doutor Finanças e o PPR Golden SGF ETF também estão na lista dos que registam a melhor relação entre retorno e risco.
Entre as dezenas de fundos PPR disponíveis em Portugal, a rendibilidade média em 2024 foi de 6,4%, um desempenho favorável sobretudo comparando com os retornos pobres que estes produtos ofereceram aos seus subscritores nos anos anteriores.
Tendo em conta os últimos cinco anos, a rendibilidade anualizada dos fundos PPR é de apenas 1,6%, um valor reduzido que também reflete o facto de nesta categoria estarem fundos de diferentes níveis de risco (entre 1 e 6). Os fundos de Ações Globais (9,7%) e fundos de Ações da América do Norte (8,4%) conseguem desempenhos muito superiores.
Leia ainda: Risco e retorno: Como se relacionam nos investimentos?
Nasceu em 1977, sendo jornalista desde 1999. Iniciou a carreira no Jornal de Negócios, onde esteve mais de 20 anos, ocupando várias funções, sempre com foco no online. Atualmente é jornalista independente, assina a newsletter diária de mercados Morning Call e colabora de forma regular com o ECO. Formado em Gestão no ISEG, tem especial interesse por tudo o que está relacionado com os mercados financeiros.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
Deixe o seu comentário