Mais de um ano depois de terem sido aprovados os primeiros fundos negociados em bolsa (ETF) com exposição direta ao preço da bitcoin, há um claro vencedor que tem registado o maior saldo (entre novas entradas e resgates), o da BlackRock. Entretanto, a maior gestora de ativos do mundo decidiu replicar o feito na Europa, com o lançamento de um exchange-traded product (ETP) sobre bitcoin.
Mas afinal o que são ETP e ETF de bitcoin? Comecemos pelo início, descodificando estas siglas. Muitas vezes confundem-se estes dois nomes, mas, apesar de serem da mesma família, a realidade é que um abarca o outro. Por outras palavras, um ETF (exchange-traded fund) é sempre um ETP, mas um ETP não é sempre um ETF.
Leia ainda: O que considerar na hora de escolher um ETF?
Um exchange traded product, como o próprio nome indica, é um instrumento financeiro negociado em bolsa que rastreia o desempenho de um ativo ou cabaz de ativos. Um ETF é um tipo específico de ETP que tem a peculiaridade de ser um fundo.
Um ETF tem de ter liquidez intradiária, ou seja, é preciso que seja fácil encontrar um comprador ou vendedor das unidades de participação e definir o preço por unidade durante todo o dia, o mesmo não tem de acontecer num ETP genérico.
Em 2024, foram lançados os primeiros 11 ETF com exposição ao preço da criptomoeda nos EUA. Até então apenas era possível replicar o desempenho da bitcoin através de instrumentos financeiros derivados, como opções e futuros.
Na Europa, já existia um ETF desta natureza, mas sem grande adesão, tendo sido o boom deste instrumento nos EUA a dar uma nova vitalidade aos ETP de criptomoeda, assim como às cotações das próprias criptomoedas.
Em 2024, o lançamento destes ETF foi mesmo um dos grandes contribuintes para que a bitcoin mais do que duplicasse o seu valor no acumulado dos 12 meses, tendo ultrapassado a fasquia dos 100 mil dólares.
Portugal com oferta diversificada de ETF cripto
Em Portugal, alguns intermediários financeiros já oferecem ETF com exposição ao preço de várias criptomoedas, assim como outros fundos negociados em bolsa com exposição indireta a vários derivados. Entre a banca, contam-se os nomes do Banco BiG, Banco Carregosa e Bison Bank. Entre as corretoras, a oferta também é variada, mesmo nas plataformas low-cost, e os montantes mínimos de subscrição não ultrapassam os dois dígitos.
Se quiser investir nestes produtos deverá, antes de mais, contactar cada intermediário financeiro e perceber qual o instrumento financeiro que lhe apresenta as melhores opções, quer a nível de custos, quer de rendibilidade e risco.
Em plataformas como a Degiro ou a XTB, não encontrará apenas ETF e ETP, mas também ETN (exchange-traded notes) que são instrumentos muito semelhantes aos ETF, mas que têm a particularidade de serem emitidos por bancos. Os ETN podem ainda ser caracterizados por não apresentarem garantias e pelo facto de a sua maturidade poder findar antes do final do prazo estabelecido.
Foi o que aconteceu em 2018, quando os bancos de investimento Nomura e Credit Suisse acabaram por resgatar antecipadamente um ETN para evitar mais perdas além das que tinham sido registadas até então. É também por situações como esta que, antes de investir, é importante que tenha em conta os riscos e o seu perfil de investidor.
Investir em criptomoedas ou em ETF de criptomoedas?
Se o seu objetivo é investir num ETF com exposição ao preço spot de uma criptomoeda (ou seja, o seu preço atual no mercado), recorde-se de que há sempre a possibilidade comprar ativos fracionados, ou seja, não precisa de comprar uma bitcoin inteira por milhares de euros. As principais plataformas de investimento cripto permitem comprar apenas uma parcela da criptomoeda.
Por outro lado, tenha em conta que estas plataformas podem não estar registadas nem abrangidas pelo Sistema de Indemnização aos Investidores, pelo que, se ocorrer uma falência ou um problema de liquidez, os seus ativos podem não estar protegidos pela lei.
Por exemplo, com o colapso da FTX, uma das mais destacadas plataformas cripto, vários investidores, incluindo uma centena de portugueses, perderam os seus ativos, estando envolvidos num processo judicial de insolvência nos EUA, na qualidade de credores.
Se, pela segurança, investir em ETF pode ser mais favorável, do ponto de vista fiscal pode acontecer o cenário inverso, dado que às mais-valias com ETF, seja qual for o ativo subjacente rastreado por este instrumento, é aplicada uma taxa liberatória de 28%, a não ser que opte pelo englobamento.
No entanto, as mais-valias arrecadadas com a troca de criptomoedas por dinheiro estão isentas de impostos se estas forem detidas há mais de 365 dias. Faça por isso, as contas. Quando somar e subtrair, lembre-se ainda de deduzir as comissões pagas aos intermediários financeiros num cenário e noutro.
Quais os custos dos ETF que está a analisar?
Quando está a analisar fundos com o mesmo índice subjacente, os custos associados à gestão são um ponto crucial. O total expense ratio (TER) é o indicador, em percentagem, que mostra quanto tem de pagar anualmente pelo ETF.
Esses custos saem diretamente do património do fundo, por isso pode nem se aperceber de que está a pagá-los. No entanto, ao fim de anos de investimento, fazem diferença na rentabilidade que vai obter.
Basta pensar que, num determinado ano, o seu património é de 10 mil euros. Se o TER for de 0,2%, paga 20 euros por ano. Se for 0,8%, paga 80.
Agora, imagine que mantém esse investimento durante 20 anos, com um retorno médio de 5% ao ano. À medida que o valor dos ativos vai aumentando, o peso do TER em euros também vai crescer. Vamos comparar os dois cenários, com TER diferentes:
Cenário 1: TER de 0,2%
- Retorno líquido: 4,8% ao ano
- Valor final ao fim de 20 anos = 25.491 euros
Cenário 2: TER de 0,8%
- Retorno líquido: 4,2% ao ano
- Valor final ao fim de 20 anos = 22.595 euros
Diferença total:
- 2.896 euros a menos com um TER de 0,8% comparado com 0,2%
Como vê, uma "pequena" diminuição dos custos de gestão pode significar um aumento significativo do dinheiro no seu bolso a longo prazo.
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A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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