Investimentos

Tarifas: Como resistir às oscilações do mercado?

A crise das tarifas levou a fortes quedas na bolsa, desde o início do ano. Como saber se deve vender ou manter as suas ações?

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Tarifas: Como resistir às oscilações do mercado?

A crise das tarifas levou a fortes quedas na bolsa, desde o início do ano. Como saber se deve vender ou manter as suas ações?

A incerteza sobre o futuro, depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, ter anunciado um novo pacote de tarifas, está pressionar o mercado acionista em todo o mundo. Se tem estes ativos em carteira, muito possivelmente os números na sua corretora estão a vermelho e está a perder dinheiro neste momento.

O que se está a passar nas bolsas?

Sell-off é o termo que descreve o que se passa. Em português, esta expressão significa uma corrida à venda de ações, o que faz descer os preços dos títulos e os pontos dos índices em que estão cotadas as empresas. Com muita oferta (ações à venda) e pouca procura (compradores), os preços descem inevitavelmente.

O mercado está preocupado - resta saber se de forma exagerada ou não, só o tempo o dirá - relativamente ao impacto das tarifas de Trump no desempenho da economia dos EUA e do globo. Esta preocupação já se reflete nas bolsas norte-americanas, que, desde o início do ano, registaram perdas percentuais na ordem dos dois dígitos. Entretanto, a maré vermelha alastrou-se a outras bolsas, incluindo a de Lisboa.

Afinal, se há algo que os velhos manuais de comércio internacional ensinam é que tarifas elevadas encarecem os bens importados, o que pode aumentar a inflação.

Além disso, a imposição de tarifas pode diminuir a procura internacional por produtos norte-americanos e, portanto, reduzir a receita que chega aos EUA. Ou seja, pode haver um abrandamento do crescimento económico.

Este medo já levou alguns especialistas a antecipar o pior. É o caso de Preston Caldwell, economista sénior da Morningstar nos EUA, que descreveu as tarifas como "uma catástrofe económica autoinfligida" que aumentou a probabilidade de uma recessão nos EUA em 2025 para um intervalo entre 40% e 50%.

Passado é otimista quanto ao futuro das ações

Mas o que fazer nestes momentos de incerteza? Há uma série de cenários possíveis, desde a potencial degradação económica, que pode vir a refletir-se negativamente nas ações, a um cenário de resiliência da economia (e dos mercados). Sem poder prever o futuro, resta ao investidor olhar para o passado e entender o impacto das tarifas nas ações.

No primeiro mandato, Donald Trump teve a mesma ideia, ainda que numa escala bem mais pequena. E, na altura, o mercado já tinha reagido de forma negativa às tarifas. A administração norte-americana anunciou taxas de 25% sobre 34 mil milhões de dólares em produtos chineses, o que levou Pequim a retaliar.

As ações acabaram por registar quebras expressivas. Em dezembro desse ano, o índice de referência mundial S&P 500 entrou em bear market, ou seja, perdeu 20% face ao pico alcançado anteriormente. No entanto, meses mais tarde, acabou por registar uma recuperação de quase 30% à boleia dos cortes de juros diretores por parte do banco central dos EUA.

Numa ótica a longo prazo, a História é ainda mais otimista e mostra que o mercado precisa de tempo, mas pode recuperar. Em 1930, deu-se a maior chicotada tarifária na economia norte-americana de todos os tempos. A lei Smoot–Hawley (batizada com os apelidos dos dois legisladores) acabou por subir as taxas sobre bens importados e aprofundou na economia e nas bolsas os efeitos da Grande Depressão. Anos mais tarde, as ações recuperaram.

Manter a cabeça fria é crucial

Numa perspetiva a longo prazo, o segredo pode passar por não entrar em pânico, desligar e esperar.

Lembre-se de todas as crises pelas quais o mundo e a bolsa já passaram. Apesar de todas estas crises, incluindo a de 2008, os três principais índices norte-americanos apresentam uma trajetória ascendente desde a sua fundação. O S&P 500 é o maior exemplo. 

É por esta razão, que face à pergunta "Devo vender as ações que detenho agora?", Mark Haefele, chief investment officer da UBS Global Wealth Management, diz "não", de forma perentória, numa nota enviada aos clientes da instituição suíça.

O especialista recorre aos dados de mercado e recorda que, "nos 12 momentos desde 1945 em que o S&P 500 caiu 20% em relação ao seu pico, o índice registou, em 67% destas vezes, retornos positivos no ano seguinte", com uma rendibilidade média de 12,9%.

É, aliás, com base nestes dados que existem estratégias de investimento como a dollar-cost averaging, que aconselha a investir regularmente, num montante específico, independentemente de os preços dos ativos subirem ou descerem.

Desde 1957, o S&P 500 deu aos investidores um retorno médio anual de mais de 10%. No entanto, este número conta apenas parte da história, já que, desde o boom do pós-guerra até à euforia atual relativamente à inteligência artificial, houve anos mornos, outros bastante positivos (como foi 2024, com uma escalada de dois dígitos) e outros de quedas substanciais. Assim, quem saiu a ganhar foi sobretudo o investidor a longo prazo, mesmo que isso possa ter implicado suportar quedas durante vários anos. 

Assim, como refletem estes números, "mesmo que o mercado possa descer ainda mais a
a curto prazo, os períodos de stress têm oferecido, histórica e consistentemente, recompensas a longo prazo para investidores que diversificam [as carteiras], que estão atentos à volatilidade a curto prazo e mantêm o rumo ou põem de novo o dinheiro a trabalhar", remata Mark Haefele na nota a que o Doutor Finanças teve acesso.

Desistir e vender de forma precipitada é uma reação comum, como mostra a Psicologia. Um século de investigação trouxe à tona que os investidores tendem sobretudo a tomar decisões com base em pontos de referência subjetivos, em vez de escolher objetivamente a melhor opção, seja por assumirem um excesso de confiança ou por manifestarem um temor exagerado relativamente às perdas, o que pode levar a vendas desenfreadas de ações em tempos de pânico.

Então, como saber se vendo ou ou não?

Como conseguir então o equilíbrio entre medo e confiança excessivos? Os especialistas contactados pelo Doutor Finanças apresentaram uma série de dicas, que vão desde o perfil de risco do investidor aos fundamentais da empresa, por outras palavras, contas e estratégia de negócio:

Mudança de fundamentais

Se a empresa perdeu a vantagem competitiva, enfrenta dificuldades estruturais ou a sua estratégia já não se alinha com as expectativas iniciais, pode fazer sentido a venda das ações.

Valorização excessiva

Se o mercado já incorporou expectativas menos realistas e a ação está muito acima do seu valor justo, pode ser prudente realizar ganhos antes de o mercado ajustar.

Deterioração do setor 

Uma ação pode permanecer sólida e robusta, mas, se o setor está em declínio estrutural (por exemplo, se adota uma tecnologia ultrapassada), pode ser adequado assumir o resultado da estratégia antes de que o impacto seja total.

Alteração no perfil de risco do investidor

Pode fazer sentido vender as ações se a sua situação pessoal ou os seus objetivos financeiros mudaram, seja porque a reforma está mais próxima ou porque passa a ter maior necessidade de liquidez face a uma dívida inesperada, por exemplo.

Reequilíbrio da carteira

Um título pode continuar a ser um excelente investimento, mas se assumiu elevada representatividade no portefólio, pode ser prudente reduzir para manter um equilíbrio de risco. Afinal, um dos segredos do investimento é a aposta na diversificação. Em vez de "pôr todos os ovos no mesmo cesto", não invista só numa ação, de forma a reduzir o risco. Deste modo, se uma cair, podem não afundar todas.

Assim, a decisão de vender ou manter ações deve ser uma decisão estratégica e não emocional, baseada em fundamentos e contexto de mercado. Lembre-se que, apesar de, a longo prazo, a história correr a favor das ações, a verdade é que estas podem permanecer em terreno negativo durante bastante tempo. O mais importante é que a sua carteira de investimentos esteja alinhada com os seus objetivos financeiros, horizonte temporal e perfil de risco.

Leia ainda: Dicas para enfrentar a turbulência nos mercados

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