Em 2024, o nível de conhecimento financeiro dos portugueses é inferior ao que os alemães demonstravam ter em 2009. Esta é uma das conclusões do estudo "O Bem-Estar Financeiro em Portugal: Uma Perspetiva Comportamental", desenvolvido pelo Doutor Finanças em parceria com a Laicos - Behavioural Change, num projeto que contou com a chancela científica da NOVA IMS e da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FPUL).
Desenvolvido com o objetivo de retratar cientificamente a realidade do bem-estar financeiro em Portugal, o relatório mostra que apenas 36% dos portugueses sabem responder corretamente a três questões sobre taxas de juro, inflação, e risco e diversificação nos investimentos.
Atrás da Alemanha... mas não só
Além da Alemanha, o nível de conhecimento financeiro em Portugal é também inferior ao dos Países Baixos em 2010 e igual ao da Finlândia em 2014. Para chegar a esta conclusão, os inquiridos foram desafiados a responder a três questões que costumam ser aplicadas em estudos sobre o tema.
1. Imagine que tinha 100€ na sua conta poupança, com uma taxa de juro de 2% por ano. Após 5 anos, quanto acha que terá na sua conta se não retirar dinheiro?
- Mais de 102€
- Exatamente 102€
- Menos de 102€
- Não sei
2. Imagine que a taxa de juro na sua conta poupança era de 1% ao ano e que a taxa de inflação era de 2% ao ano. Passado 1 ano, o que poderia comprar com esse dinheiro?
- Mais do que hoje
- Exatamente o mesmo
- Menos do que hoje
- Não sei
3. Normalmente, comprar uma ação de uma empresa trará um retorno mais seguro do que comprar uma ação de um fundo de investimento.
- Verdadeira
- Falsa
- Não sei
Para ter um bom nível de conhecimento financeiro é preciso acertar em todas as questões, algo que apenas 36% dos portugueses conseguiu, em 2024. Em comparação, 62% dos alemães responderam corretamente a estas perguntas, em 2009. Um ano depois, a percentagem de respostas certas nos Países Baixos foi de 45%.
O último país em relação ao qual há comparação é a Finlândia, que teve a mesma percentagem de acerto de Portugal, mas 10 anos antes, em 2014.
Neste estudo, de forma a garantir uma amostra demograficamente representativa de Portugal, foi utilizado o método de recolha de amostragem por quotas, habitualmente usado em sondagens de opinião em Portugal, utilizando os seguintes parâmetros para definir as quotas amostrais: Sexo, Idade, Zona Geográfica e Nível de Rendimento por Adulto Equivalente. O cálculo da amostra do estudo teve em conta um intervalo de confiança equivalente de 95%, com uma margem de erro de 3,5%.
Assim, em janeiro de 2024, foram recolhidas respostas de 800 pessoas entre os 18 e os 75 anos com naturalidade portuguesa e a residir em Portugal à data de participação do estudo.
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Juros é o tema que os portugueses dominam melhor
79% dos portugueses souberam responder à questão sobre juros, sendo este o tema que teve a maior percentagem de acerto. Do lado oposto está a pergunta sobre risco e diversificação nos investimentos, com 47% de respostas certas. Por fim, 75% dos inquiridos responderam corretamente à questão sobre inflação.
E se acima referimos que 36% das pessoas acertaram todas as perguntas, importa também olhar para o outro lado. De acordo com o estudo, 9% dos portugueses erraram as três questões do inquérito.
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Pessoas com rendimentos mais altos têm maior conhecimento financeiro
Quem tem um rendimento anual acima de 11.825 euros mostrou ter melhores conhecimentos financeiros do que quem se encontra abaixo deste patamar. Assim, 42% das pessoas com rendimento entre 11.825 euros e 17.092 euros responderam de forma correta às três perguntas. E se olharmos mais acima, vemos que a percentagem de respostas certas foi ainda maior entre quem tem rendimentos superiores a 17.092 euros: 47%. No estudo, foi considerado o conceito de rendimento equivalente, uma medida que tem em conta as diferenças na dimensão e composição dos agregados.
O estudo revela que aqueles com rendimento abaixo de 11.825 euros têm uma percentagem de acerto abaixo da média nacional.
Da mesma forma, são apontadas divergências na comparação por sexos e nível de escolaridade. Os homens acertaram mais do que as mulheres (46% contra 27%) e as pessoas que têm um curso superior mostraram um maior conhecimento do que as que concluíram apenas o ensino secundário (46% contra 29%).
Os autores do estudo consideram que estas diferenças são "um mecanismo de perpetuação cíclica de diferenças societais" e apontam para a importância de "uniformizar os níveis de conhecimento em diferentes grupos demográficos".
A única variável em que os grupos estão relativamente equilibrados é a idade, embora as pessoas entre os 35 e os 59 anos apresentem um nível de conhecimento ligeiramente superior às restantes.
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