A literacia financeira tem vindo a ganhar cada vez mais espaço mediático. De uma forma simples, todos percebemos a importância do assunto em questão. Tratando-se de um tema “aberto”, não existem fórmulas que nos permitam, de repente, dar um pouco de literacia financeira a todos os portugueses. Como tal, para que possamos evoluir neste tema, precisamos de tempo, de paciência, de investimento e de conseguir explicar às pessoas a importância que o desenvolvimento financeiro vai ter para cada um de nós e para a sociedade como um todo.
O que está em jogo é apenas querermos continuar a “andar de mãos dadas” com os países mais desenvolvidos, e não nos afastarmos do principal pelotão dos países com maior crescimento económico. No limite, para que possamos crescer e ganhar competências é necessário que exista vontade política e individual. À vontade política terá de se juntar a inteligência de investir numa área que não renderá frutos no imediato, mas que acrescentará muito no futuro. No que diz respeito a cada um de nós, a vontade individual resume-se a dedicarmos algum tempo a um tema que vai contribuir positivamente para as nossas vidas, em detrimento de outras coisas que não nos acrescentam muito.
Diagnóstico
É fundamental ter um diagnóstico para se criar um plano de ação. Ao longo dos últimos anos, temos acedido a inúmeros estudos de literacia financeira que demonstram não só a evolução que temos tido ao longo do tempo, como o lugar em que nos encontramos comparativamente com muitos outros países.
Recentemente, foi divulgado mais um ranking de literacia financeira na União Europeia. Com curiosidade, lá fui procurar em que lugar nos encontramos face à média europeia e face a todos os outros países que compõem a UE. A minha constatação não foi positiva. Este estudo mostra que somos o segundo pior país da União Europeia em literacia financeira. São dados muito preocupantes e que deviam obrigar-nos a redobrar a atenção no que diz respeito a este tema. Como gosto de olhar para o copo meio cheio e não meio vazio, a minha conclusão é que pior não poderíamos estar. Como tal, tudo o que fizermos irá ajudar a melhorar a literacia financeira em Portugal e irá trazer resultados positivos.
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Plano
Conhecido o diagnóstico, devemos passar a uma das fases mais complicadas, que tem a ver com a forma como criamos um plano de ação. Quando traçamos um plano devemos ter em conta onde queremos chegar. Neste caso, tratando-se de informação, será muito importante definirmos as diferentes formas para alcançar os objetivos. A melhoria dos conhecimentos financeiros irá ser feita em várias velocidades: a curto/médio prazo para as faixas etárias mais velhas e a longo prazo para as mais jovens. A abordagem também terá de ser diferente. Se queremos motivar e manter os mais jovens ligados a esta matéria, temos de encontrar formas de estar presentes no seu dia-a-dia. No caso das faixas etárias mais novas, a forma de abordar este tema terá de ser muito mais dinâmica e interativa. Para captarmos a atenção destes grupos etários, temos de ir ao encontro dos seus interesses. No caso de grupos etários mais velhos, a abordagem deverá ser diferente, talvez mais tradicional. O que é fundamental é perceber que o plano tem de ser criado e que não deve ter uma abordagem similar para toda a população. Para uma abordagem que se pretenda que tenha sucesso, devemos ter em atenção os diferentes grupos alvo.
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Ação
O diagnóstico e o plano são fundamentais porque nos dão uma visão abrangente das dificuldades que temos no capítulo de literacia financeira e porque nos permitem definir uma forma de as podermos melhorar.
Em termos concretos, uma evolução nas competências de literacia financeira, fará com que nos possamos tornar numa sociedade mais exigente, mais responsável, mais confiante e mais dona do seu próprio destino. Assim, o último passo fundamental é colocar o plano em ação. Para isso, e conforme mencionei no início do artigo, é necessário que exista vontade e ousadia política. Percebendo a dimensão e importância da literacia financeira no desenvolvimento de uma sociedade, para que o plano tenha sucesso, deverá ter a colaboração de todos. Quando refiro todos, estou a apontar não só para o Estado, mas também para as empresas.
O papel didático e o desenvolvimento social têm de ser partilhados. Assim, o Estado deverá ser o motor da literacia financeira e terá de conseguir colocar o tema na agenda nacional. Com o empenho de escolas, universidades, empresas e comunicação social, o plano a definir pode gerar os resultados pretendidos. Nesta fase, dentro do contexto da União Europeia, estamos numa posição de que não nos orgulhamos. O objetivo é alterar a tendência que se tem vindo a verificar nos últimos anos. A motivação não pode ser maior, porque a literacia financeira é fundamental para podermos ter maior controlo das nossas vidas e para podermos tomar decisões mais conscientes. Por fim, não posso deixar de destacar o papel que muitas empresas têm tido na divulgação de conteúdos que permitem que as pessoas fiquem mais esclarecidas. Se a vontade já existe do lado empresarial, só falta que o Estado acompanhe este movimento que veio para ficar.
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Apaixonado pelo desporto e economia, foi jogador profissional de Futebol, tendo atuado em clubes como S.L. Benfica, Estoril, entre outros. Conciliou a carreira desportiva com a académica, terminando a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (NOVA SBE). Continua ligado às suas duas paixões profissionais, desempenhando a função de Financial Advisor e colaborando como analista desportivo na CNN Portugal. Foi comentador residente no programa Jogo Económico do JE e Presidente do Conselho Fiscal da Federação Portuguesa de Footgolf. (FPFG). Participa com regularidade em eventos sobre Literacia Financeira.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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