O Ano Novo é uma época em que temos tendência a fazer uma retrospectiva do que se passou ao longo do ano passado. Muitas vezes refletimos sobre a nossa saúde, o nosso trabalho… mas quantos de nós, enquanto pais, param para pensar no seu percurso enquanto cuidadores? Há quem diga que ser pai ou mãe é instintivo. Pois bem: não é sempre assim. Há tanto a aprender e a refletir…
O convite desta crónica vai neste sentido. Olhar para dentro e perceber quem somos enquanto pais. Ter filhos é uma montanha russa de emoções: por vezes temos mesmo de fechar os olhos e confiar, outras vezes a vontade é só gritar de aflição, há medo de que tudo resvale… mas também há momentos em que os gritos, são de felicidade.
Se tivesse de se descrever enquanto pai ou mãe, o que diria? Tire alguns momentos para pensar sobre isto, não temos pressa nenhuma. O que surge? Não é hábito fazer este exercício, ou é?
Passamos muito do nosso tempo como pai e mãe em piloto automático: calçar os sapatos rápido, sair de casa a correr, dar banho, avançar com o jantar… De repente o dia acabou e muitas vezes sentimos que nem olhámos para os olhos uns dos outros. Para onde foi o tempo? Como o utilizamos?
Se esta é uma sensação recorrente, fica o convite para pensarmos em como podemos aproveitar melhor os dias apressados. Como podemos transformar as tarefas mundanas, de forma a que sejam um potencial momento de conexão? Talvez tornar algumas tarefas numa brincadeira: quem corta os legumes? Quem é o mais rápido a vestir a roupa? Um jantar de contadores de histórias?
Talvez esteja a ler e a pensar que é impossível: e às vezes vai ser. Mas se de vez em quando sentirmos que estamos mais conectados, já é ganho. Estas pequenas (grandes) mudanças não se fazem sozinhas… precisam de intenção. Precisamos de pensar sobre isto e de determinar em que momentos seria mais fácil, ou pelo menos menos difícil, integrar estas mudanças.
Será que daria para acordar quinze minutos mais cedo, para que a manhã não começasse com tanta pressa? Ou será que o jantar pode ser ligeiramente mais cedo, para sobrar mais tempo para a história ou para uma boa conversa? Ou até ligeiramente mais tarde, se isso significar integrar a criança ou jovem na sua confeção? Deixo muitas perguntas porque não há respostas certas: cada família terá as suas, que também serão diferentes consoante cada fase de vida.
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Mas tenho mais questões: que tipo de pais queremos ser? Há respostas que nos surgem automaticamente. Por vezes, conseguimos perceber se agimos corretamente ou não, mas na azáfama do quotidiano, podemos não fazê-lo tantas vezes quanto desejado. Será que nos conhecemos verdadeiramente enquanto pessoas e consequentemente, enquanto pais? Podemos tentar pensar como agimos quando os nossos filhos fazem uma birra daquelas… ou quando partilham connosco uma conquista sua.
Parando para olhar para trás, como respondemos? O que gostaríamos de lhes passar nesses momentos, ou pelo contrário, o que poderíamos não passar? É certo que não reagimos sempre da mesma forma, mas o Ser Humano tem tendência a repetir padrões, e certamente os encontrará. Digo sempre que a ideia não é mudá-los imediatamente (se forem potencialmente danosos), mas ganhar consciência dos mesmos: esse é o primeiro passo para a mudança.
Se na próxima vez que tenhamos uma atitude que não aprovamos, pensar sobre isso - perdoando-nos, se necessário - já é caminho. Se da próxima vez fizermos ligeiramente diferente, é ganho. Não vamos sempre conseguir gerir as nossas emoções: é esperado e normal.
Por último e não menos importante… Pensemos se os nossos filhos verdadeiramente nos conhecem. E nós a eles… Não me interpretem mal: os filhos não têm de conhecer tudo nos seus pais, assim como (preparemo-nos!), nunca saberemos tudo sobre os nossos filhos. Mas podemos refletir sobre que partes de nós gostaríamos de mostrar e não mostramos, e porquê. Aquele lado mais engraçado e extrovertido; ou aquele lado mais vulnerável, emocional e com demonstrações de afeto… É certo que temos determinados papéis consoante o contexto em que nos encontramos, e enquanto pais temos de ser mesmo isso: pais. No entanto, é muitas vezes na genuinidade que encontramos mais conexão.
Sei que posso parecer repetitiva neste aspeto, mas… este ano vamos oferecer tempo, porque esse não volta. Vamos treinar a capacidade de abrandar quando todos nos dizem para correr. Olhemos nos olhos.
Feliz Ano Novo!
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Psicóloga Clínica (C.P. 26342) de crianças e adolescentes no Instituto Belong. Experiência na dinamização de cursos de preparação para a natalidade e parentalidade. Membro fundador e dinamizador do Socializa.T, programa de promoção de competências sócio emocionais em crianças e adolescentes. A frequentar a Especialização Avançada em Psicoterapia no ISPA.
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