Contribuir para um mundo mais justo, inclusivo, saudável e sustentável, é dever dos governos, mas, também, do sector privado e de cada pessoa.
Pensar as finanças, sejam as finanças de um país, de uma empresa ou as nossas finanças pessoais deve incluir critérios de impacto social e ambiental, pois o modo como geramos e gerimos o nosso dinheiro tem o poder de influenciar a mudança e de criar impacto positivo.
A diferença entre sustentabilidade financeira e finanças sustentáveis
Apesar de parecidos os conceitos sustentabilidade financeira e finanças sustentáveis não têm o mesmo significado.
Sustentabilidade financeira é a organização e a capacidade de manter as nossas finanças estáveis e consistentes ao longo do tempo. É esta organização que nos ajuda a equilibrar o nosso orçamento financeiro (seja o de uma empresa ou o pessoal), que nos alerta e afasta de riscos financeiros (por exemplo de sobreendividamento ou de gastos excessivos) e, ainda, que nos permite, se possível, a tomada de decisões que nos levam ao nosso crescimento e/ou segurança económica (por exemplo através de investimentos, de contratação de seguros ou de Planos de Poupança Reforma – PPR).
Por seu lado, o conceito de finanças sustentáveis corresponde a um modo de olhar as finanças – como geramos e gerimos o nosso dinheiro, que tem em conta critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).
Numa perspetiva tradicional, seja em empresas seja no foro pessoal, o importante era obter o máximo de dinheiro possível. Neste contexto, procurávamos o mínimo de custos e o máximo de entrada de dinheiro, deixando para o Estado e até para o sector social, toda a responsabilidade de gestão dos problemas e impactos negativos ambientais e sociais.
Neste novo paradigma todos somos responsáveis. Ou seja, as finanças sustentáveis trazem-nos a oportunidade de criar valor social e ambiental, promover a inovação e o desenvolvimento sustentável, enquanto criamos valor económico. As nossas escolhas, passam, então, ter em conta critérios sociais, ambientais e de boa governação (ESG).
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As finanças sustentáveis são o modo como podemos ser agentes de mudança
Vivemos num momento de crises:
- De crise económica com inflação e custos de vida mais elevados;
- De crise social de identidade, de acentuação das desigualdades, de pobreza e de desafios demográficos com uma população cada vez mais envelhecida.
- De crise geopolítica, com guerras que destroem países, culturas, vidas e criam uma instabilidade social e económica a nível global.
- De crise ambiental, com os efeitos das alterações climáticas generalizados por todo o mundo, onde assistimos a localidades serem devastadas, vidas tiradas, casas e negócios destruídos, agricultura em risco.
E as crises são momentos decisivos. É nestes momentos onde, também, aparecem as grandes oportunidades de mudança de paradigma, de aceitação do outro e de corresponsabilidade para um mundo melhor.
Vivemos num momento em que é essencial perguntarmo-nos qual o papel que queremos ter. Se queremos ser passivos, fingir que nada disto está a acontecer ou empurrar para os governos e empresas a responsabilidade de resolverem todos estes desafios ou se queremos ter um papel ativo onde somos, também, agentes de mudança.
E as finanças sustentáveis, vêm trazer-nos a oportunidade de criar mudança através das nossas escolhas financeiras.
Agora importa, não só fazer dinheiro e gerir de modo seguro e lucrativo, mas também como crio dinheiro e como estou a geri-lo. Isto é, se ao criar dinheiro estou a criar, também, impacto positivo. Ou se onde estou a aplicar o meu dinheiro contribuo, também, para a criação de valor social e ambiental.
De um modo simples, devemos continuar a pensar nos mesmos critérios que tanto definem a sustentabilidade financeira: gerar, gastar, guardar e ganhar, mas acrescentando critérios que nos levam a ser agentes de criação de um mundo melhor – mais sustentável.
O modo como eu ganho dinheiro deve ter em conta critérios ESG. Por um lado, a escolha onde trabalho - se trabalho numa empresa responsável, com propósito, que respeita os direitos humanos e laborais, que cria impacto positivo e tenta diminuir o seu impacto negativo. E, por outro lado, o modo como eu trabalho – se sou exemplo de comportamentos sustentáveis, de aceitação do outro, de feedback positivo, de motivação à mudança e de comportamentos ecológicos.
E o modo como eu giro o meu dinheiro deve, igualmente, seguir os mesmos critérios. Tanto nas escolhas que faço em relação aos meus gastos – se opto por marcas e empresas social e ambientalmente responsáveis, se prefiro a compra de produtos locais que incentivam o crescimento da economia nacional, se penso antes de comprar, evitando os excessos de produtos que geram desperdício de recursos e materiais, se opto pela economia circular, como bens em segunda-mão, etc.
Mas não só. É importante que tenha estas questões em consideração nas escolhas sobre onde coloco o meu dinheiro – se escolho contas poupança ou PPR, que têm em conta critérios ambientais, sociais e de governança e/ou se opto por investimentos que têm estes mesmos critérios.
A ONU estima que o investimento global necessário para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas se situa entre os 5 e os 7 biliões de dólares anuais. Este investimento não é possível só com governos, é preciso a colaboração das empresas e até de cada um de nós.
Alcançarmos estes objetivos, que nos levam a um mundo mais justo, inclusivo, resiliente e sustentável é da responsabilidade de todas as pessoas, o mundo é de todos nós e todos devemos cuidar do mundo e da humanidade.
E é através deste olhar sobre as nossas finanças, através da opção de gerar e gerir o nosso dinheiro na perspetiva das finanças sustentáveis que podemos ser agentes de transformação. O modo como geramos e gerimos o nosso dinheiro tem impacto na mudança para um mundo melhor.
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