Os jovens que querem sair de casa e profissionais que trabalham remotamente podem considerar o co-living como uma solução. Saiba mais sobre esta tendência de alojamento que está a crescer em várias cidades europeias.
O que é o co-living?
O co-living caracteriza-se como uma nova forma de viver colectiva. São geralmente condomínios em que os residentes têm um espaço privado (um quarto, um estúdio) e espaços públicos para todos os residentes, como cozinhas totalmente equipadas, wi-fi, ginásio e um fórum para conviver e que pode receber eventos semanais.
O principal público-alvo destas habitações são jovens profissionais, trabalhadores expatriados, nómadas digitais e estudantes. As ofertas variam, desde estadias de apenas algumas semanas a vários meses, mais direcionadas para jovens estudantes ou casais à procura de uma primeira casa. O co-living pode ainda ser uma oportunidade para a população mais envelhecida que carece de cuidados de saúde continuados, ajudando a combater o isolamento.
Porquê co-living?
A tendência tem ganhado atenção de especialistas em investimento imobiliário por ser uma solução que resolve algumas questões relacionadas com o alojamento nas grandes cidades.
Segundo o INE, em 2017, 43% da população portuguesa residia em cidades. O maior número de pessoas nas cidades coloca pressão nas autarquias quanto à gestão de infraestruturas e à escassez de oferta de habitação acessível para as famílias. Cada vez mais pessoas procuram viver nos centros urbanos para estarem mais perto da oferta de ensino superior e ter mais oportunidades de emprego. O crescente número de pessoas a trabalhar no sector terciário também fixa as pessoas nas periferias das grandes cidades, já que a maioria das empresas têm escritórios nos centros urbanos.
Os jovens acabam por frequentar mais estes espaços por terem rendimentos mais baixos e não terem capacidade financeira para comprar uma casa tão cedo. As crises económicas e a taxa de desemprego jovem (que se fixou em 26,2% em julho de 2020) atrasa o momento de saída de casa dos pais, a compra da primeira casa, o casamento e a chegada de filhos. Além disso, é uma geração que valoriza a flexibilidade, a vivência de experiências e um consumo sustentável dos recursos do planeta.
Uma solução sustentável para as cidades
A partilha de habitação surge como uma resposta a estes problemas. É uma solução económica para jovens que querem sair de casa dos pais e manter-se próximos da cidade e promove a interação social e combate o isolamento social. É também uma solução que tem menos impacto a nível energético, que é um ponto a favor para os jovens que têm maior consciência ambiental.
Esta oferta também é atrativa para "nómadas digitais", profissionais que trabalham remotamente e podem ficar em diferentes cidades ao longo do ano. A flexibilidade da estadia em co-living é interessante para estes profissionais que valorizam ter um espaço de trabalho e um espaço para convívio profissional.
O co-living pode ser uma resposta à Covid-19?
A Covid-19 não parou o mercado imobiliário no primeiro semestre de 2020. No entanto, obrigou os países a repensar nas suas formas de viver. O confinamento, o distanciamento social e o teletrabalho passaram a ser comportamentos adotados por muitos residentes urbanos.
Uma das tendências do setor imobiliário foi o aumento da procura de casas com espaço para escritório e zona exterior, como terraço ou varandas amplas. O co-living é uma solução também adaptável a uma era de Covid-19 devido às suas valências. Os residentes têm o seu próprio quarto e há possibilidade de manter o distanciamento social quando necessário. Em alguns casos, viver num estúdio permite que não haja partilha de casas de banho ou de cozinhas. A disponibilidade de espaços de trabalho permite viver e trabalhar no mesmo sítio, sem ter de utilizar transportes para ir para um escritório. Além disso, é possível manter interações sociais através dos espaços de partilha, combatendo o isolamento e contribuindo para a saúde mental dos residentes.
Uma tendência na Europa e em Portugal?
Existem cada vez mais relatórios dedicados ao co-living. Um estudo da CBRE "Europe Co-Living: Key Trends and Key Cities" indica que a mudança de padrões de trabalho, o aumento do isolamento nas cidades e a emergência da economia de partilha mudou o pensamento das populações. As residências partilhadas aparecem como uma alternativa que está a ganhar destaque em cidades europeias como Amesterdão, Londres, Berlim, Madrid, Milão e Viena.
O estudo conclui que o investimento de mercado nesta solução é pouco maduro e que ainda existem poucas transações relevantes nas cidades estudadas. Contudo, é possível que o co-living venha a ter um crescimento semelhante a outras alternativas que têm aparecido, como o alojamento para estudantes ou condomínios com vários serviços. Acrescenta-se que não há legislação clara sobre este tipo de solução, pelo que o seu crescimento pode depender de uma legislação mais ou menos restritiva.
Já um relatório de 2019 da JLL em parceria com a JOYN estima que existam entre 16 e 18 mil camas em Lisboa e no Porto em regime co-living. As zonas que conseguem atrair mais residentes são Açores, Ericeira, Algarve e Costa da Caparica, bem como centro de Lisboa e centro do Porto.
O mesmo relatório mostra dados de um questionário realizado a 300 "nómadas digitais" e expatriados a viver em Lisboa. Conclui-se que mais de 50% dos inquiridos pretende ficar em Lisboa mais de um ano, 45% paga menos de 400€ por mês, 49% partilhava apartamento e 36% vivia sozinho. Apenas 9% vivia em apartamento Airbnb.
Estes dados são pouco conclusivos sobre se o co-living vai-se tornar uma tendência de alojamento para estudantes ou para jovens a sair de casa dos pais. Ainda assim, são dados que evidenciam que existem soluções em Portugal que podem ser exploradas.
O que ter em conta no co-living
Esta nova forma de residência pode ser uma alternativa à compra de primeira casa ou arrendamento tradicional. Existem alguns edifícios em Lisboa e no Porto que já seguem esta tipologia com valores a começar nos 400€ por mês, com todos os custos incluídos.
Para considerar o co-living como uma possibilidade de habitação há que ter em conta estes aspetos:
- O valor mensal a pagar e perceber se este se adequa à taxa de esforço. Pode haver soluções no mercado mais em conta.
- A duração do contrato de arrendamento. É uma boa solução para um primeiro ano, mas no longo prazo pode compensar arrendar ou comprar casa. Assim, faça as contas e compare preços.
- Se quer viver com outras pessoas. A verdade é que existem espaços privados, mas há serviços partilhados como a cozinha.
O co-living apresenta-se como mais uma solução a ser contemplada quando se fala em alojamento para jovens ou para pessoas que querem combater o isolamento. Ainda não existem muitas infraestruturas, mas se encontrar algo que lhe agrade, pese as vantagens e desvantagens e escolha a opção que fizer sentido para o seu orçamento familiar.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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