Para muitas famílias, receber um dinheiro extra é sinónimo de pôr contas em dia e aproveitar o verão numas boas férias longe de casa. O problema é que usar o reembolso do IRS ou o subsídio de férias na sua totalidade pode não ser a melhor decisão a longo prazo.
Defina objetivos para gastar
Se trabalhou o ano inteiro é normal que sinta que precisa mesmo de umas boas férias para descansar e recarregar energias. E deve fazê-lo, claro! Ainda para mais, porque o reembolso do IRS ajudou a equilibrar as contas. Porém, se está a ponderar usar uma parte desta folga extra para melhorar as suas finanças pessoais, vai precisar definir objetivos e prioridades, para rentabilizar ao máximo o que recebeu.
Imagine que a sua família tem crianças pequenas e dois adultos, trabalhadores por conta de outrem, que recebem o subsídio de férias por inteiro. Pode definir 60% desse valor para férias e os restantes 40% para melhorar a sua situação financeira. Mas caso tenha uma ou várias moratórias de crédito, cujo fim está previsto para setembro, e ainda não esteja numa situação financeira confortável, talvez a melhor solução seja reter o máximo de dinheiro possível, penalizando um pouco as suas férias este ano.
A mesma coisa para o reembolso do IRS: depois de estabelecer quanto pretende aplicar para melhorar a sua situação financeira, é hora de estabelecer prioridades. Por exemplo, gostava de diminuir o valor de uma dívida? Precisa de uma maior estabilidade caso aconteça um imprevisto? Está preocupado com algumas despesas que estão prestes a chegar? Quer rentabilizar esse valor através de investimentos? Conheça sete sugestões para aplicar estes "extra" e ficar com uma vida financeira melhor.
1 - Amortize e salde dívidas
Para quem tem dívidas ligadas à contratação de créditos pessoais (cartões de créditos, crédito automóvel, entre outros), a possibilidade de amortizar ou saldar este valor através do reembolso do IRS ou do subsídio de férias pode ser uma excelente opção para melhorar as suas finanças pessoais. Afinal, este tipo de encargo tem um impacto direto no orçamento familiar mensal. Imagine que consegue diminuir uma prestação mensal de um crédito para metade. Não só fica mais perto de conseguir pagar a sua dívida, como pode usar o valor mensal que agora lhe sobra para aplicar numa poupança ou até num investimento de baixo risco.
Já no caso de estar a pensar amortizar o valor do seu crédito habitação, avalie qual a melhor opção: amortizar e reduzir o prazo do contrato ou manter o prazo do contrato para poder ficar com uma prestação mais baixa.
Seja qual for a decisão, uma das questões que deve ter presente é que quando amortiza ou reembolsa um crédito que ainda não chegou ao fim poderá ter de pagar uma comissão por amortização antecipada. No caso do crédito habitação, esta comissão oscila entre os 0,5% do valor em dívida (quando a taxa de juro é variável) e os 2% (quando a taxa de juro é fixa) do capital reembolsado. Antes de tomar esta decisão consulte o documento complementar que está em anexo na sua escritura. O mesmo se pode aplicar a outro tipo de créditos.
2 - Aumente o fundo de emergência
Temos partilhado várias vezes a importância de criar um fundo de emergência para que consiga fazer face a despesas imprevistas ou a quebra de rendimentos. Afinal, este fundo não só evita a contratação de um crédito perante uma aflição financeira, como também lhe dá uma maior tranquilidade e estabilidade a longo prazo. Mas nem sempre é fácil alcançar este objetivo, uma vez que esta poupança deve atingir um valor elevado, que no mínimo cubra todas as suas despesas durante 6 meses. E por isso mesmo, usar parte do subsídio de férias ou do reembolso do IRS pode ser uma ótima estratégia para deixar as suas finanças pessoais mais saudáveis.
Claro que se ainda não tiver criado um fundo de emergência, este extra não chega para alcançar este objetivo. No entanto, se aplicar uma parte num fundo de emergência, e todos os meses transferir um determinado valor para lá, fica mais próximo de ter o seu pé de meia para cobrir imprevistos. Lembre-se que pode levar algum tempo até chegar ao valor pretendido, mas o mais importante é que este se torne uma prioridade.
Assim, use o subsídio de férias e/ou o reembolso do IRS como uma rampa de lançamento para este fundo de emergência e depois comprometa-se a fazendo engordar. Podem ser apenas 5 euros por mês, 10 euros ou 20 euros. O importante é que crie este hábito para aumentar a sua rede de segurança caso aconteça algum imprevisto
3 - Crie poupança para um propósito específico
No caso de a sua família não ter dívidas para amortizar/saldar e ter um fundo de emergência criado ou no bom caminho, pode ser interessante começar a pensar numa poupança que lhe permita dar o primeiro passo para alcançar um objetivo seu ou da sua família. Por exemplo, imagine que tem o sonho de abrir um negócio, gostava de ter assegurada a formação superior dos seus filhos ou amealhar para lhes comprar o primeiro carro. No meio de todas as despesas mensais e reforços no fundo de emergência, nem sempre é fácil criar uma poupança adicional para alcançar outro tipo de metas.
Claro que se não fizer reforços financeiros nessa poupança, apenas estará a minimizar o esforço financeiro que terá que fazer mais tarde. E se tiver este dinheiro parado numa conta à ordem, na maioria dos casos, pode ser prejudicial, pois se não tiver isenção de comissões bancárias, vai estar a perder dinheiro. Para evitar este tipo de situações, aconselhamos que procure uma solução mais vantajosa para si, que pode ser aplicar este valor num produto financeiro com capital garantido, que permita fazer reforços a longo prazo.
4 - Melhore a sua reforma
Com o passar dos anos, cada vez mais os portugueses têm consciência da importância de poupar para a idade da reforma, de forma a não chegarem a esta fase e perderem a sua qualidade de vida que tanto custou a alcançar.
E, caso ainda não tenha conseguido focar-se neste objetivo, pode agora começar, investindo parte do subsídio de férias e do reembolso do IRS num Plano de Poupança Reforma (PPR), por exemplo. Mas não se esqueça que estamos a falar de uma poupança a longo prazo, e por isso mesmo, quanto mais cedo começar a poupar regularmente, mais dinheiro vai amealhar.
Contudo, é muito importante que antes de dar este passo, se informe sobre os diferentes tipos de PPR que existem no mercado, pois existem riscos e objetivos diferentes.
Ler mais: PPR e os benefícios fiscais
5 - Guarde para cobrir despesas futuras mais elevadas
Não é novidade que em muitos agregados familiares existe alguma dificuldade para pagar certas despesas anuais de valor mais elevado. Por exemplo, quem tem seguros anuais, como o seguro do carro, pagamentos de impostos, como o IMI, ou até o próprio regresso às aulas dos filhos, que se traduz em diversos encargos financeiros. Independentemente do tipo de despesa que estamos a falar, o reembolso do IRS ou o subsídio de férias são ótimas formas de o fazer sem colocar o seu orçamento familiar em risco.
Esta sugestão aplica-se também a despesas, que mesmo que não sejam anuais, podem estar em "stand by" por falta de dinheiro. Por exemplo, caso o seu filho precise de um aparelho dentário ou algum membro da família necessite de realizar algum procedimento médico ou ainda se queria apostar na sua formação, mas ainda não tinha tido margem financeira para o fazer.
6 - Aposte na eficiência energética
Quando somos proprietários de um imóvel, estamos na posse de um ativo que pode valorizar ou desvalorizar com o passar dos anos. No entanto, há melhorias que podemos fazer, seja a pensar numa futura venda ou, mais importante no imediato, trazer mais conforto e poupanças para si e para a sua família.
Por exemplo, se apostar na eficiência energética, para além de estar a valorizar a sua casa e a poupar dinheiro na conta de eletricidade, por exemplo, pode ainda ir buscar 85% do investimento que fez, através do Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis, que termina a 30 de novembro. As intervenções incluem janelas mais eficientes, instalação de um sistema de ar-condicionado, uma caldeira ou painéis solares. O concurso tem 30 milhões de euros para financiar intervenções que também incluem a eficiência no consumo de água.
Leia mais: Obras em casa? Há novos apoios à eficiência energética
7 - Invista
Embora tenha ficado para último, investir o seu subsídio de férias ou reembolso de IRS pode ser uma ótima estratégia para melhorar as suas finanças a longo prazo. Atualmente existem inúmeros produtos financeiros onde pode aplicar o seu dinheiro, com diferentes tipos de risco e rendibilidade, consoante o seu perfil de investidor. No caso dos Certificados de Aforro do Estado, por exemplo, não há qualquer risco em aplicar o dinheiro, é um produto de capitalização que rende juros. Mas tem uma panóplia de soluções à sua disposição.
Avalie o que existe entre as ofertas de depósitos. Possivelmente as taxas de juros são muito baixas ou mesmo nulas, mas procure antes de decidir. E avalie se não consegue aumentar as taxas de depósitos fora de Portugal. Se encontrar soluções atrativas dentro da União Europeia os depósitos continuam a estar protegidos em até 100 mil euros por depositante por instituição.
Além destas soluções tem ainda os seguros de capitalização, que são parecidos com os depósitos, mas não têm a tal proteção dos 100 mil euros, e são subscritos através de seguradoras. E ainda outras opções mais arriscadas, como os fundos de investimentos, as ações ou as obrigações. Opções não faltam.
Por fim, não se esqueça que não existe uma verdade absoluta de como usar este dinheiro extra para melhorar as suas finanças pessoais, sem uma análise minuciosa à sua situação individual. Por isso, aconselhamos que reflita um pouco sobre a sua situação atual, de forma a identificar as suas prioridades e as soluções mais urgentes para a sua família.
A informação que consta no artigo não é vinculativa e não invalida a leitura integral de documentos que suportem a matéria em causa.
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